Soma, Arezzo, C&A e Renner sondam negócios de menor porte e que operam na internet
Por Adriana Mattos
Assessores de grandes varejistas de moda vêm sondando plataformas de comércio eletrônico, algumas mais novatas e populares em redes sociais, que estejam abertas a vender seus negócios. O Valor apurou que Soma, Arezzo&Co (por meio da ZZ Ventures), C&A e Renner estão mais ativas nesse movimento nos últimos meses.
Entre os negócios já prospectados, segundo fontes, estão o brechó virtual e físico Capricho à toa (o maior do segmento em São Paulo), a consultoria de imagem Resolva Meu Look e a marca premium Charth. Também faz parte da lista a Outcome Clothing, que vende roupas confortáveis como moletons.
Nesses casos, há negócios on-line de roupas usadas, foco estratégico de cadeias tradicionais desde o ano; e operações de serviço e atendimento em moda, segmento muito pulverizado e com empresas pouco estruturadas.
Em geral, são negócios com vendas anuais entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões – esse teto é cerca de um terço do que faturava a NV, da influenciadora Nati Vozza, quando foi comprada pela Soma em 2020. Mas é menos uma questão de valores – a ideia é buscar negócios menores – e mais de projeção de crescimento e estratégia.
“Temos uma lista com uns 30 nomes em clara ascensão, e temos quase de tudo, e em áreas onde vemos ‘gaps’ que precisamos ocupar. O receio é deixar de olhar algo, o cavalo passar selado na nossa frente e alguém identificar antes”, diz o membro de conselho de administração de uma varejista de moda.
Essa é uma reação, dizem consultores, à necessidade de atrair novos públicos, especialmente os consumidores pautados por tendências veiculadas na internet, e os que defendem o consumo responsável- duas vertentes em franca expansão. “Há negócios que nasceram no Instagram e no Facebook, que antecipam tendências e têm relação próxima com milhares de seguidores. Parte deles são negócios muito ágeis, respondem rápido às demandas, mas precisam de capital para áreas como tecnologia”, diz Jean Paul Rebetez, sócio-diretor da Gouvêa Consulting.
O Valor apurou que a empresa Resolva Meu Look, consultoria de imagem e estilo – com 70% das ações nas mãos do casal de fundadores Deborah Martini e Bruno Ferraro – foi sondada nos últimos dois meses, pelo menos por duas empresas, C&A e Arezzo. Procurada, a Resolva Meu Look não se manifestou sobre o assunto.
Criada há cerca de quatro anos, a empresa tem quase 100 consultoras cadastradas no Brasil e na Europa (há uma base de operação em Portugal) e conecta essas profissionais a clientes, oferecendo serviços para atendimento on-line e presencial. Na conta da empresa no YouTube, há 1,2 milhão de inscritos. Deborah é a cara do negócio nas redes e atua no contato direto com clientes. “Achamos uma brecha no setor, algo que ninguém oferecia na moda digital. Agora estamos com projeto de entrada no negócio de ‘second hand’ [produtos usados]”, diz Ferraro.
Fundada há cinco anos, a Charth, marca mineira de moda on-line voltada para classes de maior renda, recebeu quatro sondagens desde o fim de 2020, diz fonte. O Valor apurou que Soma e Arezzo têm interesse. Criada pela advogada Nastácia Schacht, dentro da loja de calçados da mãe e da tia, a Charth soma 350 mil seguidores no Instagram, e vende para 120 lojas multimarcas no país em 24 Estados. São de 40 mil a 50 mil produtos lançados por coleção. Sobre um possível acordo com redes de moda, a empresa prefere não se manifestar, mas vê ganhos em potenciais parcerias.
“As grandes empresas têm áreas de análise de dados e de tecnologia mais avançadas, que são atividades que precisam sempre de investimento. Então isso é uma vantagem num eventual acordo”, diz Diego Faria, cofundador da Charth. Ele diz que, no mínimo, teve expansão de 30% no mês contra mês anterior neste ano, e em 2020, por conta do on-line, a alta foi de 70%.
Com um modelo que nasceu no mundo físico, o brechó Capricho à toa, com loja na capital paulista, passou a ser mais assediado por redes neste ano. Segundo fontes, Soma, C&A, Renner e Arezzo fizeram contacto nos últimos meses e há conversa em andamento. A empresa não se manifesta sobre o tema.
Nos últimos tempos, o negócio vinha crescendo, em média, 20% a 30% ao ano, diz a fundadora Denise Pini, e a pandemia fez a direção acelerar mais os investimentos no site. São 50 mil peças em estoque na loja. “Percebemos hoje um potencial que nunca tínhamos visto. O setor é a bola da vez, sabemos do interesse, porque há uma clara tendência no uso mais sustentável dos recursos. As pessoas vão ao brechó e não têm mais vergonha, e as grandes empresas estão vendo isso”, afirma ela. “A demanda subiu muito em 2021, tanto de consumidores querendo vender produtos após a crise, quanto na procura”.
A abertura de capital da Enjoei e a aquisição do brechó Repassa pela Renner, em julho, acabaram chamando a atenção do mercado para esses negócios. A Renner fez uma oferta de ações de R$ 4 bilhões em abril e já disse a investidores que busca negócios de pequeno porte, -apesar de ter recentemente sondado a Dafiti para possível aquisição. No caso da Soma, que captou em 2020 cerca de R$ 600 milhões só para aquisições, a integração com a Hering tem sido foco central da companhia. Mas isso não teria interrompido sondagens de negócios menores, apurou o Valor com duas fontes.
Eduardo Terra, sócio da BTR Educação e Consultoria, lembra que há risco em aquisições de operações menores. “A rede ‘pluga’ um negócio a uma estrutura gigantesca, e isso não pode matar a criatividade e a inovação dela. O que já vimos, algumas vezes, são empresários anos depois insatisfeitos com tantas regras de governança e compliance”.
Procuradas, Soma e Arezzo não se pronunciaram e a Renner disse que não comenta rumores. A C&A informa que, em linha com sua estratégia, “vem buscando diversas parcerias” e segue atenta a oportunidades para inovar na jornada em loja e no digital. A Outcome não respondeu aos contatos.
Fonte: Valor Econômico