Por Helena Canhoni | O rápido crescimento do mercado de apostas esportivas no Brasil, que aumentou 89% entre 2020 e 2024, tem causado um impacto significativo no consumo e no orçamento das famílias brasileiras, especialmente nas classes mais baixas. Os dados são apresentados no estudo “O impacto das apostas esportivas no consumo”, realizado pela Strategy&, consultoria estratégica da PwC.
O volume total de apostas esportivas em 2023 foi aproximadamente de R$ 60 e R$ 100 bilhões, com mais de 400 empresas atuando nesse setor.
A importância das “bets” nos gastos das famílias brasileiras equivale a 76% do que elas destinam ao lazer e cultura, ou a 5% dos gastos com alimentação. Diante disso, é esperado um crescimento contínuo desse mercado, com potenciais repercussões em diversos setores do consumo.
O estudo correlaciona os números encontrados com a pesquisa Hopes & Fears, da PwC, concluindo que, em 2023, os brasileiros chegaram ao final do mês com menos dinheiro. O levantamento revela que apenas 37% dos trabalhadores do país conseguem terminar o mês com saldo positivo.
Luciana Medeiros, sócia e líder para o setor de Consumo e Varejo da PwC Brasil, explica: “precisamos estar atentos às novas tendências de mercado e aos interesses do consumidor brasileiro, refletindo sobre como ele pretende utilizar seu orçamento. No entanto, o que realmente está em questão é compreender como as apostas esportivas podem influenciar a renda final desse consumidor”.
Outra pesquisa, intitulada “Mercado da maioria”, também da PwC, aponta que 52% dos consumidores destinaram parte do dinheiro que costumavam aplicar em poupança ou em atividades de lazer – bares, restaurantes e delivery – para apostas esportivas.
“Entender como as apostas esportivas influenciam o comportamento do consumidor é desafiador, dado o cenário volátil”, afirma Gerson Charchat, sócio e líder da Strategy&.
Crescimento do mercado
A expectativa referente a movimentação dos mercados de apostas é que, em 2024, o valor fique entre R$ 89,9 bilhões e R$ 129,7 bilhões. Parte desses recursos é redistribuída na economia conforme os ganhadores investem em gastos familiares.
Contudo, uma grande parcela desse montante é “reinvestida” em novas apostas, permanecendo dentro do próprio sistema.Além disso, a cada aposta realizada, a “Casa” retém uma taxa (Gross Gaming Revenue – GGR), que é estimada em 12% do valor apostado.
O crescente mercado atraiu diversas empresas, porém o número pode se estabilizar com a nova regulação, que deverá tributar a atividade, reduzindo os lucros e, com isso, sua atratividade.
Perfil dos apostadores
A maioria dos apostadores online é composta por homens jovens de classe média baixa, com uma grande concentração no sudeste do país. Segundo dados do Instituto Locomotiva, de setembro de 2023, pelo menos 33 milhões de pessoas de baixa renda já participaram de apostas esportivas.
Dentre elas, 22 milhões fazem apostas ao menos uma vez por mês, o que representa 20% da população de baixa renda.
A pesquisa também revela que 54% dos entrevistados apostam motivados pelo desejo de ganhar dinheiro. Outras razões citadas incluem o gosto pela emoção e experiência (42%), a paixão pela competição (41%), o interesse em tornar os jogos mais emocionantes (36%) e o fato de ser um hobby (25%).
“É essencial entender o que os consumidores pensam sobre as apostas esportivas, quais são suas motivações, preocupações e as consequências desse comportamento. As mudanças nos hábitos de consumo decorrentes desse fenômeno terão impactos duradouros nas empresas dos setores de consumo, varejo, serviços financeiros e até saúde, para atender às demandas dessa nova realidade”, conclui Charchat.
Fonte: E-Commerce Brasil