02/05/2015 18h40
Crise faz mais de 30% dos consumidores chamarem vizinhos e amigos para terem desconto em compras grandes. Aperto reduz também venda de supérfluos, mostra pesquisa, e faz paulistano ficar mais dentro de casa.
“Conheci o atacado quando ia viajar com a galera. Passávamos lá para fazer compra de grande quantidade. Levando mais, os preços ficam melhores. Mas, só para mim, com família pequena, não consigo o volume necessário”, diz a auxiliar administrativa Thaís Valentim.
Na noite de quinta-feira (30), véspera de feriado, o programa foi um convite à amiga Andrea Maqueia e à tia Arlete Calefi para fazer a compra do mês no distribuidor. E depois rachar a conta.
“Mudei faz pouco tempo, por causa de preço. É bom para comprar carne e frios. Depois, quem tem mais tempo corta as peças e divide”, afirma Maqueia, ao contar que sua primeira visita com a turma ao atacarejo foi um passeio no feriado de Carnaval.
“Trazemos as crianças e vira festa. O pacotão fechado de salsicha sai R$ 20. O pequeno é R$ 10. Se divide o grande em três casas, compensa”, diz Valentim.
Depois de começar a racionar as compras, buscar embalagens promocionais e marcas mais baratas, mudanças já identificadas no comportamento do consumidor desde 2014, ele agora introduz novos hábitos na rotina.
De acordo com pesquisa feita com 3.500 pessoas no fim de março pelo instituto Data Popular, 32% dos consumidores de classe C que fizeram compras nos 30 dias anteriores ao levantamento foram a lojas de atacado ou distribuidores com amigos ou vizinhos para economizar na compra coletiva.
“Esse costume de fazer compras junto para obter preço mais barato sempre existiu na classe média e é típico de tempos de maior aperto. Mas o patamar atual é muito alto”, diz Renato Meirelles, presidente do Data Popular.
Pesquisas de 2010, coletadas em amostra de regiões metropolitanas, mostravam que só 12% dos entrevistados recorriam à compra coletiva.
MEDO DA INFLAÇÃO
Em tempos de crise, a ordem é cortar. Ainda segundo o Data Popular, quase 50% dos consumidores dizem que deixam de comprar algum tipo de bebida alcoólica quando o orçamento aperta. Outro hábito evitado por 44% é a aquisição de roupas.
“Geralmente ocorre a troca da bebida mais cara, como cerveja, por cachaça”, diz ele.
Segundo relatório do instituto Nielsen, que audita 50 milhões de lares, 64% dos brasileiros dizem que, para poupar, reduziram o lazer fora do lar em 2014.
Para Rodrigo Mariano, economista da Apas (associação de supermercados), a queda nas idas a cinema, teatro, restaurantes e passeios em geral fez o consumidor se voltar para dentro de casa.
“Ele deixa de ir ao bar, mas compra cerveja e queijos no mercado para consumir em casa. O gasto com alimentação fora do lar caiu 13% em 2014”, diz Mariano.
A Nielsen mensurou queda de 4,7% no número de visitas aos mercados com alta do tíquete médio em 5,6% a cada visita, ou seja, as compras estão mais planejadas.
O hábito de estocar é típico de momentos inflacionários. Pesquisa do instituto aponta também que a inflação saiu do 10º lugar em 2012 para 2º lugar em 2014 no ranking de principais preocupações do brasileiro.
Folha de S. Paulo on-line – SP