Por Naiara Bertão | O lançamento do perfume masculino Arbo Intenso em março deste ano foi considerado um marco para o grupo Boticário. O produto chega ao mercado com embalagem mais sustentável, opção de refil e o objetivo de chamar a atenção dos consumidores para as estratégias de sustentabilidade da empresa.
O perfume é um desdobramento da linha Arbo, conhecida pelas notas olfativas que remetem à natureza. Mas, agora, além do próprio aroma, o novo item contribuirá para a bioeconomia da Mata Atlântica. Considerado internamente como o “embaixador de sustentabilidade” da categoria, Arbo Intenso é o primeiro de todo o portfólio do grupo a direcionar recursos para o fundo filantrópico da Fundação Boticário, entidade do grupo com foco em preservação ambiental e desenvolvimento de negócios de impacto.
Cerca de R$ 120 mil serão destinados ao programa que apoia o desenvolvimento de negócios de impacto nas regiões onde a fundação atua, especialmente no Paraná, Estado onde fica a sede do grupo Boticário. Essa é a primeira marca do portfólio que se interage diretamente com a Fundação e o primeiro aporte externo à iniciativa. A entidade já recebe, anualmente, 1% da receita líquida do grupo para alimentar seus projetos de proteção dos biomas Mata Atlântica e Cerrado em reservas privadas e ajudar a desenvolver o empreendedorismo de impacto nas comunidades vizinhas, com treinamentos e ajuda financeira.
Outra novidade do perfume é o uso de uma nova tecnologia, chamada Nature Print, que capta os cheiros – no caso, da úmida floresta da Ilha da Madeira (Portugal), sem extrair as matérias-primas naturais.
“A temática ESG é, no grupo, um conector dos nossos negócios”, comenta Luis Meyer, diretor ESG do Grupo Boticário, em entrevista exclusiva ao Prática ESG, da sede da empresa, em Curitiba (PR). “Nossos indicadores e rotinas estão relacionados à temática. A sobrevivência da nossa operação depende disso, já que nossos produtos dependem da natureza.” Segundo o executivo, das 15 metas da Agenda 2030 da ONU que o grupo persegue, cinco são pautas de diversidade e inclusão, duas da agenda social e o restante são todas ambientais, dada a simbiose com o modelo de negócio.
“Temos dois moonshots [ grandes problemas que exigem soluções complexas e inovadoras] ambiciosos: chegar a 150% de gestão de resíduos e reduzir a desigualdade social, impactando 1 milhão de pessoas do ecossistema da beleza até 2030”, aponta Meyer.
No desafio social, a empresa busca capacitar pequenos empreendedores do segmento de beleza. Uma frente, conta o diretor de ESG, é o de cursos. Durante a pandemia, lançaram conteúdos para quem quisesse aprender técnicas de cabeleireira e manicure. Em 2022, 40 mil mulheres participaram de algum programa de capacitação. Mas é no ambiental que o grupo concentra mais ações.
A intenção, com a meta, é cuidar de 100% do seu resíduo, que inclui embalagens, catálogos, comunicação visual de lojas, materiais de logística, entre outros, mas também de uma parte de outras empresas. A principal frente de atuação é com o BotiRecicla, programa de coleta de embalagens usadas de produtos.
“Ele já existe há 17 anos e vemos um gradativo crescimento. Mas há um grande desafio ainda de conscientização para que as pessoas participem”, diz Meyer, lembrando que é oferecido até um desconto em compras para quem levar frascos vazios às lojas.
Atualmente, são quatro mil pontos de coleta. O material descartado volta pelos caminhões de entrega à operação. Parceiros processam as embalagens para chegar a matéria-prima reciclada, parte usada pelo próprio Boticário e parte direcionada a outras indústrias. Há um time interno de design de embalagens que cria alternativas mais sustentáveis, além de receberem ideias de fornecedores. Hoje 77% dos produtos desenvolvidos no grupo utilizam material reciclado, de acordo com Meyer. O grupo começou ainda em 2020 um piloto para construção de lojas sustentáveis e, de lá para cá foram erguidas 37 unidades. Cada construção utiliza cerca de uma tonelada de plástico reciclado.
