12/06/2015 Erica Ribeiro Consórcio Gateway, que tem David Neeleman e Humberto Pedrosa, do Grupo Barraqueiro, leva também empresa de manutenção no Brasil O consórcio Gateway, formado pela DGN Corporation, do empresário David Neeleman, dono da Azul Linhas Aéreas, e pela HPGB, de Humberto Pedrosa, dono do grupo português de transporte Barraqueiro, desbancou a proposta de German Efromovich e venceu a disputa pela aquisição de 61% da companhia aérea portuguesa TAP, conforme antecipou na quinta-feira o Brasil Econômico. A informação foi confirmada ontem pelo Conselho de Ministros de Portugal. De acordo com o secretário de Estado dos Transportes de Portugal, Sérgio Monteiro, a proposta cumpre as regras exigidas pela União Europeia, que terá que dar o sinal verde para a operação. Uma das exigências da UE é que uma empresa não pode ter 50% do controle nas mãos de um não europeu, o que deverá colocar Neeleman como minoritário no consórcio mas, nem por isso, menos importante, uma vez que, segundo fontes do mercado, por ser um profissional ligado ao mercado de aviação, será o responsável por cuidar do crescimento da companhia na Europa e em outros mercados. Pela negociação, dos 39% restantes do capital da TAP, 5% podem ficar nas mãos dos trabalhadores da companhia e 34% com o governo. Os trabalhadores, no entanto, não ficaram satisfeitos com o resultado e classificaram a opção do governo por privatizar a aérea como puramente política. Os vencedores se comprometem a injetar imediatamente 10 milhões na companhia e outros 340 milhões ao longo do tempo, além de fechar a compra de 53 novos aviões para a frota da companhia. Hoje, a TAP tem uma dívida estimada em 1,2 bilhão. É com enorme satisfação que recebemos a notícia do Estado Português de que a nossa visão para o futuro da TAP foi a escolhida. Mais importante que a vitória é a responsabilidade. A responsabilidade de corresponder às expectativas criadas a todos os envolvidos, desde o estado aos colaboradores e, principalmente, os portugueses, que tanto sentimento têm pela TAP. O nosso compromisso de crescimento e investimento na TAP e em Portugal é, a partir de hoje, a nossa prioridade, informam, em nota, Neeleman e Pedrosa. No Brasil, a equipe da Azul Linhas Aéreas divulgou nota parabenizando seu principal executivo pela vitória, também com o objetivo de reforçar que a companhia brasileira não tem participação direta neste processo. A Azul Linhas Aéreas Brasileiras parabeniza seu fundador e CEO, David Neeleman, por vencer o processo de privatização da TAP. A companhia acredita que essa aquisição será uma oportunidade muito boa para o Brasil, uma vez que Portugal é a principal entrada dos brasileiros para a Europa e vice-versa, com aproximadamente 1,8 milhão de pessoas por mês que viajam por esta rota, sendo a maioria à lazer. E a TAP é líder nesse mercado e fundamental para atender a essa demanda. Desejamos sucesso a ele e ao seu grupo de investidores neste novo desafio, diz a nota. A preferência por Neeleman para fazer parte da gestão da estatal, que ainda terá uma parte do negócio nas mãos do governo, já era dada como certa por fontes do setor, pelo perfil do empresário no mercado de aviação. O negócio também inclui a TAP Engenharia e Manutenção, no Brasil, que tem hangares no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, em áreas que antes eram parte do patrimônio da extinta Varig. E, para fontes do setor, as sinergias entre a TAP e a Azul Linhas Aéreas no mercado brasileiro serão significativas. Pelo lado da TAP, ela, de fato, precisava de um sócio privado para sobreviver e não se transformar em um zumbi. E, como o Brasil é um importante hub para a empresa, certamente sinergias acontecerão com a Azul Linhas Aéreas. Uma delas na própria área de manutenção, já que, hoje, a Azul é cliente da TAP no Brasil para manutenção de suas aeronaves e pensava em construir um centro de manutenção próprio, em Campinas. A TAP Manutenção tem conseguido gerar caixa e, mesmo não sendo 100% competitiva, é um diferencial. Poucas empresas são donas de centros de manutenção, diz a fonte. A parceria com a Azul vai também aumentar a capilaridade da TAP no país, sobretudo no interior do Brasil. O acordo de code-share, diz a fonte, não dependerá necessariamente da entrada da aérea brasileira na Star Alliance, da qual a TAP é membro. Outras sinergias deverão acontecer entre as duas empresas, diz a fonte. Além da empresa de manutenção, os novos donos da TAP levam também a aérea Portugália que, em meados de 2007, foi integrada ao Grupo TAP e deixou de atuar no mercado regional para se tornar provedora de capacidade de voo, com o aluguel de suas 14 aeronaves à TAP. A aquisição da Portugália criou um hub da empresa na cidade do Porto. O processo de privatização da TAP foi iniciado no final do ano passado, quando a situação da empresa se agravou, com perdas de 85 milhões. Uma tentativa anterior, no final de 2012, acabou não sendo bem sucedida e envolvia naquela época apenas o nome de German Efromovich que, segundo o governo português, não apresentou as garantias necessárias para a aquisição da empresa. Atual presidente da TAP, o engenheiro Fernando Pinto, que está no cargo desde outubro de 2000, enviou ontem carta aos funcionários da TAP, enfatizando que a data ficará na história da companhia, pois marca o termo do período de quatro décadas em que a empresa foi exclusivamente detida pelo Estado, assinalando, em simultâneo, o início de um novo ciclo na sua atividade. No comunicado aos empregados, Pinto destacou que a escolha do consórcio Gateway garante a ligação a um grupo importante de investidores com larga experiência no negócio da aviação comercial, bem como a um grupo português de grande relevo e solidez na área dos transportes, diz a nota. Ele destacou a necessidade de um investidor externo para a continuidade da companhia em um mercado cada vez mais competitivo. No mundo atual, e no quadro de forte exigência e competitividade da nossa indústria, seria cada vez mais difícil a TAP continuar a expandir-se e ir mais além do que conseguiu fazer nos últimos 15 anos devido aos atuais constrangimentos de meios financeiros e de recursos. Entraremos agora num período de transição que será para todos nós um grande desafio e que exigirá enorme esforço e empenho da nossa parte até se concretizar a entrada em pleno do novo detentor da maioria do capital da empresa, o que ocorrerá dentro de algum tempo, conclui a nota. Tanto a assessoria da TAP e do consórcio Gateway não informaram se Fernando Pinto permanecerá no cargo.
Brasil Econômico – SP