Por Guilherme Guerra | Não é de hoje que a Linus vem tomando os pés de hipsters em bairros paulistanos como Pinheiros, Vila Madalena e Santa Cecília. Mas agora a marca está investindo para conquistar os gringos descolados. Na Austrália, Chile e Uruguai deve chegar a mais 10 pontos de venda até o fim deste ano, chegando a 50 pontos internacionais de parceiros.
A Linus já entrou em países como Itália, Emirados Árabes e Nova Zelândia. “São países que têm match com o nosso produto, por conta do estilo de vida”, explica a fundadora e CEO da Linus, Isabela Chusid.
Fundada em 2018, a marca paulistana vende a R$ 176 um único modelo de sandália de tiras duplas, formato copiado da pioneira alemã Birkenstock, que segue em alta entre as influencers. Mas o jeitão do calçado é de Havaianas, com 24 cores diferentes, tamanhos do 34 ao 45, sem gênero e funcional para a praia, rua e casa.
O formato de expansão não é com loja própria ou franquia, mas multimarcas, o que reduz custos. “Apostar em parceiros é uma forma de aquisição de cliente, porque as pessoas nos conhecem em lojas físicas de terceiros e acabam retornando ao site para realizar a compra”, explica a CEO.
No Brasil, há somente uma loja própria da Linus, localizada em Pinheiros e que era o antigo escritório da empresa, reformado para se tornar a principal vitrine da marca. A companhia cogita mais duas unidades físicas conceituais. Atualmente, 65% do faturamento vem por meio de site próprio da marca, que está também em 450 multimarcas no país.
A empresária, de 29 anos, afirma que a Linus tem um negócio saudável financeiramente. Nos últimos três anos, dobrou venda anualmente. Para 2024, a meta é chegar a 75% a 100% (a companhia só fala em percentuais, sem revelar valores). Desde o primeiro mês de operação, a startup opera no azul, afirma a fundadora. A empresa nunca levantou capital com investidores externos e, neste momento, não busca VCs para turbinar o negócio.
Facilita a expansão internacional, diz ela, o fato de o modelo de sandália da Linus ser de baixa complexidade: não estraga, não quebra, não precisa de refrigeração para armazenamento nem de grandes operações logísticas – toda a fabricação é na região calçadista do gaúcho Vale dos Sinos e a armazenagem é em Extrema, em Minas Gerais.
A marca aposta em sustentabilidade, demanda cada vez maior dos consumidores. A sandália é feita inteiramente de PVC reciclado com óleo vegetal – totalmente vegano, portanto. “Lá fora, essa preocupação com sustentabilidade é maior do que aqui no Brasil”, avalia a fundadora.
A ideia para lançar uma sandália vegana surgiu quando Chusid, que tem problemas nos ligamentos, saiu em busca de um sapato ortopédico de dia a dia e que fosse amigável ao meio ambiente. Não encontrou nenhum produto acessível – marcas como SideWalk e Khelf vendem sandálias de duas tiras, mas sem o enfoque em ESG desejado por ela. Foi aí que ela decidiu abrir a empresa com R$ 50 mil próprios e um produto desenhado em seis meses com a ajuda de ortopedistas e calçadistas, praticamente inalterado desde então.
O design à moda Birkenstock, marca alemã de 1774 que consagrou o formato de sandálias com palmilhas anatômicas em duas tiras, não é coincidência. O modelo mais famoso é o Arizona, que foi usado por figuras que vão de Steve Jobs à Kendall Jenner, irmã de Kim Kardashian. “Esse é um modelo para todo mundo, existe há séculos, não saiu de moda e pode ser utilizado em praia ou em um ambiente mais moderninho”, diz Chusid, que confirma a inspiração na alemã. No Brasil, o modelo mais barato da estrangeira sai por R$ 390 e pode ultrapassar os R$ 1,1 mil, a depender do material.
Em abril de 2022, a companhia alemã deixou de ser propriedade familiar e foi comprada pela L Catterton, em negócio avaliado em US$ 4,9 bilhões. Após 250 anos de sua fundação no vilarejo de Langen-Bergheim, perto de Frankfurt, a companhia alemã fez IPO na NYSE em outubro de 2023 e voltou ao hype. A sandália da Birkenstock apareceu no filme Barbie, uma das maiores bilheterias do ano passado, e depois no Oscar 2024, quando o ator John Cena subiu ao palco do Kodak Theater totalmente pelado, calçando apenas as sandálias alemãs.
A Linus também surfou. “Demos sorte, porque eu não sabia que a Birkenstock voltaria à moda como voltou”, diz Chusid.
Fonte: Pipeline Valor