Demanda reage em maio e fabricantes de bens de consumo aumentam vendas; risco de terceira onda preocupa, porém
Por Raquel Brandão
A indústria de bens de consumo volta a olhar para os próximos meses com otimismo, embora seja um “otimismo cauteloso”: há risco de terceira onda no inverno e sabe-se que um aumento das vendas não permitirá, ainda, a recuperação das margens, pressionadas pelos custos elevados de produção.
Enquanto março e abril esfriaram os ânimos de retomada de demanda, maio tende a se mostrar como um mês de reaquecimento dos negócios – o Dia das Mães foi bastante positivo para diversos segmentos. A expectativa é de que o do consumo continue a acelerar em junho.
O presidente da fabricante de calçados esportivos Vulcabras, Pedro Bartelle, disse, recentemente, que maio estava dentro das expectativas, uma indicação positiva depois de ter dado férias coletivas aos funcionários das linhas de produção em abril por causa de fechamento do comércio. “Quando as lojas estão abertas, as vendas mostram crescimento ante o ano passado”, acrescentou.
Em linha similar, Thiago Hering, presidente da Cia. Hering, define as vendas do Dia das Mães como ótimas. Disse, há alguns dias, que os resultados nas primeiras semanas pós-abertura das lojas físicas se mostravam bastante positivos, criando a necessidade de reposição de estoques. A empresa de vestuário teve suas operações na fábrica em Goiás reduzidas para 15% a 20% da capacidade instalada por 22 dias, entre março e abril.
Além da reabertura do comércio e dos serviços, a distribuição do novo auxílio emergencial, embora inferior ao do ano passado, coloca mais dinheiro na praça. E com a antecipação do 13º salário dos aposentados, em parcelas distribuídas entre maio e julho, mais recursos devem movimentar a economia. A vacinação, se ganhar tração, deve ajudar.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, diz que a projeção de crescimento do setor de 8% pode ser superada, com destaque para a confecção.
No setor calçadista, Haroldo Ferreira, presidente da associação que representa essa indústria, diz que crescimento ante os dois primeiros meses do ano, que mostravam recuperação, só deve ser registrado em julho. “Em maio as companhias ainda estão operando com cerca de 50% da capacidade e deve ficar dentro disso em junho.”
Para a marca de itens de beleza e para casa Avatim, o Dia das Mães “foi uma grata surpresa”. “Como tem sido todo o mês de maio. Neste mês, que nem acabou, já batemos nossa meta e crescemos 35% em vendas”, diz Cesar Fávero, sócio-fundador da empresa baiana. As vendas da data cresceram 27% ante 2019, ano em que a pandemia da covid-19 ainda não existia. O resultado foi ajudado, é verdade, pelo aumento no número de lojas, mas houve crescimento de cerca de 4% quando comparado apenas o resultado das lojas que já existiam em 2019. Apesar do cenário incerto, a empresa mantém a projeção de aumento do faturamento de mais de 20% ante 2020 e 30% ante 2019, para algo em torno de R$ 140 milhões, e o total de lojas se aproxime de 200 unidades.
No setor de alimentos, que sentiu menos os impactos da pandemia, o ritmo agora é um pouco mais lento. Já não há mais a corrida por abastecimento que se viu no primeiro pico da doença e a segunda onda se somou a um cenário macroeconômico mais difícil, diz Heloisa Guarita, presidente da consultoria RGNutri, especializada em nutrição e alimentação e que atende a grandes empresas do setor. “Em março e abril vimos nossos clientes bem assustados. Vimos grandes indústrias freando investimentos”.
A subsidiária brasileira da japonesa Ajinomoto sentiu o efeito positivo da reabertura de bares e restaurantes em maio. A expectativa, agora, é de que o auxílio emergencial estimule as vendas no varejo. Normando Filho, diretor da Ajinomoto do Brasil, diz que o segmento de varejo tem demonstrado queda de 14% em maio ante mesmo período do ano passado, embora acelere 16,8% ante abril. Ele acredita que com o avanço da vacinação, esse segmento se estabilize enquanto a categoria de serviços de alimentação reacelere. O segmento de “food service” mostra aumento de vendas de 76% nas primeiras semanas de maio, em relação a maio de 2020.
A volta de bares, restaurantes, casas noturnas e eventos também é bastante esperada pelo setor de bebidas alcóolicas, que tem mais de 60% de suas vendas concentradas nesses canais. A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) calcula que ainda há uma perda média de 8% no volume de vendas.
Embora apostasse nos bares para fazer o primeiro contato com os clientes e a disputa nas gôndolas de mercado seja maior e mais acirrada, a cervejaria artesanal Praya tem conseguido se sair bem nas vendas pelo varejo. O diretor de comunicação e sócio da cervejaria fluminense, Paulo de Castro diz que as vendas cresceram, em base anual, 85% no primeiro trimestre e quase triplicaram em abril, o que pode repetir-se neste mês.
A empresa não abre faturamento, mas diz que tem buscado ampliar sua rede de varejo. Hoje a cerveja Praya pode ser encontrada nos supermercados do GPA, Carrefour Brasil e nas Lojas Americanas. Para o segundo semestre a aposta é no clube de assinatura, lançado em abril. Nele, o cliente pode receber mensalmente 18 garrafas long neck ou 24 latinhas da cerveja, além de brindes e descontos no varejo on-line.
Fonte: Valor Econômico