Ao que tudo indica, 2020 será um ano de recuperação gradual da economia, com mais estabilidade política, aumento de crédito e lenta expansão do emprego e da renda. Diante dessa opinião da maior parte dos economistas, o varejo resolveu expandir suas operações da maneira mais conhecida pelas empresas do setor alimentar, abrindo novas lojas. Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro receberão juntos alguns bilhões de reais com a abertura de mais de 100 lojas.
Somente as cidades mineiras devem receber 75 lojas, com um investimento total de R$ 700 milhões, segundo a Associação Mineira de Supermercados (Amis). Essa perspectiva baseia-se no crescimento de 4,22% em 2019, com 72 unidades abertas, superando as previsões iniciais de 70 lojas.
“Os aportes do setor em 2019 também superaram o projetado ao somarem R$ 682,9 milhões ante previsão de R$ 500 milhões. Isso se explica, em parte porque durante o levantamento para se conhecer o número de novas unidades, as empresas previam a abertura de um número maior de lojas ‘express’, que demandam menores investimentos e menos mão de obras. Mas o que se confirmou foi a liderança de lojas de vizinhança, com 32 unidades, seguidas do atacarejo, com 22 novos pontos”, diz a Amis, em texto de divulgação de resultados do ano.
As perspectivas indicam uma expansão de 4,5% nas vendas do setor mineiro em 2020, com um faturamento esperado de R$ 38,9 milhões e geração de 8 mil novos empregos diretos. Somente o Grupo Bahamas anunciou R$ 100 milhões e dez novas lojas neste ano no Estado.
Esses modelos de expansão não são exclusividade de Minas Gerais, os formatos atacarejo e lojas de vizinha são as apostas dos consultores do setor. “Há espaço para todos os formatos, mas os atacarejos e as lojas de vizinhança, junto com os hard descounts têm se mostrado fortes. Eles exigem um sortimento menor e menos serviços, o que atende o consumidor ao mesmo tempo que reduz os custos para as empresas”, comenta Silvio Laban, professor do Insper .
Espírito Santo: crescimento acima de 5%
No Espírito Santo, a aposta é a mesma. “Percebemos aqui a expansão dos atacarejos, uma tendência nacional. É um modelo criado para quem prefere abrir mão de serviços personalizados, oferecidos pelas lojas tradicionais”, diz João Tarcísio Falqueto, presidente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps). A entidade prevê que este ano 15 novas lojas serão abertas no estado, que se somaram as 1.563 existentes. O faturamento deve crescer entre 5% e 5,5%.
A entidade não tem cálculos de investimento financeiro, mas os anúncios de alguns varejistas mostram que o Espírito Santo também ganhará alguns muitos milhões de reais. O Grupo Coutinho, dono das redes Extrabom, por exemplo, anunciou R$ 60 milhões para cinco novas aberturas em 2020. Dessas, duas serão atacarejos com a marca Atacado Vem. A primeira, na cidade da Serra, já foi inaugurada, a segunda, em Guarapari, deve ser aberta no terceiro trimestre. As demais são supermercados com a bandeira Extrabom em diferentes cidades.
“Há seis anos, eu disse que o ponto de venda físico estava morto. Tinha a percepção que a tecnologia mudaria as compras. Mas eu e as empresas fomos percebendo que as lojas precisam apenas mudar o formato, aprimorar as operações gerando experiências ao consumidor que ele não pode ter através de um computador”, comenta Laban.
Nesse sentido, ele afirma que os estados do Sudeste têm muito potencial de expansão. “Minas Gerais é gigantesco, tem players regionais muito fortes, mas com capacidade de expansão. Espírito Santo também tem oportunidades, mas que vão se exaurir mais rapidamente por mera questão geográfica. Enquanto o Rio de Janeiro está mais saturado e tem pouco espaço para erros”, afirma.
No Rio de Janeiro, a expectativa da associação de supermercados ( Asserj ) é de uma expansão de 2,5% no Estado, abaixo da média nacional prevista em 3,5%. Em dados entregues à rádio Bandnews em dezembro, a entidade citava que o estado enfrenta alguns problemas, como roubo de cargas, que não permitem a expansão mais acelerada das empresas.
Apesar de todos os aspectos positivos para as economias estaduais, o professor Laban lembra que para ser responsável e rentável no longo prazo as empresas precisam fazer a lição de casa. “Primeiramente é preciso ter fôlego financeiro para as inaugurações. Depois, as redes têm que estudar, ver se o consumidor daquela região está interessado em novo supermercado, em que formato. Tem que ser diferente da concorrência e, claro, a empresa tem que ser capaz de sustentar esse processo, com qualidade e gente treinada.”
Se a rede não tiver recursos neste momento, é melhor investir na gestão do que já possui. “As maiores falhas do varejo estão na logística de abastecimento, e na qualidade da mão de obra, é preciso resolver isso, ter uma política para reter o cliente antes de pensar em crescimento físico”, afirma o consultor de varejo Marco Quintarelli .
Laban enumera também que a busca da eficiência por meio de cortes de custos, propostas de valor ao consumidor, gestão de estoques devem ser feitos antes de qualquer novo investimento. “É preciso primeiro consertar e gerir melhor o que se possui. Ocorre que o varejo alimentar sempre teve na abertura de lojas a maneira de elevar ganhos. É uma tradição do setor, feita pelos empresários empiricamente, mas que agora precisará de mais estudos porque há mais concorrência, inclusive com o que está na internet.”
Projeção de Crescimento em 2020
Espírito Santo: 5%
Minas Gerais: 4,5%
Rio de Janeiro: 2,5%
Fonte: S.A. Varejo