16/10/2014 às 05h00
Por Assis Moreira | De Abu Dabhi
O Abu Dhabi Investment Authority (Adia), maior fundo soberano do Oriente Médio, tem apetite pelo Brasil e outros emergentes, onde vê mais potencial de ganhos apesar do atual desempenho econômico.
Com ativos não revelados que analistas estimam em US$ 839 bilhões, o fundo dobrou sua equipe interna de gestores de ações na América Latina nos últimos seis meses: foram mais três contratações, todos brasileiros.
Agora, a equipe responsável por investimento direto em ações na região é formada por cinco brasileiros e um local, o que dá uma sinalização para onde se dirige o interesse maior.
Além disso, o Adia busca oportunidades no Brasil em ativos de infraestrutura e em educação, por exemplo.
Pelo menos desde 2010, o fundo soberano de Abu Dabhi já manifesta mais do que interesse pelo país. Foi quando participou, por exemplo, do aporte privado internacional, de US$ 1,8 bilhão, no BTG Pactual, ao lado dos fundos soberanos da China e de Cingapura e família bilionárias da Europa, Estados Unidos e América Latina.
Há três anos, o fundo soberano de Abu Dhabi também é um dos investidores indiretos do laboratório Hermes Pardini, uma vez que no Brasil aplica seus recursos nos fundos do Gávea e uma parcela dos R$ 300 milhões desembolsados para compra do laboratório mineiro veio do Adia, em 2011. Participou, assim, do consórcio liderado pelo Gávea para a compra do Fleury, que acabou não se concretizando.
Criado em 1976, a principal fonte de capital do fundo é a receita de Abu Dabhi com a venda de petróleo. Mas quem conhece seus bastidores, costuma deixar claro que esse é um instrumento de investimento independente e sem interferência do governo do emirado.
A sede fica de frente para o mar, num prédio de 35 andares. Para entrar, o visitante passa por um controle de segurança eletrônico e depois é conduzido para uma sala de espera que supera muita sala vip de aeroporto, com garçons elegantemente vestidos e prontos para oferecer um bom serviço.
A diretoria do fundo tem reafirmado seu plano de expansão nos mercados emergentes, seguindo uma estratégia deflagrada em 2000, diante da conclusão de que o crescimento mundial viria sobretudo desses países.
A exposição nos mercados emergentes fica entre 15% e 24% do total dos ativos, ou seja, pode chegar a US$ 201 bilhões.
Cerca de 75% do ativo total do fundo é administrado por gestores externos, o que inclui uma fatia próxima de 55% gerida de maneira passiva, por meio de fundos de índices.
Mas a decisão, até como lição da dura crise financeira global, é deter maior controle e fazer cada vez mais investimentos por meio do time interno, em Abu Dabhi.
Na área de infraestrutura, praticamente toda a equipe trabalha em Abu Dabhi. O principal foco é em ativos com forte liderança no mercado e fluxo de caixa relativamente estável, como companhias de água, gás e eletricidade, distribuição e transmissão, além de infraestrutura, como estradas, portos e transporte de cargas.
A ênfase até recentemente tinha sido em países desenvolvidos, mas agora mais capital está tomando o rumo de emergentes. E o Brasil não passa despercebido.
Em educação, o interesse pelo Brasil se evidencia pelo potencial do setor, na medida em que a classe média aumenta e procura melhorar a sua qualificação. O fundo ainda tem propriedades imobiliárias no Brasil, como em torres no Rio de Janeiro, e a evolução do segmento é acompanhado com interesse.
O Adia aparentemente não teve negócios diretos com Eike Batista, como ocorreu com outro fundo de Abu Dabhi, o Mubadala.
Sobre o colapso dos negócios com Eike, o xeque Nahyan bin Mubarak Al Nahyan, ministro de cultura e também uma espécie de porta-voz do governo – e, sobretudo, homem de negócios nos ramos de petróleo, bancos, hotelaria etc -, diz que a confiança no Brasil não foi abalada por causa dos problemas com Eike Batista.
“Isso foi um negócio. Às vezes há sucesso, outras não. Nossa confiança no potencial do Brasil continua enorme”, disse ao Valor, em entrevista numa de suas propriedades em Abu Dabhi.
Valor Econômico – SP