17/07/2015 às 05h00
Por Cibelle Bouças | De São Paulo
Depois de cinco anos de crescimento acelerado, entre 2007 e 2012, a Cia. Hering começou a viver dificuldades para manter o ritmo de expansão. A companhia registrou queda de vendas em 11 dos últimos 13 trimestres, fechando o período de janeiro a março deste ano com retração de 1,8%. O lucro líquido saiu de R$ 81,6 milhões no primeiro trimestre de 2012, para R$ 35,9 milhões no primeiro trimestre deste ano. O valor da empresa baseado no preço da ações negociadas em bolsa caiu de R$ 6,896 bilhões em 2012 para R$ 2,062 bilhões até ontem, segundo o Valor Data. Fabio Hering, presidente da Hering, diz que a empresa vive um momento de transição e deve mostrar resultados mais consistentes no prazo de dois anos. A empresa opera com 641 lojas, com as marcas Hering, Hering For You, Dzarm, PUC e Hering Kids. A seguir, os principais trechos da entrevista: Valor: Comentase que a Hering seria alvo de aquisição, devido ao valor baixo das ações. Há negociações nesse sentido? Fabio Hering: Parte da companhia é comprada e vendida todos os dias na bolsa. A família, que tem entre 25% a 30% do capital e é o maior acionista individual, não tem interesse nenhum em vender. Pelo contrário. Estou falando não como CEO da companhia, mas como parte de um grupo de acionistas. Em relação a isso, Coronation é um fundo com uma participação muito representativa. É muito improvável alguém fazer uma aquisição muito relevante, olhando simplesmente o preço da ação hoje. Valor: A Tarpon Investimentos tem interesse na compra? Hering: A Tarpon é um parceiro muito antigo nosso, já foi um grande acionista aqui por muitos anos, e saiu há dois ou três anos. Mesmo depois de ter saído é um grupo com o qual estamos sempre em contato. Além disso, outros investidores sempre nos procuram, querendo acompanhar a companhia. Se existe algo de concreto acontecendo, a resposta clara e objetiva é não. Se vai existir no futuro, eu não sei. Valor: A família Hering tem planos de aumentar a participação? Hering: Não posso responder diretamente. A família não tem nenhum interesse nesse momento em sair e vender. Valor: A companhia fez uma recompra de ações recentemente. A empresa tem planos de fazer uma nova recompra? Hering: O plano de recompra foi criado em julho do ano passado, para até 5 milhões de ações. A companhia exerceu a compra. Na próxima reunião do conselho será avaliado se a empresa reabre a recompra de ações ou não. Valor: Como o senhor avalia as críticas sobre a demora da empresa em retomar o crescimento? Hering: Nesse momento, a companhia atravessa um momento mais crítico porque estamos em um momento de transição. Vivemos um ciclo de crescimento muito forte, o mais forte do setor, e paramos de crescer. Estamos criando e desenvolvendo um novo ciclo de crescimento. Estamos muito tranquilos em relação às perspectivas da companhia olhando horizontes de mais trimestres, não olhando o trimestre em curso, ou o próximo. Valor: E quando a Hering começa a entregar esse crescimento? Hering: Com as mudanças que temos colocado em prática, pelas evoluções, em um horizonte de dois anos vamos ver a companhia retomar o ciclo de crescimento. Em síntese, o fim de 2015 e 2016 serão anos importantes para dar início a esse novo ciclo. Valor: O cenário macroeconômico não dá sinais de recuperação neste ano. Isso não atrapalha os planos da companhia? Hering: A conjuntura, a crise, a queda na demanda são obstáculos que a gente enxerga. Mas através da nossa plataforma de marcas, da rede de canais de distribuição, acredito que temos um modelo de negócios muito adequado a esse momento no Brasil. A empresa tem um modelo leve em ativos que traz um retorno sobre o investimento muito positivo. A crise traz muito desafio, mas traz oportunidade extra, à medida que marcas fortes