19/04/2015 Rolf Kuntz ENVIADO ESPECIAL/WASHINGTON O ministro da Fazenda, JoaquimLevy, confirmounoFundo Monetário Internacional (FMI) duas grandes mudanças na política brasileira. Primeiro, o governo está comprometido com um programa de ajustes e de reformas para aumentar capacidade produtiva.Éo fim das medidas contracíclicas dos últimosseisanos. Emsegundolugar, o ministro brasileiro deixa de ser o batedor de bumbo das forças do Sul contra o Norte, no conflito imaginado pela diplomacia petista. Duranteanosessepapel foiexercido pelo antecessor Guido Mantega,nuncaporumrepresentante indiano, russo, chinês ou sul-africano. Aprimeiramudançafoi explicitada palavra por palavra.Asegunda foi evidenciada pelo tom e pelo estilo da declaração preparada para a reunião, na manhãdeontem, doComitêInternacional Monetário e Financeiro (IMFC). O comitê estabelece a cada seis meses linhas de açãoparaoFundo,normalmentearticuladascomaagendapropostapeladiretora- gerente,Christine Lagarde. A meta do governo em 2015, um ano de transição, é arrumar as contas públicas para estabilizar e finalmente reduzir a proporçãoentreadívidaeoProduto Interno Bruto (PIB), disse o ministro da Fazenda. Mas a retomada do crescimento dependerá também de medidas paramelhoraroambientedenegócios, aumentaraprodutividade e corrigir a sinalização dos preços para estimular o crescimento, acrescentou O programa inclui a revisão das isenções fiscais e medidas paradinamizaromercadodecapitais e promover investimentos na infraestrutura, explicou. Oprograma exigirá a participação do Congresso e deverá preservar os ganhos sociais da última década e oferecer inclusão socialpormeiodenovasoportunidades. Aumentar a capacidade produtiva foi arecomendaçãomais ampla dos economistas e dirigentes do FMI nas discussões e pronunciamentos da semana. Muitos países perderam potencial de crescimento na última década, alguns desde antes da crise de 2008, segundo relatórios divulgados nos últimos dias. A pior fase da crise passou e as economias mais atingidas estão em recuperação, mas faltam condições para crescer mais e criar empregos mais velozmente. O mundo está arriscado a cair em uma nova mediocridade, expressão lançada pela diretora-gerente do Fundo. Pela nova estimativa do FMI, o potencial do crescimentodoBrasil está hoje reduzido a 2,5% ao ano, mas por alguns anos o País ainda crescerá menos que isso. Problemas. A advertência vale para o Brasil, segundo as analises do FMI e de outras instituições internacionais, e o ministroLevy, emseupronunciamento, mostrapreocupaçãocomesse risco. Sua declaração aponta problemas externos. A esperada elevação de juros nos EUA poderá provocar instabilidade e especulação nos mercados financeiros, umperigoreconhecido por analistas de rodo omundo. Mas o ministro passa longe, emsua declaração, de atribuir o fraco desempenho econômico do Brasil a fatores externos. Amaior parte dos pronunciamentos preparados para a reunião do comitê aponta o sinais de recuperação nos países desenvolvidos, menciona o firme avanço da economia americana e reconhece a perda de vigor dosemergentes-nocasodaChina, como consequência de um programa de ajuste e de alteração do modelo iniciado há algunsanospelogoverno. Opresidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, apresentou umaavaliaçãootimistadasperspectivas na zona do euro. O secretário do Tesouro dos EstadosUnidos,JackLew,falou sobre a recuperação americana e cobrou dos superavitários, principalmenteAlemanhaeChina, maior ênfase no consumo e menor dependência das exportações. Em outras palavras, importemmaisbenseserviçosproduzidos nos Estados Unidos. O ministrodadFinançasdaAlemanha, Wolfgang Schauble, reconheceuasboasnotíciasdomundo rico, mas continuou cobrando, como em outros encontros internacionais, maior esforço de todos para arrumar as contas públicas e controlar o endividamento dos governos. O diretor-geral da Organização Geral do Trabalho, Guy Rider, foi o mais sombrio, reclamandode todos maior esforço e crescimentopara criaçãodeempregos evalorizaçãodos salários emtodo omundo. Se as tendênciasatuaisforemmantidas, onúmerodevagasfechadascomacrise poderá passar de 60 milhões para 80 milhões em 2019, Aqueles 60 milhões são a diferença, para menos, entre o número de postos de trabalho previsto para 2014, com base na tendência anterior à crise, e o total estimado nas condições reais. O emprego global, segundo Rydeer, cresceu a uma taxa anual média de 1,7% entre 1991 e 2007. A partir daí o ritmo diminuiu para 1,2%. Com crise, brasileiro volta a migrar em busca de trabalho Fernando Nakagawa CORRESPONDENTE / LONDRES A crise econômica parece despertar novos planos em parte dos brasileiros. O fenômeno aindanãoestáexplícitonasestatísticas, masempregadoreseentidadesnaInglaterra enoJapão dizem que cresce o interesse em migrar do Brasil para esses países.Aindaincipiente,omovimento tem semelhanças com o fluxo para o exterior visto até meados da década passada. Entre as autoridades, o serviço consular japonês reconhece que a demanda pelos vistos de trabalho aumentou no Brasil. NaperiferianoroestedeLondres, o goiano Ercylio Oliveira tem uma pequena loja de motos. Aberta em 2010, a Omega Bikes sentiu de longe os ciclos econômicos brasileiros. No ano da inauguração, o Brasil cresceuquase8%eeraosímbolo do otimismo global. Isso foi suficienteparalevardezenasde