Mesmo com todo esse esforço, a empresa ainda tem um longo caminho, assim como outras empresas e setores, para chegar à completa circularidade. Segundo o último relatório de sustentabilidade do Boticário, divulgado em 2021, da meta de 150%, a empresa havia cumprido 32%.
O lançamento de Arbo Intenso, portanto, faz parte também de um esforço para chamar a atenção dos consumidores para a circularidade. A embalagem do novo perfume foi desenhada para ser menos poluente, a começar pelo frasco, que ganha em sua composição vidro reciclado (Post-Consumer Recycled, conhecido como PCR). Segundo Atílio Comper, especialista em marketing do Boticário, o percentual varia conforme a disponibilidade de cacos de vidro na indústria, um gargalo que outros setores também enfrentam.
“Fizemos o repacking em setembro do ano passado. Com ele, trouxemos melhorias para a embalagem, como a inclusão da válvula rosca e a tampa que passa a ser produzida com resina Polipropileno PCR”, conta Comper. A nova válvula é necessária para facilitar o uso do refil do perfume. “Queremos incentivar que os consumidores optem pelo refil quando terminarem o frasco. Ao usar o refil, há uma redução de 89% dos resíduos se comparado ao consumo de um novo frasco de desodorante colônia”, adiciona.
O Arbo Forest, outro item da marca Arbo, lançado em setembro de 2022, foi o precursor do movimento de refilagem na perfumaria do Boticário. Mas, hoje, as marcas Celebre e Glamour também já contam com refil para a colônia desodorante, cujo desafio de manter as mesmas características do frasco de vidro é maior por ser mais concentrada. Para a versão body spray, todas as fragrâncias já têm a opção refil.
Mas não é a única categoria com foco em embalagens sustentáveis. Ao todo, são 205 produtos com essa opção refil, incluindo itens das marcas Cuide-se Bem e Nativa SPA, de cuidados pessoais, Match, de cabelos, Make B, de maquiagem, os desodorantes masculinos, e Botik, de produtos faciais.
Além disso, o grupo tem em seu portfólio 1.334 opções de embalagens com algum grau de materiais reciclados. Os frascos da linha de desodorante e produtos de barbear de Malbec, por exemplo, possuem 20% de cacos de vidro – provenientes de refugo da própria produção de vidro -, 50% matérias-primas e elementos químicos, e 30% de vidro PCR reciclado. A estimativa da companhia é que 180 toneladas desses materiais sejam reutilizadas a cada ano. Outro exemplo vem da marca de cuidados com a pele Botik. Com o uso de material reciclado nos frascos de seus séruns e cremes de vidro âmbar, evita o uso de 23 toneladas de materiais novos por ano.
Para conseguir avançar em sustentabilidade, há um desafio da empresa de desenvolver a cadeia de fornecedores. Parte das diretrizes do Programa de Avaliação e Desenvolvimento de Parceiros (PADP), no qual participam os parceiros estratégicos, mais relevantes, já são relacionados a ESG. Duas vezes ao ano, os fornecedores que integram o PADP – cerca de 130 neste ano – respondem a um questionário que cobre temas de ética e integridade, ecoeficiência, diversidade e sustentabilidade corporativa, entre outros, recebem feedback e sugestões de aperfeiçoamento. Podendo contar, inclusive, com o apoio de especialistas do Grupo Boticário para projetos de melhoria.
O peso de indicadores relacionados à estratégia ESG dentro do programa para fornecedores passou de cerca de 5% para 10% nos últimos anos. Quem evolui em diversidade, por exemplo, de um ano para o outro, ganha pontuação bônus de 1%.
Fonte: Valor Econômico