03/06/2015 ARTURO BRIS e JOSÉ CABALLERO – São, respectivamente, diretor e pesquisador sênior do Centro de Competitividade Mundial do IMD Pesquisas demonstram uma forte correlação entre a competitividade de um país e a qualidade de vida de seus cidadãos. Pode parecer óbvio que quanto mais um país ou empresa investe no desenvolvimento de pessoas, maiores as chances que esse profissional terá de crescer e fazer uma contribuição econômica significativa beneficiando a todos. Mas, só porque algo parece óbvio, isso não significa que é completamente compreendido e muito menos que ele seja cumprido. Melhorar a qualidade de vida requer a maximização dos benefícios das atividades econômicas. As empresas podem fazer isso investindo em talentos e dando incentivos para que seus funcionários façam uma contribuição criativa. Aquelas que se preocupam com o bem-estar de sua força de trabalho são mais propensas a atingir a criação de valor sustentável: geram produtos, serviços e práticas lucrativas, que beneficiam a comunidade. Na prática, a despesa pública determina significativamente a qualidade do sistema de ensino e consequentemente o desenvolvimento de talentos. Por exemplo, as despesas podem reduzir o quociente professor-aluno e permitir que as escolas atendam melhor às necessidades individuais dos alunos. Governos podem influenciar no estabelecimento de métodos de aprendizagem, que aumentam a oferta de mão de obra qualificada e também promovem o desenvolvimento de capital humano. As empresas também podem contribuir aqui. Treinamentos também são importantes para promover o desenvolvimento e ampliar a motivação de colaboradores. Esses cursos permitem maior atração e retenção de pessoas, que por sua vez aumentam o quadro de talentos necessários para satisfazer as necessidades estratégicas da organização. Outra área onde as políticas governamentais e práticas empresariais podem se combinar para ampliar a qualidade de vida, e consequentemente a competitividade, é na dinâmica da força de trabalho. Práticas governamentais podem influenciar na inclusão. Um bom exemplo seria políticas que buscam ampliar a equidade de gênero encorajando líderes mulheres a participarem em atividades político-sociais. Aqui não é preciso olhar além da representação feminina nas câmaras, que tende a ser muito baixa. Outras áreas incluem a promoção da igualdade na educação e no trabalho. O setor privado pode contribuir aumentando participação das mulheres nas atividades econômicas de maior valor. A igualdade no ambiente de trabalho aumenta a competitividade do mercado local, ampliando e melhorando a qualidade do quadro de talentos disponíveis para atender às demandas da economia, além de aumentar a diversidade de habilidades disponíveis. Isso também pode se somar à produtividade, porque a motivação dos colaboradores aumenta com o declínio das desigualdades. Políticas e práticas empresariais podem se unir para gerar melhoras na qualidade de vida, que por sua vez amplia o nível de talento disponível no mercado, aumentando a competitividade. Mas é bom lembrar que essa dinâmica está em constante fluxo. O que nós entendemos como alta qualidade de vida hoje pode não ser o mesmo entendido há 10 anos ou daqui a 10 anos. O quadro analítico para a competitividade precisa ser constantemente revisto para manter-se atualizado.
Brasil Econômico – SP