22/01/2015 – 05:00
Por José de Castro, Silvia Rosa, Antonio Perez e Lucinda Pinto
O dólar fechou na mínima em seis semanas ante o real nesta quarta-feira e os juros futuros longos recuaram na Bolsa de Mercadorias & Futuros, ainda sob efeito da crescente confiança em ajustes na economia doméstica, com política fiscal restritiva e a expectativa de continuidade do aperto monetário.
Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom do Banco Central (BC) confirmou as expectativas de mercado ao elevar a Selic em 0,50 ponto percentual, para 12,25% ao ano, o que pode abrir espaço para mais vendas de dólares na sessão desta quinta-feira. “O dólar deve reagir em queda”, afirma o economista-chefe do Santander Brasil, Maurício Molan.
Também contribui para a expectativa de fortalecimento do real a expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) anuncie hoje que comprará 50 bilhões por mês em títulos até dezembro de 2016, o que aumentaria a base monetária do BC da zona do euro em mais de 1 trilhão. Esse número é cerca de duas vezes maior que o citado em discussões no mercado nos últimos dias, entre 500 bilhões e 600 bilhões.
Com a expectativa de injeção de liquidez pelo BCE e a crescente confiança na mudança de rota da política econômica, a taxa do contrato futuro de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2021 desceu de 11,79% para 11,74%.
Segundo analistas, o fato de o BC ter sinalizado ontem que o ciclo de aperto monetário continua em março deve reforçar “os ganhos de credibilidade” da nova equipe econômica e manter a pressão de baixa nos juros futuros longos.
Para o economista-chefe do Modal, o fato de o BC não ter incluído em seu comunicado que “irá fazer o necessário” para pôr o IPCA rumo à meta em 2015, como esperado por parte dos analistas, não sinaliza uma postura “dovish” (menos inclinada ao aperto monetário) por parte do Copom. “O problema é que ainda existe certa dificuldade de confiar na mudança de postura do governo”, afirma Àzara, que não vê motivos “para uma alta das taxas longas” no pregão de hoje por conta do comunicado do Copom.
A perspectiva de mais aperto monetário também pode dar sustentação ao real. Ontem, o dólar fechou em queda de 0,29%, a R$ 2,6065, menor patamar de encerramento desde 9 de dezembro. No fim da manhã, a cotação recuou a R$ 2,5852, menor valor intradia desde a mesma data (R$ 2,5851).
A cotação terminou distante das mínimas do dia, na esteira da piora de sinal em algumas divisas de risco, após o Banco do Canadá (BoC, na sigla em inglês, BC) surpreender ao cortar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 0,75% ao ano – a primeira redução desde abril de 2009. O movimento derrubou o dólar canadense a um novo piso em cinco anos e meio ante o seu par americano.
A decisão do BC canadense, que ocorre após Turquia, China e Índia também cortarem seus custos de empréstimos recentemente, acabou endossando a leitura de que o mundo pode ter de lidar por mais tempo com taxas de juros baixas para fazer frente ao enfraquecimento das economias centrais. Analistas afirmam que a falta de fôlego da economia global pode respingar no Brasil em algum momento.
Essa avaliação foi reforçada ontem por comentários do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. De acordo com reportagem do Valor, Levy teria dito a investidores estrangeiros que participam do Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, que “vai ter ajuste mesmo” e que o PIB do Brasil ficará “estável” em 2015.
Valor Econômico – SP