A contração da economia brasileira tem sido “muito maior” do que se esperava, criando um “ambiente desafiador” para o cumprimento das metas de superávit primário, disse ontem Alejandro Werner, diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele observou, porém, que houve “um ganho significativo de credibilidade nos últimos seis meses”, devido à percepção do compromisso do governo com o esforço fiscal. A equipe econômica persegue hoje metas de superávit primário equivalente a 1,1% do PIB para este ano e de 2% do PIB para o ano que vem. Nos 12 meses até maio, porém, o setor público consolidado registrou um déficit primário de 0,68% do PIB, indicando que o alvo para 2015 não deverá será atingido. Oficialmente, o governo não fala ainda em mudança na meta, mas essa opção tem sido cogitada.
“Nós acompanhamos a situação e reconhecemos esse ambiente, mas é importante que os mercados e os agentes reconhecem o compromisso do governo com a sustentabilidade fiscal de médio prazo”, disse Werner.
O diretor do FMI observou que a situação fiscal no Brasil se “deteriorou severamente” nos últimos anos, com o país tendo em 2014 o seu primeiro déficit primário, de 0,6% do PIB, em muito tempo. “Em consequência, a reação da atual administração foi estabelecer um programa muito estrito para voltar a uma trajetória sustentável para as finanças públicas”, disse ele, ressaltando que o Fundo considera esse como o caminho correto.
“Obviamente a situação atual, em que a contração da economia brasileira é muito maior do que a esperada, gera um ambiente desafiador para atingir essas metas”, afirmou Werner, ressaltando, porém, que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem se mostrado “totalmente comprometido em alcançá-las e tem trabalhado para isso. Com isso, houve uma melhora na credibilidade em relação à questão fiscal no primeiro semestre, ainda que o cumprimento da meta esteja mais difícil.
Na semana passada, o FMI revisou a estimativa para o PIB brasileiro em 2015, passando a projetar uma retração de 1,5% – em abril, a previsão era de uma queda de 1%. Para 2016, o Fundo espera um crescimento de 0,7%, abaixo do 1% esperado anteriormente.
Em texto divulgado ontem, Werner diz que o recuo do PIB esperado para este ano é reflexo da queda significativa do investimento privado e do declínio moderado do consumo, devido à perda de confiança por causa de fatores internos – sem especificar quais.
Werner nota que o PIB brasileiro teve uma contração nos primeiros três meses do ano – de 0,2% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. “Dados preliminares do segundo trimestre indicam uma nova deterioração, inclusive no mercado de trabalho”, escreve ele, observando, porém, que a inflação se mantém “incomodamente alta”.
Em entrevista na semana passada, o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, disse que a recessão no Brasil se explica pela combinação de baixa confiança de empresários e consumidores e do impacto negativo das medidas de ajuste fiscal e da alta de juros sobre a demanda no curto prazo. Segundo ele, o aperto fiscal e o monetário estão na direção certa e deverão ajudar a melhorar a confiança na economia ao longo do tempo, mas num primeiro momento afetam a atividade econômica.
Valor Econômico – SP