06/03/2015
Rosenildo Gomes Ferreira
A placa Vende-se não está afixada na fachada do prédio de nº 151, na rua Coronel Luis Barros, no bairro de Santo Amaro, na Zona Sul da cidade de São Paulo. Mas nem é necessário. Afinal, no mundo da moda já não é segredo que os controladores da Inbrands pretendem passar adiante a holding que reúne sete empresas e 11 marcas, capitaneadas por Ellus, Richards e Bob Store. No acumulado janeiro-setembro de 2014, este portfólio gerou uma receita líquida de R$ 671,7 milhões. A medida é consensual e é resultado da vontade do financista Gilberto Sayão da Silva, sócio do fundo Vinci Partners, de sair da Inbrands, conglomerado de moda idealizado por ele em 2008, com a aquisição da Ellus.
No entanto, de acordo com fontes do mercado, tudo está sendo feito com calma e com a participação ativa dos sócios Nelson Alvarenga Filho e Américo Rodrigues Breia, criadores da Ellus, que fixaram o preço em R$ 1,5 bilhão para a totalidade das ações. Silva e a dupla possuem 39,41% das ações, cada. Normalmente um fundo de investimento não fica mais que quatro anos em um negócio desses, afirma um banqueiro especialista no setor de moda. A Vinci ficou até tempo demais. A pedida é considerada elevada por alguns, pois equivale a cerca de 10 vezes o Ebitda (lucro antes de impostos, taxas, dívidas e amortizações), especialmente para uma empresa com um passivo de R$ 471,4 milhões.
Procurados, os sócios não quiseram conceder entrevista. No dia a dia da Inbrands, no entanto, nada mudou. Um exemplo disso pôde ser visto na quarta-feira 4, durante a convenção anual, realizada em São Paulo. Foi um encontro destinado a alinhar as estratégias e reforçar o DNA de cada marca, diz uma fonte com acesso à empresa. O assunto venda não foi sequer mencionado. O processo de venda da holding com opção da busca de um novo sócio, uma vez que Alvarenga Filho e Breia a princípio topariam permanecer no negócio inclui conversas com fundos de investimento e empresas de fora do Brasil.
Uma das que estariam no páreo é a australiana Tuffwear, que atua nos segmentos de moda e na fabricação de uniformes corporativos. Faz sentido, afinal, a forte desvalorização do real ajuda a tornar mais palatáveis os ativos locais para quem opera em euro ou em dólar. Com isso, a Inbrands, mais capitalizada, poderia retomar o ritmo agressivo de aquisições que marcou os primeiros anos da holding e rejuvenescer sua principais marcas. A última tacada foi a compra da Mandi, em novembro de 2011. Em entrevista no final de 2013, Michel Sarkis, CEO da Inbrands, havia anunciado a determinação de quebrar o jejum no ano seguinte. O que não aconteceu.
Segundo analistas, tanto Silva quanto a dupla Alvarenga Filho e Breia falharam no projeto de construir uma versão tropical da francesa LVMH, holding do magnata Bernard Arnault, que comanda potências como Givenchy, Dior e Louis Vuitton. Faltou uma aposta mais firme no rejuvenescimento das marcas controladas pela Inbrands, que perderam seu caráter inovador, afirma o consultor André Robic, sócio-fundador do Instituto Brasileiro de Moda (IBModa). Isso aconteceu especialmente com a Ellus. De fato. Com campanhas de marketing restritas ao universo de consumidores tradicionais, elas acabaram abrindo espaço para marcas emergentes como Reserva e Farm.
A decisão de vender a Inbrands começou a ser gestada ao longo de 2014. Um bom indicativo disso foi o intenso processo de reestruturação do portfólio e do número de pontos-de-venda, destinados a deixar a noiva mais vistosa. A mais afetada foi a Mandi, cujas vendas somaram R$ 17,54 milhões no acumulado janeiro-setembro, recuo de 39,1% em relação ao período anterior. É preciso levar em conta que foram fechadas quatro filiais e houve uma readequação dos canais multimarcas. Por sua vez, as vendas da Ellus e da Ellus 2nd Floor ficaram praticamente estagnadas, com ligeira alta de 2,3%. O destaque da temporada ficou com as roupas e acessórios da Richards e a Selaria Richards, cujas vendas avançaram 15,4%, totalizando R$ 242,3 milhões.
Revista IstoÉ Dinheiro – SP