Companhia prometeu, por exemplo, até 2030, aumentar em 50% a quantidade de indígenas, pretos e pardos em postos de gerência
Por Redação
Prestes a lançar seu relatório de sustentabilidade anual, a varejista de moda C&A vem trabalhando para garantir rastreabilidade de seus fornecedores, circular peças usadas — transformando-as em novos produtos — e mobilizar o segmento do varejo para a adoção de práticas ESG. As medidas fazem parte de uma agenda de metas da companhia a serem colocadas em prática até 2030 para intensificar práticas sustentáveis.
Dentro da companhia, isso já está enraizado. Agora, queremos provocar essa mudança fora da companhia, chamar a sociedade e o fornecedor — afirma Cyntia Kasai, gerente executiva de ESG da C&A Brasil, área que foi estruturada no ano passado, mas cujo assunto já estava no radar da companhia.
Em 2015, a empresa estabeleceu metas em nível global que projetavam uma operação que gerasse menos resíduos e fosse mais sustentável. A C&A almejava, na ocasião, ser conhecida como “a marca de varejo de moda mais sustentável”.
Os resultados têm aparecido: de acordo com a edição 2021 do Índice de Transparência na Moda, divulgado pelo movimento Fashion Revolution, a C&A foi a empresa do setor que mais bem divulgou práticas sustentáveis, à frente de concorrentes como Malwee, Lojas Renner e Lojas Marisa.
Agora, a companhia pretende ser a líder dentro de seu segmento na utilização de matérias primas sustentáveis. De acordo com o relatório anual da empresa, 80% das matérias primas principais — algodão, viscose e poliéster — devem ser oriundas de origem sustentável.
— Viscose e poliéster exigem investimento em inovação para termos insumos de origem reciclada ou insumos rastreados e certificados — afirma Kasai.
Atualmente cerca de 25% dessas matérias primas são sustentáveis. No caso do algodão, esse índice aumenta para mais de 90%.
A partir de julho, todos os fornecedores de algodão da companhia precisarão seguir os padrões da Better Cotton Initiative (BCI), organização sem fins lucrativos que criou um sistema de licenciamento de algodões mais sustentáveis.
A varejista quer capacitar os fornecedores que ainda não têm o licenciamento para que continuem negociando com a companhia.
— Não excluímos fornecedores, mas procuramos desenvolvê-los. Chegamos ao fornecedor e dizemos: “a C&A só trabalha com o BCI”. Se ele não trabalha, dizemos: “você precisa adquirir a matéria prima dessa, dessa e dessa fonte — diz a executiva.
Jeans circular
A C&A também vem investindo em economia circular. No ano passado, a companhia lançou um produto feito à base de peças doadas pelos seus clientes, o jeans circular. No sistema criado pela C&A, de operação própria, os consumidores podem depositar roupas usadas em pontos de coleta nas lojas. Em seguida, a rede separa e classifica a qualidade das peças recebidas, reutilizando materiais que não estão em condições de uso.
“O que é recolhido volta para a nossa cadeia, para que desmonte essa peça jeans, desfie o fio, desfie a malha e assim consiga ter uma nova coleção”, afirma Kasai. As peças reutilizadas também utilizaram 65% menos água do que o convencional durante o processo de lavagem.
Mesmo com o impacto da inflação nos insumos de produção, que acabam sendo repassados ao consumidor final e podem atingir lojas focadas em segmentos mais populares como a C&A, as peças sustentáveis não devem custar mais caro.
— Como é uma operação própria, a gente acaba absorvendo todo o custo. Repassamos ao cliente a peça pelo mesmo valor que custaria uma peça tradicional, ele não precisa pagar a mais por isso — diz a executiva da C&A.
A companhia fechou o ano de 2021 com 319 lojas em operação. Atualmente, todas as lojas da C&A na Grande São Paulo e algumas unidades dispersas no Rio de Janeiro e no Paraná já substituíram sacolas de plástico por papel, mas lojas de outros pontos do país seguem utilizando o material.
— O grande desafio é para as unidades das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, tanto pela distribuição como pela capacidade dos fornecedores — afirma Kasai.
A companhia tem como meta reduzir pela metade a quantidade de embalagens plásticas de uso único em suas atividades até 2030. De maneira mais ampla, a meta é incluir os princípios de circularidade em 50% dos produtos na forma como são projetados, produzidos ou reutilizados.
Diversidade
Nas unidades da C&A, as mulheres são a maioria. No ano passado, 69% da força de trabalho da companhia era composta por pessoas do gênero feminino. A varejista pretende que as mulheres cheguem cada vez mais a postos de comando.
— Se temos quase 70% na base, queremos que, no mínimo, 60% estejam na função gerencial — afirma Kasai. A companhia também busca, como parte de suas metas para 2030, aumentar em 50% a quantidade de indígenas, pretos e pardos em postos de gerência.
Sob pressão: Empresas encaram a diversidade e mudam estruturas para contratar mais negros, mulheres e LGBTs
Recentemente, a C&A endossou o “Manifesto Empresarial em Defesa da Ação Afirmativa”, documento em que organizações e mais de 350 empresas defenderam a divulgação de vagas para grupos específicos e criticaram a posição do LinkedIn, que havia excluído anúncios da plataforma.
— Queremos trazer cada vez mais a questão da etnia, formar novos líderes que atendam a essa diversidade, termos pessoas pretas, pardas e indígenas em posições de liderança — diz Kasai.
Condições de trabalho
No fim do ano passado, fornecedores da C&A e de outras marcas como Nike, Zara e GAP na Índia foram denunciados pela organização Worker Right Consortium – que analisa o cumprimento de direitos trabalhistas ao redor do mundo – por não pagarem sequer o salário mínimo do país a mais de 400 mil funcionários da indústria têxtil desde 2020.
Depois da divulgação do estudo e de uma ordem judicial que obrigava as empresas a pagarem o que estipulava a legislação indiana, a companhia afirmou, em comunicado, que exigiu o cumprimento da lei por parte de seus fornecedores, segundo o jornal britânico The Guardian.
No Brasil, a C&A garante que todos seus fornecedores precisam estar alinhado às políticas de compliance da companhia. Em 2006, a companhia foi acusada de utilizar imigrantes ilegais em sua cadeia produtiva, passando por jornadas que chegavam a 17 horas por dia em fábricas clandestinas de São Paulo.
À época, a C&A firmou um termo de ajustamento de conta com o Ministério Público do Trabalho, mas negou que tivesse contratado mão-de-obra ilegal em algum momento. Em 2011, foi a primeira empresa do segmento a assinar o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil.
— Novos fornecedores que não se adequarem às nossas políticas sequer entram — afirma Kasai.
Fonte: PEGN