03/06/2015 05:30
Por Assis Moreira
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem uma avaliação positiva sobre a economia do Brasil, país com o qual a entidade assina hoje um acordo “marco” de cooperação. Até recentemente, o governo brasileiro era contra essa aproximação. Em outubro, a OCDE projetava crescimento de 1,5% para a economia brasileira em 2015. Agora, prevê contração de 0,8 neste ano, com pouca confiança de consumidores e empresários, baixo volume de investimentos no setor de petróleo e consequências do aperto monetário. A entidade prevê, no entanto, melhora nas políticas macroeconômica ao longo do ano e algumas reformas estruturais anunciadas que podem elevar a confiança. Neste cenário, a entidade calcula ligeira recuperação da economia brasileira a partir do fim do ano, o que pode conduzir a crescimento de 1,1% em 2016.
“A nossa avaliação sobre o ajuste e o ritmo de reformas no Brasil é muito positiva e achamos que vai levar a uma recuperação do crescimento”, afirma Jens Arnold, economista da OCDE para o Brasil. “Mas é importante seguir com esse ritmo e implementar tanto as medidas do ajuste fiscal como medidas mais estruturais anunciadas pelo governo”. A estimativa é de que a inflação ficará em 8,3% este ano. A dívida pública bruta, considerada um melhor indicador que a líquida, aumentou 7 pontos percentuais em 2014, mas o economista diz crer que o ajuste fiscal anunciado será suficiente para que não aumente. A expectativa é de que o investimento, de menos de 20% do PIB, abaixo da média inclusive da América Latina (21%), possa lentamente crescer. A OCDE avalia que o consumo privado e alguns investimentos devem liderar a retomada do crescimento.
As exportações podem aumentar com a taxa de câmbio mais competitiva, o que reduzirá o déficit em contas correntes. Para Jens, a forma como foi desenhado o ajuste foi influenciada pela rigidez do orçamento no Brasil. Destaca, no entanto, as reformas no seguro-desemprego e na pensão por morte, que reduzem distorções na economia. A OCDE diz que a política macroeconômica é severamente limitada pela necessidade de restaurar confiança e preservar o grau de investimento de investimento. Julga assim que o ‘teste decisivo’ será a implementação do ajuste fiscal da forma como foi anunciada pelo governo; um fiasco poderia deflagrar a perda do grau de investimento pelo país. Estima que um risco para o Brasil é que as consequências dos problemas na Petrobras possam ser mais fortes do que esperado se as investigações levarem a mais falências nas atividades de upstream. Além disso, apesar da melhora nos reservatórios de água, Jens diz que persiste o risco de racionamento de energia ou água no país.
Para a OCDE, o Brasil tem muito espaço para melhorar o ambiente de negócios com algumas poucas reformas que poderiam fazer uma diferença importante para a produtividade e reforçar o crescimento econômico. Um exemplo é a reforma dos impostos indiretos que o Brasil vem discutindo há muito tempo. Considera que agora é realmente o momento para fazer essa reforma, que poderia reduzir custos para as empresas quase que imediatamente. “Não há nenhuma razão para o Brasil ter tantos impostos indiretos. Eles poderiam ser consolidados num Imposto sobre o Valor Agregado (IVA)”, diz Arnold. Um caminho para o país melhorar a produtividade, diz, seria reduzir as barreiras comerciais. A aproximação do Brasil com a OCDE faz parte de um movimento maior de abertura do Brasil para o mundo, sinalizou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A assinatura do acordo de cooperação, hoje, deve pavimentar o terreno para eventual adesão no futuro. “A presidente [Dilma Rousseff] considera bastante importante estar fazendo esse movimento”, disse Levy, após se encontrar com o secretáriogeral da OCDE, Angel Gurria, em Paris. Conforme Levy, a orientação da presidente “é de que temos de ganhar no mercado internacional, temos confiança e capacidade para nos posicionarmos”.
Valor Econômico – SP