04/02/2015 às 05h00
Por Carolyn Cui | The Wall Street Journal
Os investidores estão voltando aos mercados emergentes, desafiando previsões de que
os investimentos em países em desenvolvimento estavam destinados a um novo
colapso.
No mês passado, o Índice de Mercados Emergentes MSCI subiu 0,6%, ultrapassando
o índice de ações S&P 500 pela primeira vez desde julho. Já o índice do banco J.P.
Morgan & Chase Co. para títulos em dólar de mercados emergentes avançou 0,3%.
Ainda em janeiro, os investidores colocaram US$ 18 bilhões em ações e títulos de
dívida de mercados emergentes, segundo o Instituto de Finanças Internacionais. Esse
movimento reverte uma saída líquida de US$ 11 bilhões em dezembro, a maior desde
a debandada de meados de 2013, provocada pela expectativa de um aumento de juros
pelo banco central americano.
O movimento é notável porque muitos investidores se tornaram cautelosos com
mercados emergentes, desde Brasil, Índia e China até Rússia e Venezuela, depois de
um boom de dez anos que terminou com a crise financeira.
O Índice de Mercados Emergentes MSCI caiu cerca de 5% em 2013 e 2014, um
período em que as ações americanas atingiram recordes de alta. O índice de títulos de
mercados emergentes do J.P.Morgan ficou atrás dos títulos do Tesouro americano no
ano passado, com retorno de 1,5%, ante 6,2% dos “Treasurys”.
De fato, muitos mercados continuam resistindo, no sinal mais recente de que os
investidores estão buscando ativos que prometem retornos maiores depois das fortes
altas apresentadas pelos índices de ações e títulos do mundo desenvolvido.
“Os mercados emergentes são uma das poucas pechinchas num mundo cada vez mais
caro”, diz Jeffrey Kleintop, estrategista-chefe de investimentos globais da Charles
Schwab Corp., que encerrou 2014 com US$ 2,5 trilhões em ativos sob gestão. Ele diz
que os preços baixos dos papéis podem fornecer uma certa proteção quando a
volatilidade aumenta, embora as ações dos mercados emergentes tenham sido
bastante atingidas na retração das bolsas observada na última semana.
A expectativa é que os mercados emergentes cresçam mais rápido que os
desenvolvidos, graças, em parte, aos preços menores das commodities. As ações do
setor, após anos de desempenho fraco, tornaram-se atraentes.
Além disso, em vez de ver os mercados emergentes como um todo, alguns investidores
estão selecionando países individuais.
A Índia é considerada bem posicionada porque é importadora de petróleo e tem um
governo interessado em reformar sua economia. A Indonésia também está atraindo a
atenção de gestores de recursos, assim como México e Taiwan, que devem se
beneficiar da recuperação americana. Numa proteção adicional aos mercados
emergentes, a decisão do Banco Central Europeu, em janeiro, de lançar um plano de
estímulo de US$ 1,3 trilhão ajudou a reduzir os temores de uma crise de liquidez
global que poderia ser um golpe duro nos mercados emergentes, dizem operadores e
analistas.
Em sua pesquisa mensal com investidores de mercados emergentes, o Société
Générale SA verificou que quase 70% de seus clientes estavam otimistas quanto a
esses mercados no curto prazo, o maior percentual desde março.
O otimismo resiste até a uma série de forças que parecem ameaçar os mercados
emergentes.
Entre as maiores preocupações está a desaceleração do crescimento, que poderia
dificultar a emissão de ações e títulos por empresas que precisam de capital. Em
janeiro, o Fundo Monetário Internacional reduziu de 4,9% para 4,3% sua projeção de
crescimento para os emergentes.
Entre os outros problemas estão a forte valorização do dólar, graças em parte às
expectativas de que o Federal Reserve irá elevar os juros de curto prazo nos EUA neste
ano pela primeira vez desde 2006. A valorização do dólar é frequentemente
acompanhada de uma fuga dos investidores dos países menos desenvolvidos.
Os países em desenvolvimento também estão sendo afetados pela queda dos preços
das commodities ocorrida no último ano, incluindo o petróleo, que é extremamente
vinculado à economia de muitos desses países.
Como resultado, muitos investidores dizem que estão mais seletivos sobre quais ações
e títulos comprar, procurando empresas e países que mais se beneficiarão com a alta
dos juros nos EUA e uma valorização ainda maior do dólar.
Paradoxalmente, muitos investidores dizem que uma grande razão para o otimismo é
justamente a queda dos preços do petróleo, vista por outros como sinal de uma
desaceleração global mais profunda que irá pesar nos preços dos ativos em muitos
mercados emergentes.
Alguns investidores dizem que as preocupações com os preços do petróleo são
exageradas. Apenas alguns grandes países emergentes, como Rússia e Venezuela, são
grandes exportadores do produto, diz Ronald Frashure, presidente do conselho de
administração da Acadian Asset Management, que administra US$ 19 bilhões em
ações de mercados emergentes. “Os emergentes, no geral, são beneficiários dos preços
baixos do petróleo”, diz.
Muitos gestores de recursos continuam receosos que ações e títulos emitidos em
países como Brasil, Rússia, Índia e China permaneçam altamente vulneráveis a uma
piora na confiança do investidor, uma nova desaceleração da economia mundial ou a
alta dos juros americanos.
A UBS Wealth Management, que administra quase US$ 2 trilhões em ativos, ainda
aconselha seus clientes a permanecer “levemente posicionados” nos mercados
emergentes este ano.
“Ainda vai doer quando os juros começarem a subir, provavelmente no segundo
semestre deste ano”, diz Jorge Mariscal, diretor de investimentos em mercados
emergentes da UBS Wealth Management.
Valor Econômico – SP