Por Cristian Favaro |
A Amazon Brasil e a aérea Azul fecharam um acordo para ampliar as rotas usadas no transporte de encomendas da gigante americana. O negócio é mais um capítulo na corrida do e-commerce em busca de velocidade no transporte, cenário que tem movimentado diversos investimentos no Brasil e acirrado a disputa entre os transportadores. O acordo, que adicionou 18 rotas à operação para um total 42, abriu espaço para que a Amazon reduza o prazo de entrega de cerca de sete para dois dias em diversos Estados do Brasil.
Em conversa com o Valor, Alex Cristiano de Paula, líder de transportes aéreos na Amazon Brasil, sinalizou que o grupo já avalia oportunidades de negócio para aeronaves dedicadas por aqui. Recentemente, diversas aéreas firmaram parceria com grandes grupos de transporte, como o Mercado Livre e a Gol e a startup Levu e a alemã DHL, todas mirando a demanda do e-commerce.
Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o volume de carga transportado no mercado doméstico brasileiro totalizou 40,6 mil toneladas em julho, alta de 12,2% na comparação com 2023.
Com a expansão do acordo com a Azul, os prazos de envio para os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Amazonas, Rio Grande do Sul, Bahia e Maranhão vão ser reduzidos de sete para dois dias úteis, possibilitando entregas rápidas em cidades brasileiras como Fernando de Noronha (PE), Rondonópolis (MT) e Pelotas (RS).
“No e-commerce, quanto mais rápido você entrega, mais você vende. Em Fernando de Noronha, antes dessa ampliação de capacidade, a gente entregava entre 20 e 25 dias após o pedido. Agora, estamos na casa de 2 dias”, disse Cristiano de Paula.
A parceria entre a Azul e a Amazon começou em 2022 por meio de uma operação em Manaus. Desde então, 12 milhões de produtos foram transportados por diversas regiões do Brasil nas aeronaves da aérea brasileira.
Hoje, a Amazon entrega para 100% dos municípios, sendo mais de 1.300 cidades em até dois dias úteis e, em mais de 200 cidades, em até um dia útil para clientes Amazon Prime.
A operação via modal aéreo da Amazon no Brasil hoje é centrada na Azul e também na Total Express, empresa de carga que também tem a Amazon como sócia. Mas a capilaridade da malha aérea da Azul acaba sendo mais estratégica. A aérea atende a mais de 5.000 cidades, o que representa 90% dos municípios brasileiros e uma cobertura equivalente a 96% da população.
Não há uma exclusividade no transporte com a Azul e a Total, o que abre espaço para que a Amazon negocie e converse com outros operadores, segundo o executivo. “Uma das nossas atividades é avaliar o custo e a demanda, olhar para frente pensando no longo prazo e pensar se vale a pena o processo de trazer outro transportado para dentro”, disse.
Hoje, a operação da empresa está centrada no uso da barriga dos aviões de passageiros. Mas a Amazon já colocou no radar a busca por parceiros na operação de aeronaves dedicadas de carga. “Temos avaliado oportunidades de investimento para o futuro. Isso vai ser anunciado oportunamente. A operação que temos hoje no Brasil atende à demanda e ao custo que a gente precisa até o ano que vem”, disse.
Globalmente, a empresa tem operação de aeronaves dedicadas em mercados como Estados Unidos e Europa. No total, são mais de 100 aviões dedicados hoje prestando serviço à Amazon.
No e-commerce, quanto mais rápido você entrega, mais você vende”
— Alex de Paula
A força do e-commerce e seu imediatismo incentivaram a entrada de diversos concorrentes no mercado de transporte de carga aérea. Entre os nomes, nos últimos anos, estão a própria Total Express (que tem a Amazon como acionista), a Braspress e a Prosegur (está focada em transporte de alto valor).
Para além de empresas de logística, a própria Gol, que antes tinha uma operação tímida, hoje é a aérea com maior número de aviões cargueiros no mercado doméstico (seis, com possibilidade de dobrar até 2025), amparada por uma parceria com o Mercado Livre.
Já mais recentemente, em uma parceria semelhante, a DHL Supply Chain, braço do grupo alemão DHL em armazenagem e distribuição, deu os primeiros passos com operação dedicada de aeronaves cargueiras no Brasil em uma parceria com a novata Levu Air Cargo, startup com sede em Campinas (SP).
No total, a DHL programou um investimento de R$ 480 milhões e a Levu, outros R$ 530 milhões para o arrendamento de quatro aeronaves, com capacidade total de 10 mil toneladas por mês, assim como centros de operação nos terminais. A primeira aeronave entrou em operação em maio.
A Amazon chegou ao Brasil em 2011, inicialmente focada na comercialização de livros. O negócio se expandiu em 2019 para outras gamas de produtos no varejo. Naquele ano, a empresa tinha apenas um centro de distribuição no país. Hoje, são 10 centros, além de 90 estações de entrega de operação própria.
Desde que chegou aqui, a Amazon investiu mais de R$ 33 bilhões em infraestrutura e salários em áreas como logística, entretenimento, serviços de nuvem entre outros. O grupo não abre dados específicos sobre seus aportes apenas em infraestrutura de transporte no país.
Fonte: Valor Econômico