12/03/2015 às 05h00
Por Marina Falcão | Do Recife
Uma economia com perspectiva de recessão obriga as empresas a, mais do que nunca, prestarem atenção nos seus processos internos. Controle de custos, governança e gestão de pessoas foram os temas mais abordados pelos líderes empresariais que falaram ontem para um público de 450 pessoas que participaram da Maratona Valor PME, no Recife. “Quando o mercado não cresce, às vezes você pode crescer dentro do próprio negócio”, afirmou Luiz Carlos Batista, presidente do conselho de administração da Máquina de Vendas (Insinuante, Ricardo Eletro, City Lar, Salfer e Eletroshopping), durante palestra no evento, pela primeira vez realizado no Nordeste. Segundo Batista, no caso da Máquina de Vendas há sinergias provenientes das aquisições dos últimos anos que ainda não foram capturadas, representando oportunidade para diluição de custos fixos. Com faturamento de R$ 10 bilhões, o grupo projeta um crescimento entre 5% e 6% acima da inflação neste ano. Hoje, com 1.050 lojas, a Máquina de Vendas planeja abrir entre 12 e 15 novas unidades em 2015. “Nosso foco maior em investimentos nesse ano será na operação de internet”, disse Batista. De acordo com o empresário, a operação online do grupo, que hoje representa cerca de 20% das suas vendas, deve crescer cerca de 20% em relação ao ano passado. O empresário João Carlos Paes Mendonça, presidente do grupo pernambucano JCPM, resumiu o atual momento da economia brasileira como “uma tempestadezinha mais ou menos completa”. Dono de participação em 13 shoppings centers (a maior parte delas majoritária), Mendonça disse acreditar que o comércio deve enfrentar em 2015 o seu pior cenário: a falta de dinheiro no bolso do consumidor. Em tom irônico, afirmou: “Vamos precisar muito dos empreendedores para enfrentar essa beleza de economia que temos hoje.” Para Mendonça, o bom empreendedor deve ser austero nos gastos e intolerante com o desperdício. Guilherme Paulus, fundador e presidente do conselho de administração da operadora de turismo CVC, disse que o setor enfrentará neste ano uma queda no poder aquisitivo da classe C. “Vamos procurar melhorar os custos e obter melhores negociações com fornecedores”, afirmou o empresário. No entanto, a situação não é considerada tão grave porque o setor conta com a possibilidade de adequar a sua oferta às possibilidades de pagamento dos consumidores. “O casal pode não ter como ir agora para o Chile, mas pode ir para Porto de Galinhas (PE). Enquanto uns choram, outros vendem lenço. E eu espero vender bastante lenço”, afirmou Paulus. Marcelo Alecrim, presidente da Ale Combustíveis quarta maior distribuidora de combustíveis do país, com quase R$ 12 bilhões em faturamento , também disse acreditar que o momento econômico conturbado pode trazer oportunidades. Ele lembra que, em 2008, após a quebra do Lehman Brothers, o grupo conseguiu adquirir a rede de postos Repsol. A Ale Combustíveis se originou a partir da fusão da SAT, do Rio Grande do Norte, com a Ale, de Minas Gerais, em 2006. Na opinião de Alecrim, o maior desafio para os novos empresários é “ligar” o futuro do seus funcionários ao futuro da empresa. “A maior dificuldade é transmitir o seu DNA para os seus trabalhadores”, afirmou para um público de pequenos e médios empreendedores. Para lidar com esse desafio, Alecrim contou que a companhia adotou um plano de stock options, mesmo sendo de capital fechado. “É a algema de ouro para fazer o funcionário permanecer na empresa”, disse. Desde 2004, a gestora de private equity Darby é sócia da Ale. Alecrim afirmou que o empresário no Brasil precisa buscar mais participação das decisões do governo. “Temos um sócio, que é o governo. No caso de combustíveis, ele fica com 44% das nossas vendas. Mas as decisões estão sendo tomadas sem a gente saber”, afirmou o empresário. Para Alecrim, o varejo tem hoje um papel muito importante na economia e precisa ser ouvido na tomada de decisões. Segundo o empresário, por intermédio do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), presidido pela empresária Luiza Helena Trajano (dona da rede Magazine Luiza), o segmento tem buscado diálogo com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “Se o empresário não crescer, o governo não vai arrecadar”, disse.
Valor Econômico – SP