Por Adriana Mattos | O GPA, dono da rede Pão de Açúcar, teve ganhos operacionais e financeiros no segundo trimestre, com efeito no recuo do prejuízo líquido. Em parte, isso reflete despesas internas crescendo menos que vendas e o menor efeito de juros na dívida, disse a empresa em teleconferência com analistas nesta quarta-feira (7).
Mas a empresa dependerá da sua capacidade de geração de receita daqui para frente, já que parte dos ganhos de corte de despesas internas já foi absorvida, e, além disso, a companhia não tem novas vendas de ativos na mesa, e isso sustentou recuo do endividamento desde 2023.
Esses questionamentos sobre vendas e capacidade de manter ganhos foram levantados algumas vezes pelos analistas durante a teleconferência, e a direção tratou de defender o trabalho em andamento. A ação abriu o pregão com leve alta, de 0,35%.
Três anos de “virada”
A empresa está na fase final do plano de três anos de “virada”, de 2022 a 2024, liderada por Marcelo Pimentel. De abril a junho, o prejuízo líquido consolidado caiu 22%, para R$ 332 milhões de perdas. Nas operações continuadas (unidades que a empresa manterá em operação), isso caiu 16%, e no acumulado do semestre, a perda subiu 5,6%.
Sobre o tema, o presidente disse que a empresa diz que o recuo na alavancagem financeira “não foi só venda de ativos, mas também maturidade da operação”, do plano de retomada em andamento, e que termina no fim deste ano.
“Alavancagem financeira ainda vai cair pela melhoria operacional que nos levará em recuo desse índice, mas não posso entrar em detalhes por motivos óbvios”, disse Pimentel.
Ele afirmou que as iniciativas tomadas desde 2022 estão trazendo alta nas vendas de lojas de proximidade, e ainda há ganhos na reformulação de Extra Mercado. Ainda afirmou que haverá algumas melhorias em despesas gerais, com vendas e administrativas, que deve ajudar nos números futuros.
O chefe da área financeira, Rafael Russowsky, disse também que deve ter ganhos com receita de “retail media” e com iniciativas de despesas operacionais. Sobre as vendas líquidas, de abril a junho frente a 2023, a empresa cresceu 2,5%, incluindo inflação alimentar em 12 meses, e 2,1% em vendas brutas.
As lojas de proximidade Minuto Pão de Açúcar e Mini Extra cresceram 22,5%, e o Pão de Açúcar avançou bem menos, 1,1%. O Extra Mercado encolheu 0,5%.
As vendas de lojas do programa “Aliados”, formado por unidades de parceiros de minimercados, o recuo foi de 19%. Em vendas “mesmas lojas”, com mais de 12 meses, o Pão de Açúcar cresceu 2,7%, Lojas de proximidade, 6,9% e Extra Mercado, 3,4%.
“Não vamos trocar venda por rentabilidade, e se não chegar em perfeição de elevar venda e rentabilidade vamos manter sem afetar rentabilidade”, disse Pimentel. “Partimos para o segundo tempo, para entregar neste ano o ‘turnaround’ com empresa mais bem preparada e estruturada para novos ganhos”.
De janeiro a junho, o prejuízo das operações continuadas subiu 5,6% e do consolidado, aumentou 47%, com impacto de aumento de despesas operacionais com a reestruturação em andamento (com fechamento de lojas) e com pagamentos de débitos de ICMS.
Fatia de mercado e inflação
Pimentel ainda foi perguntado sobre recuo na participação de mercado nacional, apesar do ganho em São Paulo. De abril a junho, as vendas brutas medidas pela Abras, a associação de supermercados, subiram mais de 3%, e a empresa cresceu 2,1%. Segundo o executivo, a empresa teve “performance [de participação] estável” no país.
GPA teve queda de nível de alavancagem de 10,6 vezes para 2,8 vezes a relação dívida líquida e ebitda, pré-IFRS, passada a fase de venda de negócios. O ebitda mede lucro antes de juros, impostos, amorização e depreciação. A empresa não informa o indicador pós-IFRS, ou seja, incluindo arrendamento de lojas.
O grupo já obteve R$ 2,6 bilhões com oferta de ações e venda de ativos desde início da operação de se desfazer de negócios — as vendas terminaram com saída de negócio de postos de combustível neste ano.
O GPA fechou sete lojas no segundo trimestre, sendo 5 Extra Mercado e 2 Minuto Pão de Açúcar. O fechamento de extra mercado levou a uma despesa operacional de R$ 55 milhões de abril a junho.
Sobre inflação e repasse de preços, Pimentel diz que comportamento inflacionário em categorias tem sido “bem diferente”. “Há inflação em algumas e deflação em outras, e no que tange a preços, com nossos focos em mercado premium, nós vamos manter o projeto de eficiência operacional para investir corretamente em ‘pricing’. Mas principalmente em frutas, há inflação bastante importante, que você repassa, mas evita ficar distante [dos competidores]”.
Fonte: Valor Econômico