As empresas de varejo enfrentam uma crise especialmente grave, que só encontra paralelo naquela vivida pelo setor nos anos 90, quando houve quebradeira de lojas após a queda da inflação, o que expôs ineficiências e má gestão das grandes redes da época. Economistas, empresários e consultores ouvidos pelo Valor afirmam que o momento atual revela um um encolhimento das vendas até maior que o verificado 20 anos atrás, quando Mesbla, Mappin, G. Aronson e dezenas de redes médias desapareceram do mercado. “Não houve queda tão abrupta nas vendas como a atual”, diz Alberto Serrentino, consultor na área há 20 anos.
Em 2015, o varejo restrito, que exclui automóveis e materiais de construção, teve queda de 4,3% nas vendas, pior número da série histórica iniciada em 2001. Janeiro de 2016 foi o pior mês em vendas (dessazonalizadas) desde 2005, para o mesmo mês.
Na crise dos anos 90, as seis maiores falências ou concordatas levaram à eliminação de 15 mil postos de trabalho e ao fechamento de 400 lojas. Em 2015, foram fechadas 100 mil lojas e eliminados 181 mil empregos, segundo cálculos da Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC). “Temos que entender a relevância do setor. Se uma fábrica fecha mil vagas é uma movimentação. Se o varejo fecha cem mil lojas não se fala sobre isso”, disse Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário.
Há consenso no setor, porém, de que a perda no ritmo de crescimento da inflação durante o ano pode melhorar o cenário. Eventual recuperação no nível de confiança do consumidor no segundo semestre – caso o ambiente político se desanuvie – também pode pesar favoravelmente. Nesse caso, o varejo de alimentos e as farmácias devem ser os primeiros a recuperar vendas ainda neste ano.
“Acreditamos que a recuperação nesses segmentos deve começar lentamente no segundo semestre, mas considerando todo um ambiente um pouco melhor, o que também é uma incógnita”, diz o economista Fabio Bentes, da CNC.