17/10/2014
André Jankavski
Durante mais de três décadas, o empresário paulista Roberto Garcia, de 53 anos, herdeiro e co-presidente, ao lado do irmão Paulo, da maior rede de materiais de escritório do País, a Kalunga, repetiu a mesma rotina. Todo sábado e domingo, jogava golfe com os amigos no aristocrático São Paulo Golf Club, na zona sul da capital. Nos últimos meses, no entanto, essa rotina foi interrompida. Por uma boa razão, segundo ele. Roberto tem ocupado todo o seu tempo no desenvolvimento de um audacioso projeto para sua companhia, a Kalunga Copy & Print.
Trata-se da instalação de gráficas rápidas nas lojas, que farão desde cópias simples até cartões e apostilas para pequenas e médias empresas. A ofensiva da Kalunga, cujo faturamento alcançou R$ 1,5 bilhão no ano passado, no mercado de tinta e papel, vai na contramão de muitas empresas do setor, que investem na digitalização de documentos e na utilização de aparelhos como tablets e smartphones. A entrada no segmento gráfico, pulverizado em pequenos estabelecimentos, como papelarias e gráficas de bairro, disputada também por gigantes como a americana AlphaGraphics, que atua no País desde 2009, será a primeira investida da companhia fora do universo de compra e venda de materiais de escritório, desde a sua fundação, em 1972.
É um movimento que as grandes empresas estrangeiras já estavam fazendo, mas vamos ter um sistema muito mais atualizado, afirma Roberto, responsável pelo dia a dia da Kalunga. Tudo será interligado, de acordo com o empresário, com as plataformas de vendas pela internet e pelo telefone, que já representam por volta de 15% do faturamento total da Kalunga, cerca de R$ 240 milhões no ano passado. A empresa não revela as cifras de seus investimentos, mas estima que o novo negócio irá gerar um faturamento de R$ 300 mil a R$ 1 milhão por loja implantada. A primeira delas será na unidade de Moema, na zona sul de São Paulo.
Começaremos nas lojas próprias, mas nada impede que criemos quiosques da Kalunga Copy & Print em shoppings, diz Roberto. Além da nova aposta, a atenção do empresário vem sendo dividida com os rumores sobre a venda da Kalunga e por propostas, que de vez quando aparecem em seu escritório. A última chegou à mesa de Roberto há dois meses, formulada por um fundo de investimentos. Os irmãos Garcia sempre querem mais dinheiro, diz uma fonte do setor de varejo, ligado às negociações envolvendo a Kalunga. Ao que parece, eles não querem vender. A resistência da Kalunga diante das investidas dos fundos é sustentada tanto por Roberto Garcia quanto pelo seu irmão mais velho e sócio, Paulo.
Oficialmente, Paulo também não quer se desfazer da empresa fundada por seu pai, Damião Garcia, apesar de seu foco ser outro: o futebol. A habilidade com os negócios da família e a paixão corintiana levaram a Kalunga a ser patrocinadora master do alvinegro paulista por nove anos. A ligação dos irmãos com o clube é tamanha que eles tentaram adquirir os direitos do nome do estádio Itaquerão no início deste ano, que passaria a se chamar Arena Kalunga. Por essa proximidade com o Corinthians, Paulo tem se dedicado ao seu sonho de chegar à presidência do clube em 2012, ele foi derrotado pelo delegado de polícia Mário Gobbi. Atualmente, Paulo dá expediente na empresa uma vez por semana.
Além do Corinthians, Paulo se ocupa cuidando de seu rebanho de bois e deixa a Kalunga em segundo plano, afirmou um executivo da companhia. Procurado por DINHEIRO, o empresário não concedeu entrevista. Já seu irmão Roberto, o jogador de golfe, garante a condução dos negócios da Kalunga. Claro que posso começar a gostar de cavalos, por exemplo, e querer largar tudo, afirma. Mas hoje minha prioridade é fazer a empresa dobrar de tamanho até 2020. Atualmente, a Kalunga possui 127 lojas, todas próprias, e pretende abrir mais 13 até dezembro. As vendas devem crescer por volta de 20% neste ano. Pelo visto, muitas partidas de golfe de Roberto ficarão ainda mais para depois.
Revista IstoÉ Dinheiro – SP