05/07/2015
THAIS BILENKY
DE NOVA YORK
Corrupção, impostos, burocracia, recessão.
A lista de preocupações ocupou boa parte das conversas dos potenciais investidores americanos com a presidente Dilma Rousseff e os ministros que viajaram aos EUA na semana passada.
Representantes de grupos de peso como Coca-Cola, Walmart e Citibank estiveram nos encontros, capitaneados, quando não por Dilma, por Nelson Barbosa (Planejamento), Joaquim Levy (Fazenda) ou Armando Monteiro (Desenvolvimento).
O governo veio preparado. Nas diversas agendas que organizou para vender seu pacote de concessão de infraestrutura, que soma R$ 198,4 bilhões, a equipe argumentou que conta com um novo ciclo de crescimento da economia brasileira a partir do ano que vem como resultado do ajuste fiscal.
Dilma disse que quer o Brasil “com economia mais aberta e competitiva” e que a burocracia brasileira é “infernal”, segundo participantes de uma reunião fechada com banqueiros e investidores. De acordo com eles, a presidente e sua equipe econômica estavam “em sintonia, pareciam ensaiados”.
A presidente explicou as mudanças de rumo na política econômica brasileira ao grupo reunido no hotel St Regis, em Nova York, na manhã de segunda (29). Foi pouco interrompida por perguntas, no encontro que durou pouco mais de uma hora. E se antecipou ao dar explicações para questionamentos previsíveis como escândalos de corrupção envolvendo empreiteiras e a crise na Petrobras.
“Isso gera algumas perguntas [dos investidores]. Mas tenho certeza de que, colocando projetos viáveis e atrativos, não faltará agente do mercado capaz de realizá-los”, argumentou Barbosa na quinta (2), depois da última rodada de conversas com americanos em Nova York.
Mas o que a sétima economia do mundo precisa fazer para ser mais que apenas o nono parceiro comercial dos EUA? A Folha fez a pergunta a alguns dos participantes das conversas desta semana.
As respostas, reproduzidas nesta página, podem ser resumidas por mais uma lista, desta vez de soluções: transparência, previsibilidade, infraestrutura, qualificação.
“Se as regras do jogo são claras, vai-se poder ver progresso em todo lugar”, diz Carl Meacham, diretor do CSIS (centro para estratégias & estudos internacionais), que já esteve no Piauí e em Pernambuco, além de Brasília, Rio e São Paulo.
O QUE O BRASIL PRECISA
AMBIENTE DE NEGÓCIOS
“Fomos encorajados por algumas das reformas que estão sendo realizadas no Brasil. A presidente Dilma Rousseff também falou sobre o que está sendo feito para assegurar que seja simples conduzir negócios no país”
DAVID CHEESWRIGHT presidente do Walmart
FUTURO PROMISSOR
“Temos escritório em São Paulo, contratamos funcionários brasileiros, fazemos ao menos nove eventos nas principais cidades do país. Estamos construindo nossa marca e o Brasil tem sido um ótimo mercado, porque temos ótimos atletas. Se Anderson Silva ou Vitor Belfort vencem, isso faz a minha vida bem mais fácil. A recessão é uma preocupação, com certeza. Mas há estabilidade, e o futuro parece promissor”
LORENZO FERTITTA presidente do UFC
LIBERDADE PARA O SETOR PRIVADO
“Hoje só se pagam impostos, impostos e impostos para fazer negócios no Brasil. Isso é um grande problema. O governo brasileiro deveria estabelecer um marco para o comércio entre os dois países, e o setor privado deve correr livre para investir no que quiser e fazer o produto que quiser, trabalhando às vezes com os brasileiros, às vezes não”
CARL MEACHAM diretor do CSIS (Centro para Estratégias e Estudos Internacionais)
OTIMISMO NO PAÍS
“O que mais tem atingido nosso negócio no Brasil é a seca nos últimos três anos. Temos feito diversos planos para reduzir os efeitos e enfrentar o problema. Somos investidores de longo prazo no Brasil, investimos R$ 12 bilhões desde 1997 e temos planos de investir potencialmente mais. Continuamos otimistas”
ANDRÉS GLUSKI presidente do grupo AES, que administra a AES Eletropaulo
INVESTIMENTO EM INOVAÇÃO
“O que falamos para empresas e administradores brasileiros é a importância de encorajar o investimento em inovação. Nos EUA, você tem investimento privado na área, as pessoas conseguem fazer dinheiro com isso, em parte porque têm certeza de que se respeita o direito de propriedade intelectual. Seria fundamental ter um financiamento do Instituto Nacional da Propriedade Industrial [órgão do Ministério do Desenvolvimento que concede marcas e patentes]”
WILLIAM MORLEY presidente da consultoria Altrius
Folha de S. Paulo – SP