Por Marina Felippe | Um protocolo de apoio para casos de calamidades estruturado pela fabricante de cosméticos Natura no início da pandemia da covid-19, em 2020, foi utilizado mais de 20 vezes apenas para crises causadas pelas mudanças climáticas, sendo a no Rio Grande do Sul, a mais abrangente.
Na prática, o protocolo é um guia para a rápida ação de diferentes áreas da empresa. “Em momentos de crise não há tempo a perder. O protocolo auxilia nas orientações de negócios, saúde, entre outros”, diz Ângela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura, em entrevista à Exame.
Ações da Natura no Rio Grande do Sul
Com mais de 80 mil pessoas no estado do Rio Grande do Sul, entre consultoras, líderes e funcionários diretos e indiretos, a Natura está oferecendo suporte social, médico e psicológico por meio de telemedicina e de sua Central Social para consultoras de beleza, parceiros e funcionários.
A empresa também tem prorrogado pagamentos de consultoras ou perdoado dívidas em casos críticos, além de antecipar recebíveis de fornecedores locais. Além disto, haverá ainda a necessidade de reformar o Centro de Distribuição no município de Canoas.
Ainda foram doadas cinco toneladas de agasalhos e 10 milhões em produtos de higiene pessoal à Defesa Civil e ao Unicef, além de água e apoio logístico. “Temos 2 milhões de consultoras no Brasil, que se solidarizam com as que foram impactadas. Então, além de todo o apoio da Natura, temos visto a força do voluntariado delas junto à Defesa Civil em 489 cidades do Rio Grande do Sul”, diz Pinhati. Segundo a executiva, em casos específicos, como de maquiadores que perderam todo o material de trabalho, itens de maquiagem e beleza também estão sendo disponibilizados.
A Natura também lançou uma campanha de arrecadação combinada, conhecida como matchfunding, para ampliar o engajamento em suporte às vítimas. Cada real doado será dobrado pela empresa, com o objetivo de alcançar R$1 milhão doados por pessoas físicas e mais R$1 milhão doados pela empresa.
Crise climática na sociedade e nos negócios
Apesar da gravidade da situação no Rio Grande do Sul, Pinhati lembra que essa não é a primeira ação emergencial climática, e que os negócios precisam ser mais sustentáveis para a mitigação dos efeitos no clima.
“No ano passado, 17 mil consultoras foram impactadas pela seca na Amazônia. Com a baixa dos rios elas não conseguiam receber mantimentos ou despachar insumos para a Natura. Ali, mobilizamos pessoas para que o acesso acontecesse e elas tivessem a sobrevivência garantida. Isto é reflexo de como as crises climáticas estão mais frequentes, impactando diretamente a sociedade e as empresas, que precisam mudar o modus operandi”.
Metas de sustentabilidade baseadas na ciência
Para garantir a sustentabilidade dos negócios e da natureza, a Natura é carbono neutro desde 2007 e tem reduzido as emissões de carbono, além de oferecer apoio aos forncedores nesta frente. De acordo com Pinhati, a empresa já evitou a emissão de mais de 1 milhão de toneladas de CO2 na atmosfera por meio de projetos de inovação de baixo impacto. Além disso, compensou mais de 4 milhões de créditos de carbono de alta integridade, certificados com metodologias estabelecidas que garantem a permanência do carbono armazenado e verificáveis quanto ao impacto positivo para compensar as emissões.
Em maio de 2023, a Science Based Targets initiative (SBTi), em colaboração com as Nações Unidas, aprovou a meta de curto prazo da Natura &Co, comprometendo-se a reduzir as emissões absolutas de gases de efeito estufa dos escopos 1 e 2 em 90% até 2030.
“Vamos ainda reduzir as emissões absolutas de gases de efeito estufa do escopo 3, decorrentes de bens e serviços, transporte a montante e distribuição, e tratamento no final de vida útil dos produtos vendidos, em 42% até 2030 a partir do ano-base de 2020, em linha com o cenário de 1,5 °C segundo o Acordo de Paris”, diz. A executiva reforça que desde 2020 foram reduzidas mais de 30% das emissões.
A Natura avalia os impactos tanto para seus negócios quanto para a sociedade com o Integrated Profit & Loss (iP&L). Além disso, a empresa possui um histórico de metas de Sustentabilidade e ESG robustas e inovadoras que incluem a redução de emissões de CO2, uso sustentável de recursos naturais e proteção da biodiversidade.
“A tragédia no estado do Rio Grande do Sul é resultado de um modelo de desenvolvimento predatório ao longo de muitos anos. Mas não precisa ser assim. A Natura é um exemplo de que é possível conciliar desenvolvimento econômico com progresso social e ambiental, promovendo negócios ligados à bioeconomia da sociobiodiversidade”, conclui.
Entre os exemplos elencados pela executiva está o fato da Natura não utilizar em suas fórmulas ingredientes que impactam negativamente as metas de emissão de carbono. “Ao optar por insumos naturais, conseguimos reduzir significativamente nossa pegada de carbono e promover práticas mais sustentáveis. Além disto, não aprovamos novos produtos que sejam mais emissores do que as suas versões anteriores, por exemplo”.
Um exemplo é a busca pela inovação na cadeia da palma. “Estamos implementando sistemas agroflorestais com até 18 espécies de árvores nativas da Amazônia. No ano passado tínhamos 100 hectares neste sistema e agora já estamos com 500 hectares, sendo a meta atingirmos 40 mil hectares em 2035”.
Para Pinhati, os exemplos da Natura são parte do compromisso na transição climática, que deve ser assumida por mais empresas e governos. “Não podemos nos conformar com as catástrofes climáticas. É preciso mudança imediata para uma transição segura e justa que diminua os impactos negativos do clima”, finaliza.
Fonte: Exame