03/07/2015 às 05h00
Por Assis Moreira | De Paris
Abilio Diniz, um dos maiores empresários do Brasil, vê no pais um pessimismo excessivo sobre a economia e, mesmo achando esse estado de espírito até certo ponto ”natural e compreensível”, diz que o setor privado precisa investir mais para reativar a atividade. ”Muitos empreendedores falam de crise, de teimosia do governo, mas temos que fazer nossa parte”, disse Diniz, em um seminário sobre economia brasileira, realizado em Paris. “O Brasil é maior e mais forte do que governo. Os governos passam, o Brasil vai adiante”. Para o empresário, ”o mais importante para crescimento é investimento do setor privado e do governo”. Exibindo um quadro com as cifras de aumento da dívida pública líquida entre 20102014, disse que não se deve gastar acima da capacidade, e é necessário um efetivo controle no gastos públicos para o governo ter superávit e conseguir investir. Em entrevista ao Valor, o empresário sinalizou que, de seu lado, vem tendo resultados. “Não é que sou vaidoso, mas tenho dois exemplos”, citando empresas onde detém participação importante através de sua holding Península. Informou que a BRF cresceu 8%, em toneladas, nos seis primeiros meses do ano e o Carrefour expandiu as vendas em 7%. ”Tem queda de consumo no Brasil, mas falei no início do ano que o mercado ia ser difícil, só que isso vai ser ruim para a concorrência, porque vamos avançar”, disse. Diniz não tem expectativa de “melhora grande” da economia no segundo semestre, mas acredita no resultado dos ajustes para o ano que vem. ”O ajuste dói, mas é rito de passagem”, afirmou na entrevista ao Valor. Pouco antes, tinha relatado a participantes do seminário que, em uma conversa com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o alertara sobre a mudança na orientação da economia. “Eu já disse para ele tomar cuidado. Se você vem voando de Keynes e passa para Chicago, a aterrissagem pode ter turbulências”, afirmou. “Não é fácil essa mudança, mas Levy e sua equipe estão fazendo o ajuste”. O empresário apontou a inflação como sua maior preocupação. “‘A inflação, no meu caso, com o que já vivi, preocupa muito. Mas com a taxa de juros não estão brincando, está no lugar”, disse. “Por enquanto (o governo) tem que ir onde tiver que ir para derrubar a inflação”. Com a participação na BRF, o empresário diz que está descobrindo um novo Brasil, em referência ao agronegócio. ”A missão do Brasil é alimentar o mundo”, afirmou. Relatou modernização na produção de frango e suínos, e “no oceano” de soja e milho em algumas regiões do país, citando um ”Brasil que dá certo”. Disse que no interior falou com muitas pessoas e que para elas não há crise. “Dizem que querem trabalhar e a única coisa que pedem é para o governo não se meter”. No seminário, Diniz observou que o Brasil está habituado a superar crises, que tem instituições políticas e econômicas fortes, e conclamou os participantes a investir no Brasil. Observou que, com a desvalorização do real, o Brasil se tornou muito barato. Mencionou investimento do fundo soberano de Cingapura na sua holding Península investimento, portanto, na área de consumo. ”A população no Brasil é capaz de consumir. Todo mundo busca o Brasil em razão do mercado interno”, afirmou. No seminário organizado pela revista britânica “The Economist”, três pontos se destacaram: primeiro, ajuste e reformas são diferentes. O ajuste é importante, mas é preciso ir adiante em reformas estruturais. Segundo ponto: custo Brasil é um tema que se repete, mas é a pura realidade um participante contou que a produção de Nescafé pela Nestlé no Brasil custa 30% a mais do que na China. E terceiro, o Brasil é uma oportunidade para investir, por estar mais barato no momento e pelo potencial de longo prazo.
Valor Econômico – SP