Por Carina Brito e Paulo Gratão
Planejamento estratégico, plano de carreira para funcionários e compra de unidades de repasse estão entre as principais ferramentas utilizadas por franqueados para crescer. A aquisição de lojas já gerou incertezas no franchising, por muitas vezes se tratar de uma loja que não vai bem. Mas começa a ganhar a simpatia dos empreendedores, que não precisam se preocupar com montagem inicial. “É uma forma segura de expansão, e a pessoa que compra pode recuperar parte do investimento na revenda, caso o negócio dê errado”, diz Denis Santini, CEO da comunidade de franqueados CommUnit.
As diferentes fórmulas para o crescimento de um negócio de franquia foram o principal assunto do Somos Multi, 1º Congresso de Franqueados do Brasil, realizado nesta terça-feira (28), no Allianz Parque, em São Paulo. Organizado pela CommUnit, o evento reuniu mais de 700 pessoas.
A taxa média de repasse entre as franquias brasileiras foi de 4,3% em 2023, de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF). Isso representa cerca de 8,4 mil unidades, entre 195.862 existentes naquele período. No ano anterior, no entanto, o índice havia sido de 2,5%.
Para Santini, ainda existe, entre os franqueadores, a ideia de que o repasse “suja a imagem da marca”. “Ele pode acontecer por diversos motivos. Às vezes, o operador não se adaptou bem ao negócio”, afirma.
O franqueado Erik Cavalheri, que tem 26 unidades do Boticário, começou com uma que pertencia a seu antigo chefe e não dava bons resultados. Para reverter os números, investiu em treinar e se aproximar da equipe. Quase metade de suas lojas foi comprada de repasse, e ele diz que vê o movimento crescer entre outros empreendedores.
Leandra Bisi Priante usou a oportunidade para assumir a liderança da 5àSec na Grande Belém (PA). A empreendedora tem 14 lojas da rede de lavanderias. Três anos depois de iniciar com lojas novas, apostou no repasse e hoje é a única na região.
A advogada Renata Pin lembrou no evento que a compra envolve duas negociações, com o franqueador e com o empreendedor que vende uma unidade. “Quem vende a franquia é a franqueadora. O franqueado comercializa seus ativos”, explica Pin, que recomenda a contratação de uma assessoria jurídica para o processo.
Para montar seus times, os empreendedores passaram a pensar em formas de reter os funcionários por mais tempo. Na opinião de franqueados que participaram do evento, a capacitação técnica tem perdido relevância entre os critérios de contratação e se tornado um diferencial para manter o colaborador.
Construir um plano de carreira dentro das unidades franqueadas têm sido uma das ações adotadas para diminuir o turnover das lojas, como mencionou o franqueado da Chilli Beans, Eduardo Félix, dono de 32 lojas da marca.
Na rede de óticas, a aposta tem sido mapear as necessidades das novas gerações. Caito Maia, fundador da marca, diz que a média de idade dos funcionários é de 18 a 22 anos, e que a percepção é de que oferecer capacitações que promovam uma possibilidade de promoção futura – como uma formação de técnico ótico – têm despertado mais atenção do que benefícios financeiros imediatos.
O planejamento estratégico é um dos pontos mais delicados para ter sucesso na expansão, pois o franqueado deve ter uma visão de cada operação, mesmo que comande múltiplas lojas. O ponto foi reforçado por Maurício Galhardo, chefe de educação da plataforma de gestão financeira F360. “É preciso fazer o ‘business plan’ para cada uma das lojas, para entender se alguma tem um nível de deficiência maior do que outra, por exemplo”, diz.
Essa dificuldade cresce à medida que os multifranqueados aumentam suas redes. Quanto mais lojas, mais ele se distancia da operação. “É preciso ter mais pessoas e softwares que ajudem a acompanhar métricas e agir rapidamente no que for necessário”, diz Jacqueline Augé, gerente de expansão e implantação da marca de acessórios Santa Lolla.
Fonte: Valor Econômico