19/12/2014 20:00
Luís Artur Nogueira
Não é a primeira vez que um período de dificuldades econômicas aguça o faro do carioca André Esteves, por bons negócios. Em abril de 2009, no auge da crise internacional, enquanto as bolsas derretiam e muitas empresas demitiam funcionários, ele recomprou por US$ 2,5 bilhões o banco Pactual, que havia vendido aos suíços do UBS três anos antes por US$ 3,1 bilhões. Cinco anos depois, com a Europa estagnada, o presidente do BTG Pactual viu a oportunidade de arrematar o private bank suíço BSI, que pertencia à seguradora italiana Generali, por US$ 1,7 bilhão.
Aproveitamos esse vale de preços de mercado que o cenário internacional proporcionou, disse Esteves em entrevista à DINHEIRO. Crises rimam com oportunidades. Num ano de poucos negócios e muitas incertezas, a compra do BSI, que praticamente dobrou de US$ 110 bilhões para US$ 200 bilhões o volume de recursos sob gestão do BTG Pactual, foi a grande transação do setor, o que conferiu a Esteves o prêmio de Empreendedor do ano na área de finanças. Aos 46 anos, com fama de workaholic, o banqueiro continua com uma agenda repleta de compromissos na semana em que recebeu a DINHEIRO, em São Paulo, havia feito duas viagens internacionais, sempre de olho em oportunidades.
Ser global não é uma vaidade do André Esteves, diz Luiz Miguel Santacreu, analista de bancos da agência de classificação de risco Austin Rating. É uma necessidade para competir no mercado internacional. Quando dá expediente na sede do banco, em um moderno prédio na avenida Faria Lima, Esteves não fica trancafiado em uma sala. Sua mesa está instalada num aquário gigante que lembra um ambiente de Bolsa de Valores, com cotações e notícias piscando em letreiros luminosos. Segundo seus sócios, ele atua como um líder que observa e premia seus funcionários, numa cultura de partnership.
Em vez de executivos que buscam stock options e salários altos, aqui todos buscam se tornar sócios, diz Persio Arida, ex-presidente do Banco Central e chairman de Asset Management do BTG Pactual. A mentalidade é de dono. E dono é empreendedor. Ao passar o ano em retrospectiva, Esteves utiliza o adjetivo pífio para resumir o desempenho do mercado de capitais em 2014. Não tivemos nenhum IPO no Brasil, diz o banqueiro. Isso obviamente traz uma frustração. Para 2015, sua expectativa é de um ano de ajustes, mas ele garante que o perfil agressivo do BTG Pactual não será alterado.
No começo de dezembro, a instituição adquiriu do BNDESPar 6% do capital votante da Gerdau. Conheço a competência do André Esteves há muito tempo, diz Enéas Pestana, ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar, que acaba de abrir uma consultoria própria e terá o BTG Pactual como cliente. A missão de Pestana será árdua, pois nem todas as participações do banco em mais de 30 companhias geraram frutos até agora. Ao ser questionado sobre os prejuízos do PAN (antigo banco Panamericano, do grupo Silvio Santos, mantido em sociedade com a Caixa), Esteves garante que a operação será lucrativa em 2015.
Quem esperava que o PAN desse lucro em 12 meses não conhece nada desse negócio, afirma o banqueiro, que estende o mesmo raciocínio à Brasil Pharma, holding de redes de farmácias. Instado a apontar um grande desafio que terá pela frente, o banqueiro cita a Sete Brasil, empresa que atua no mercado de petróleo e gás, em parceria com a Petrobras e fundos de pensão. O projeto é complexo, mas temos como colocá-lo de pé. Se há um assunto que desperta o seu sorriso é a presença da marca BTG Pactual entre as 15 mais valiosas do Brasil na lista elaborada pela DINHEIRO em parceria com a consultoria BrandAnalytics. É o reconhecimento do nosso trabalho, diz Esteves.
Revista IstoÉ Dinheiro – SP