Por Natália Flach | O aumento da renda em 2023 fez com que o brasileiro precisasse acessar menos pontos de vendas para abastecer a sua despensa. Se até 2022 o consumidor recorria a oito ou mais varejistas, no ano passado, ele passou a visitar em média 7,5 pontos de vendas, de acordo com levantamento feito pela Kantar Consumer Insights. Pode parecer uma diferença sutil, mas é reflexo de uma mudança no hábito de consumo. É que, pela primeira vez desde a crise econômica mais recente, o consumidor está conseguindo suprir as necessidades de casa com uma compra maior — e eventualmente mais cara —, sem ter de percorrer tantas gôndolas.
Não à toa, alguns canais perderam e outros ganharam a lealdade dos compradores. O atacarejo ficou do lado menos privilegiado dessa balança. O segmento recuou 2 pontos percentuais entre a base de consumidores, para uma penetração de 80,8%. Trata-se da primeira queda desde 2015, segundo Rafael Couto, diretor de análises avançadas da Kantar, divisão Worldpanel.
Do outro lado está o e-commerce, que manteve sua trajetória de alta, apesar de não apresentar o mesmo fôlego visto durante a pandemia. A penetração dos canais digitais aumentou 1 ponto percentual em 2023, para 22,2%, com destaque para a venda de unidades de mercearia doce (alta de 32,9%), bebidas (44,9%) e itens de higiene e beleza (24,5%).
A expectativa é que o consumo de bens massivos no Brasil continue em alta em 2024. Isso se deve à recuperação das “compras do mês”, que passaram de uma queda 3% em 2022 para uma alta de 9% em 2023. Isso não exclui as ocasiões fragmentadas de compras, que tiveram aumento de 4% e de 8%, respectivamente.
“É claro que esse cenário descreve a realidade principalmente das classes A e B, que têm maior poder de escolha. Os consumidores das classes D e E acabam limitados ao mercadinho perto de casa, que costuma ser mais caro do que os grandes varejistas. Isso acontece porque essas pessoas muitas vezes não têm carro para transportar as compras”, explica. O levantamento também aponta que promoções têm permitido aos consumidores equilibrar melhor o orçamento. “Muitos preferem comprar itens do dia a dia de marcas mais baratas para ter dinheiro para gastar em uma cerveja premium, por exemplo”, diz o diretor da Kantar.
Fonte: Valor Econômico