05/03/2015 às 05h00
Por Adriana Mattos e Marina Falcão | De São Paulo e Do Recife
A decisão do governo de reduzir a desoneração da folha de pagamentos, anunciada na semana passada, deve afetar mais o varejo do que outra medida, também confirmada na semana passada, de suspensão do “Minha Casa Melhor”. Este programa permitia que famílias beneficiadas pelo “Minha Casa Minha Vida” comprassem eletrodomésticos, eletroeletrônicos e móveis com crédito subsidiado pelo governo. As duas decisões atingem o varejo, mas redes ouvidas nos últimos dias entendem que a redução na desoneração tem efeito direto sobre a carga tributária das empresas, aumentando encargos sobre a folha. Isso ocorre num momento de maiores pressões em custos e vendas fracas. O varejo possui cerca de 8 milhões de trabalhadores. Segundo a Medida Provisória 669, publicada na sextafeira e transformado pelo governo como projeto de lei nesta semana, empresas que pagavam a alíquota de 1% de contribuição previdenciária sobre a receita bruta passarão a pagar índice de 2,5%. Quem pagava de 2%, sofrerá elevação para 4,5%. Companhias podem voltar ao modelo anterior, de contribuição de 20% sobre a folha de pagamentos. Ações de varejistas tiveram fortes quedas na semana passada, após governo anunciar o aumento na alíquota da contribuição previdenciária. “Isso [queda nas ações do Magazine Luiza na sextafeira] não é por causa do Minha Casa Melhor, mas pela questão da desoneração da folha. O Minha Casa Melhor respondeu por menos de 1% da receita nos últimos meses”, disse Marcelo Silva, diretorsuperintendente do Magazine Luiza. Segundo o departamento de relações com investidores da empresa, com a regra de pagamento com base na receita (que está em vigor hoje), a empresa calculou impacto positivo de 0,3 ponto percentual sobre a receita em 2013. “Mas de lá para cá, como nossa receita foi crescendo de forma mais acelerada do que o crescimento da folha, esse benefício foi perdendo a força”, disse Roberto Rodrigues, diretor de relações com investidores. A Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio), por meio de nota, informou que “os itens comercializados referentes ao programa Minha Casa Melhor têm uma participação pequena no volume total de vendas, menos de 0,5%. “Isto se deve à especificidade da cesta de produtos e à demanda pontual de acordo com a região onde o programa do governo foi implementado”. Grandes redes com menor atuação nas áreas beneficiadas pelo Minha Casa Minha Vida tendem a sentir menos o impacto da suspensão do Minha Casa Melhor do que outras redes de médio porte. Estas atuam em regiões mais afastadas das capitais. Para Jorge Jatobá, economista sócio da consultoria Ceplan, a região Nordeste deve sentir com mais intensidade o cancelamento do programa, por possuir uma maior população de baixa renda. No ano passado, as vendas vinculadas ao Minha Casa Melhor responderam por 4% do faturamento da Credimóveis Novolar, com 45 lojas em Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Segundo o diretor financeiro Marco Leão, a suspensão do programa vai afetar as vendas em cidades do interior que estavam sendo reconstruídas, após sofrer com enchentes, como Barreiros (PE) e Palmares (PE). “Os meses de janeiro e fevereiro foram muito ruins e essa suspensão se soma à uma conjuntura bastante difícil”, diz. Fernando Freitas, presidente da Eletro Shopping (do grupo Máquina de Vendas), diz que, quando foi lançado, em 2013, o programa Minha Casa Melhor deu um bom impulso às vendas da rede, com 145 lojas no Nordeste. Mas desde meados do ano passado, as vendas vinculadas ao programa vinham caindo. “O endividamento [do consumidor] subiu tanto que, mesmo com o valor do produto subsidiado, o cliente preferiu não comprometer ainda mais a renda”, disse.
Valor Econômico – SP