e com capilaridade de distribuição podem ganhar participação de mercado com a saída de outras marcas do mercado. Valor: A Hering tem obtido esse ganho de mercado? Hering: Estamos começando a sentir isso. Me refiro mais à nossa própria análise histórica. Uma empresa de 135 anos já passou por muitas crises. É lógico que o passado não significa uma realidade para o futuro, é apenas uma experiência. Mas, por todos os indicativos que temos, acredito que se criará esse tipo de oportunidade. Além disso, a companhia começou a construir em 2012 um novo modelo de estrutura organizacional, de forma a criar e desenvolver outras marcas. No mercado infantil, criamos a rede Hering Kids. Em maio do ano passado, criamos a Hering For You, exclusivamente feminina. Inauguramos as duas primeiras lojas no ano passado. Uma terceira loja será inaugurada no próximo mês em São Paulo. A intenção é depois fazer um projeto de franquia para a marca. Temos um novo plano de negócios para a marca Dzarm, que hoje atua exclusivamente no canal multimarcas. Pretendemos também abrir uma rede de lojas. Estamos no caminho para criar um novo ciclo para a companhia. Acredito muito em transformar a Hering em uma companhia multimarcas, que pode até partir para alguma aquisição. Valor: Há alguma marca que a empresa avalia comprar agora? Hering: Aquisição é algo que a empresa está sempre olhando. Não quer dizer que a empresa obrigatoriamente tenha que fazêla. Mas em um mercado altamente fragmentado há inúmeras marcas com redes de lojas. Valor: Em relação às marcas existentes, o desempenho está de acordo com o planejado? Hering: A Hering For You começou no ano passado em lojas multimarcas. Em setembro, criamos uma loja piloto no Shopping Morumbi. A segunda loja piloto foi aberta no Shopping Center Norte, em dezembro. Essas lojas não têm um ano de vida. Os resultados delas estão dentro das nossas expectativas, até um pouco acima. Vamos inaugurar a terceira loja em algumas semanas, em agosto, também em São Paulo. E temos outra loja piloto prevista para este semestre. A intenção é, a partir do segundo semestre do ano que vem, começar um plano de franquia com a Hering For You. Valor: E a marca Dzarm? Hering: Reformulamos o plano de negócio da Dzarm, para focar no público feminino. Lançamos a primeira coleção neste inverno, no canal multimarcas. Tivemos bastante sucesso no desempenho desse canal. O plano para o segundo semestre é inaugurar duas lojas pilotos da marca. A extensão para franquias provavelmente acontecerá em 2017 Valor: Haverá alguma mudança nas redes infantis? Hering: Temos um projeto arquitetônico novo para a rede Hering Kids e para a rede PUC. A maioria das lojas está com o projeto desatualizado. Mas o desempenho das lojas está dentro das expectativas. Valor: O modelo de lojas da Hering também será reformulado? Hering: Temos um projeto de loja que está sendo implantado desde o ano passado. Temos entre 10% e 15% da rede com esse projeto novo. Temos reforma de lojas em andamento. A companhia tem inclusive oferecido alguns incentivos para que os franqueados invistam nessa reforma. Valor: Em relação às marcas atuais, considera favorável a expansão por meio de franquias? Hering: No primeiro trimestre, o desempenho foi melhor em loja própria, mas o desempenho de franquias foi bem polarizado. Há franquias desempenhando muito positivamente e outras desempenhando pior. Algumas ações na melhoria do abastecimento foram colocadas em prática para melhora da gestão. Valor: Que tipos de ações? Hering: A companhia tem um projeto novo de abastecimento, baseado no tamanho das lojas, no perfil de giro e na geografia. Isso está sendo feito agora, para a coleção de verão, que chega às lojas no fim do ano. É um primeiro passo, tem muita coisa ainda a ser explorada e a ser feita.
Valor Econômico – SP