05/06/2015 às 05h00
Por Adriana Mattos | De São Paulo
Numa decisão inesperada, o grupo holandês Makro demitiu na segunda feira o seu presidente no Brasil, David Poussier, além de dois outros diretores do primeiro escalão da companhia, como antecipou na quartafeira o Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor. Quem reassumiu a função nesta semana foi o antigo CEO, Roger Laughlin que deixou o cargo em fevereiro para a entrada de Poussier. Os diretores de inteligência comercial e da área comercial de alimentos também foram dispensados. Um consultor da área logística, que ocuparia função de diretor, também teve contrato cancelado. Foi uma decisão tomada após Poussier entregar para o comando da SHV, controladora do grupo, na semana passada, o plano de negócios, com orçamento e projeções da subsidiária para este ano. Poussier foi transferido da operação do Peru ao Brasil, em setembro, como parte do plano de interromper o modelo antigo de expansão da rede, considerado insustentável a longo prazo pela matriz. Nesse modelo são feitas grandes compras de produtos da indústria, com alta formação de estoque inicial. A receita é feita com a venda desse estoque a preços competitivos. Quando o volume estocado volta a cair, um novo lote é negociado. É um formato que tem vida curta, em parte, porque a indústria evita contratos desse tipo por causa da alta instabilidade. Pelo lado da atacadista, se a venda não ocorre, a loja faz provisões para ajustar o estoque não vendido, com efeito negativo dessa baixa contábil. Entre 2010 e 2014, na gestão de Laughlin que é muito próximo da família Fentener van Vlissingen, controladora do Makro , a estratégia foi mantida porque gerou aumento de receita e lucro por alguns anos. Mas entre 2013 e 2014, esse modelo mostrou sinais de fadiga. A provisão para ajuste de estoque no Makro pulou de R$ 4 milhões em 2012 para R$ 12,3 milhões em 2013 e essa perda afetou o lucro líquido, que encolheu de quase R$ 50 milhões em 2012 para R$ 23,8 milhões em 2013. Em 2014, a provisão teria afetado o lucro novamente, apurou o Valor. A troca de Laughlin por Poussier começou a ser desenhada em meados de 2014. A partir de setembro, os dois executivos começaram a trabalhar juntos. Com o novo presidente no cargo em fevereiro de 2015, foi decidido focar a operação no atacado e deixar de lado o formato “atacarejo”. Nos últimos anos, a empresa vinha testando o modelo misto de atacado e varejo, na tentativa de aproveitar o bom momento do “atacarejo”. O plano de Poussier para este ano, além de colocar todas as fichas no atacado, previa desaceleração na receita líquida e lucro menor. Isso, como reflexo do fim da estratégia de ampliar a estocagem. Na reunião com os controladores da SHV, na semana passada, Poussier apresentou esta previsão de resultados mais fracos para o ano, por causa da transição do modelo de operação. O Valor apurou que a proposta e os números não agradaram. Dias depois, os sócios da SHV informaram os executivos do desligamento. “O Makro é uma rede que tenta achar seu caminho no país, mas até agora não o encontrou”, disse uma fonte. A SHV, após vender a operação da Tailândia em 2013, estaria buscando melhores resultados em outros mercados emergentes para entregar retorno aos acionistas. Procurado, o Makro confirmou as demissões e informou que as mudanças não alteram o seu compromisso com o país.
Valor Econômico – SP