motoboys brasileiros até Ercylio. Todos queriam vender suas motos para retornar à terra natal. Hoje, é o contrário e recebo cada vez mais gente querendo comprar motos para trabalhar. Pelo menos 50 brasileiros que venderam suas motos entre 2010 e 2013 para voltar ao Brasil retornaram à Inglaterra desde o fim de 2014 para tentar a vida de novo aqui. Há algumas semanas, Oliveira publicou em uma rede social um aviso de alguns empregos para motoboys em Londres. Em português, o anúncio era voltado aos brasileiros que, segundoalgumasestimativas, dominam 70% do mercado de entregas rápidas na cidade. Com oscompartilhamentosnainternet, a oferta cruzou o Atlântico e chegou ao Brasil. Resultado: o telefone não parou de tocar e foram quase 100 ligações em apenas um dia de interessados em migrar. Nunca tinha visto nada parecido. O fenômeno não se restringe aos motoboys, diz Carlos Mellinger, presidente da Casa do Brasil, uma entidade que ajuda imigrantes em Londres. Há um número crescente de pessoas chegando para tentar a vida aqui. A crise econômica tem piorado as condições de trabalho e as perspectivas para a mão de obra não qualificada noBrasil. Isso faznascerointeresse em migrar. Esse desejo é potencializado com a taxa de câmbio porque o real fraco faz o salário em libras ser ainda mais atrativo. A Casa do Brasil identifica quatro grandes áreas que têm atraído os brasileiros em Londres: construção civil, restaurantes, serviços de limpeza e motoboys. Ao contrário de outros países europeus, como Espanha e Portugal, a Inglaterra passa por um bom momento econômico. Em 2014, o Reino Unido foi o país que mais cresceuentreassetemaioreseconomias do mundo, o G-7, e a trajetória de crescimento tende a continuar em 2015. Japão. História semelhante é vista no Japão. Em meio a um esforço do governo Shinzo Abe paraaceleraraeconomia,aatividade começa a reagir e fábricas buscam cada vez mais mão de obra. A notícia desperta o interesse de descendentes de japoneses e o consulado geral do Japão em São Paulo reconhece queháligeiroaumentonaprocura por vistos de trabalho. MarlonMiyazatoécoordenador da Itiban, uma agência de empregos especializada no Japão com sede em Maringá, no interiordoParaná.Eledemonstra surpresa com omovimento recente. O fluxo aumentou muito desde o fim de 2014. As pessoasnosprocuramporque a situação aqui não está muito boa esabemque as fábricas voltaram a contratar, diz. Recentemente uma empresa japonesacontatouaagênciaparanaense com 200 vagas disponíveis. Isso era impensável há pouco tempo. Em 2009 e 2010, não existiam vagas e muita gente foi forçadaavoltardoJapão. Atualmente, a agência paranaensejámandacercade50brasileiros com emprego garantidotodomêsparaoJapão. Entre 2009e 2012, onúmero de clientesfoizeroemváriosmeses. Isso fez com que muitas agências de emprego como a nossa quebrassem. EmNagoya, uma das cidades com mais brasileiros no Japão, Felipe Enomoto é gerente da agência de empregos Nikkei Amu. A empresa sempre foi especializada na recolocação de brasileirosque jávivemnopaís. Mas a situação começou a mudar. Começamosasercontatados por pessoas que já viveram no Japão e voltaram ao Brasil. Agora, parte desse pessoal quer retornar ao Japão. Quase todo dia recebo ligações do Brasil. Se já conheço o candidato e ele tem todos os documentos, é relativamente fácil conseguir uma vaga. Na Inglaterra ou no Japão, a históriapor trásdeparte desses imigrantes que voltam a tentar avidanoexterioréparecida.O sonho de todo mundo é ficar um tempo no exterior, juntar um dinheirinho e voltar para o Brasil para comprar uma casa e abrir um negócio, diz Ercylio Oliveira, dono da loja de motos emLondres.Oproblemaéque é difícil se ter sucesso em um negócio próprio. Diria que metadedessanovalevadedecasséguis é de gente que abriu uma loja ou um restaurante e não deu certo. Com a crise ou falta de tino comercial, o negócio deuerradoeodinheirosimplesmente acabou, diz Miyazato Imigração está no debate eleitoral inglês Amigração é umdos principais temas do debate na campanha para as próximas eleições geraisdoReinoUnido. Atualmente, oassuntodividecomaeducação o posto de terceiro item maispreocupanteparaosbritânicos. Nesse cenário, as ações para reduzir a migração compõem a principal bandeira do partido que está em terceiro naspesquisaseleitorais,oPartidoIndependentedoReinoUnido (Ukip, na sigla em inglês). Em 31 de março, lideranças do Ukip fizeram festa para lançar a campanha publicitária para as eleições de 7 de maio. O eventofoimarcadopelodescerramento de um grande painel comtrêsgrandesescadasrolantes que levam ao alto deumpenhasco. Otexto: A imigração é três vezes maiorqueoprometido pelo governo conservador. Ukip, o único partido confiável para reduzir a imigração. O tema parece ser apetitoso para o debate eleitoral. Pesquisa do instituto Ipsos Mori realizadaemmarçomostraqueaimigração é considerada um tema muito importante para 25% dos britânicos. O grau de preocupação é idêntico ao atribuído àeducação.Alistadaspreocupaçõesélideradapelasaúde( 38%) e economia (31%). A preocupação com o tema crescediantedoaumentodachegada de cada vez mais estrangeiros à ilha. Nos 12 meses até setembro de 2014, o número de estrangeiros no Reino Unido aumentou em 298 mil. Ou seja, a entrada de imigrantes superou a saídaemquase 300 mil pessoas.
O Estado de S. Paulo – SP