26/06/2015 às 05h00
Por Cibelle Bouças | De São Paulo
A Nestlé Health Science, subsidiária da Nestlé na área de saúde, vai voltar às compras neste ano. Greg Behar, presidente executivo (CEO) da Nestlé Health Science, disse que avalia opções nos Estados Unidos, na Europa, na China, no Japão, na Austrália e no Brasil. No alvo da companhia estão licenças de produtos e empresas que desenvolvem suplementos alimentares usados em hospitais ou em atendimento médico domiciliar. “Espero até o fim do ano fazer algumas aquisições em todo o mundo. O interesse é maior em países onde há maior suporte do sistema de saúde”, afirmou Behar. Criada em 2011, a Nestlé Health Science tem como objetivo desenvolver alimentos voltados à nutrição de pessoas com doenças crônicas que geram deficiência na absorção de certos nutrientes, produtos para alimentação por sonda em hospitais ou em tratamento domiciliar e alimentos coadjuvantes nos tratamentos de alguns tipos de câncer, depressão, Alzheimer, problemas gastroenterológicos, entre outros. A unidade foi criada a partir da compra da Novartis Nutrition e foi reforçada com aquisições, feitas em 2011 e 2012, das empresas Prometheus Laboratories (Maio 2011), CM&D Pharma (Fevereiro 2011), Vital Foods (Julho 2011) e uma participação na Accera (julho de 2012). Desde que foi criada, a unidade de negócios cresceu acima da média de expansão do grupo Nestlé, graças ao aumento da demanda global, decorrente do envelhecimento da população mundial e da preocupação crescente dos consumidores em adotar alimentação mais saudável, especialmente no caso dos públicos infantil e adultos com mais de 50 anos. De acordo com Behar, a demanda por produtos de nutrição para esses públicos cresce, em média, 15% ao ano e a expectativa é que o consumo nesse segmento ainda apresente aumentos de dois dígitos ao ano até 2020. No ano passado, a Nestlé Health Science obteve uma receita de 13,046 bilhões de francos suíços (US$ 14,034 bilhões), o que representou um crescimento de 8,7% em relação ao ano anterior. A margem operacional de lucro da divisão de negócios foi de 20,9%, com aumento de 2,1 pontos percentuais em relação ao ano anterior. O grupo Nestlé fechou o ano com crescimento de 4,5% em receita, para 91,6 bilhões de francos suíços (US$ 98,13 bilhões). A margem de lucro operacional avançou 0,1 ponto percentual, para 15,3%. O presidente da Nestlé Health Science afirmou ainda que a unidade de negócios tem sido cada vez mais solicitada pela Nestlé global para ajudar no desenvolvimento de produtos mais saudáveis, com menos sal, menos açúcar e sem componentes que causam alergias, como glúten e lactose. “A maioria dos produtos vendidos pela Nestlé Health Science já possui essas características, mas são formulações complexas, para pessoas convalescentes. A companhia vê oportunidades de fazer formulações mais simplificadas para o público comum”, afirmou o executivo. Behar estima que, em 2017, o grupo Nestlé já terá linhas de produtos para o público geral com essas características. Atualmente, em torno de 60% da receita da companhia é obtida com a venda de produtos de nutrição clínica (vendidas diretamente para hospitais e clínicas). Outros 15% da receita vêm da venda de produtos de nutrição para pessoas com doenças crônicas, como o Vitaflo HCU Express 15, um alimento para pessoas com restrição de metionina. Os 25% restantes vêm da venda de produtos alimentares para consumidores. Os exemplos mais conhecidos são as linhas Nutren, vendidas em farmácias e hipermercados, que funcionam como um suplemento alimentar. “Mas a tendência para os próximos anos é mudar essa divisão, com um aumento das vendas para o público geral”, afirmou Behar. Ele considerou que os consumidores têm aumentado o interesse em adotar uma alimentação mais nutritiva. As aquisições em avaliação, segundo o executivo, podem ajudar a companhia a avançar nesse sentido. A Nestlé Health Science não divulga informações sobre seu desempenho no mercado brasileiro. Behar disse apenas que o ritmo de crescimento de vendas no país é superior à média global, que no ano passado foi de 8,7%. O executivo também afirmou que as linhas da companhia respondem por 40% do mercado de nutrição clínica no país. A companhia investiu “alguns milhões de dólares” nos últimos anos no país na instalação de duas fábricas, uma em Araçatuba (SP) e outra em Araras (SP), disse Marco Hidalgo, diretor regional da empresa para América Latina. Ele observou que a maioria dos produtos é desenvolvida no exterior e sofre adaptações de sabor no Brasil. Mas há casos, como o Optifast omelete de queijo (um preparado em pó que pode ser misturado à água), que foi criado no Brasil e acabou sendo exportada para outros países, devido ao seu sucesso. Sem citar números, Behar afirmou que a companhia vai continuar fazendo investimentos em pesquisa e inovação no Brasil. “Este ano o mercado brasileiro está um pouco mais difícil, mas a perspectiva é de que o país terá crescimentos no longo prazo”, afirmou. Ele também criticou a decisão do governo brasileiro de cortar o orçamento para a área de saúde em R$ 11,77 bilhões. “Isso foi um erro do governo, mas não é o suficiente para alterar nossos planos de investimentos de longo prazo”, disse.
Valor Econômico – SP