16/04/2015 às 05h00
Por Vicky Bloch
“Aquele que tem um porquê para viver consegue suportar quase qualquer como”. A frase do filósofo Nietzsche, da qual gosto muito, foi complementada pelos gurus da administração Dave e Wendy Ulrich no livro “Por que trabalhamos”, publicado no Brasil em 2011: “aquele que tem um porquê para trabalhar também consegue suportar qualquer como”.
Isso vale para qualquer âmbito das nossas vidas. Precisamos encontrar significado naquilo que fazemos. Mas no trabalho, especialmente, não faz sentido investirmos parte tão grande do nosso tempo e da nossa energia se não houver um propósito. Afinal, é nesse espaço que o homem depositou a possibilidade de ter um papel que o diferencie na sociedade, dando significado para a vida.
Os Ulrich defendem a tese de que a busca de significado agrega valor de duas formas: o ser humano, quando dá significado a uma experiência, pode transformar o desastre em oportunidade, a perda em esperança, o fracasso em aprendizado. Independentemente da circunstância externa, ele pode viver uma experiência plena e encontrar nela motivação para continuar a contribuir.
A outra forma é que o trabalho com significado gera maiores resultados porque resolve problemas, contribui com benefícios reais e, portanto, agrega valor real para consumidores e investidores. As pessoas que encontram significado no trabalho produzem com o prazer de quem está contribuindo para o bem-estar social. Tem orgulho em ver seus esforços transformados em produtos ou serviços que trazem esse bem-estar social.
Não apenas os Ulrich, mas outros estudiosos da administração na atualidade vão além do comportamento humano quando falam de significado: eles mostram que os líderes que investem tempo em criar esse significado geram maiores resultados financeiros para as organizações.
Segundo os especialistas que defendem essa corrente, as empresas cujos líderes encontram esses propósitos são mais lucrativas e suas equipes apresentam mais fortemente características como criatividade, resiliência, determinação, paixão, desenvoltura e desempenho.
E aí sim, estamos falando a linguagem universal. Que empresário ou executivo irá discordar de algo que torna sua empresa mais lucrativa sem destruir as pessoas?
Eu volto sempre a esse tema porque os avanços ainda acontecem lentamente neste campo. Continuo me perguntando: o que nos tem impedido de encontrar o significado do trabalho? Ou, talvez, o que será que tem nos impedido de exercitar nosso mais profundo significado de vida e de trabalho?
Esse é um ponto central em minhas conversas com executivos.
Posso dizer que tenho o privilégio de ouvir relatos de líderes que têm se questionado constantemente sobre como transformar as horas de trabalho em experiências significativas. Eles querem voltar a ter a percepção de que esse tempo dispendido no ambiente organizacional faz alguma diferença para a sociedade. Além disso, demonstram ainda uma genuína busca por serem felizes no trabalho e encontrarem o equilíbrio que tanto se almeja entre vida profissional e pessoal.
Claro que não é fácil encontrar essa resposta. Ainda mais em um tempo como este em que vivemos, que nos obriga ser mais do que multitarefas. Mas fico feliz cada vez que encontro profissionais dispostos a correr atrás desse propósito e dessa felicidade.
Alguns têm resolvido essa equação buscando ambientes mais acolhedores, onde o exercício do significado é acolhido e torna possível a criatividade, a aplicação das competências e o exercício da liderança sustentável.
De fato, o que impede esses profissionais de exercitar a liderança sustentável é o ambiente sem emoção, competitivo, do resultado a qualquer custo, sem lealdade e compromisso com uma causa. Isso, de certa forma, restringe e embota quem quer ir a fundo nas experiências, proclamar sua causa e ter um protagonismo organizacional e social.
Já desponta na geração do milênio a vontade de achar caminhos novos de contribuição. Além de parceiros que rezem pela mesma causa em um mundo de relações mais transparentes e verdadeiras.
Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados
Valor Econômico – SP