Por Adriana Mattos | Com a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, varejistas perdem vendas e estoque, há fábricas e galpões paralisados, e sinais de desabastecimento de mercadorias e combustível nas cidades. Indústrias moveleiras gaúchas falam em possível ruptura na produção que atende o Brasil, por falta de insumos, dentro de 15 a 20 dias, segundo associação do setor.
Nesse ambiente, o mercado começa a fazer contas, com projeções de perda de até 1,4% nas vendas do segundo trimestre de grandes redes de capital aberto, calculou o Bradesco BBI, caso a crise se estenda por dez dias – a Renner é a rede mais exposta a esse risco.
De acordo com o Índice Cielo do Varejo Ampliado, entre terça-feira (30) e domingo (5), as vendas caíram 15,7% no Estado recuo quase cinco vezes superior ao verificado no Brasil (-3,2%), frente a 2023. Em vestuário e bares e restaurantes, a venda despencou 49,5% e 37,8%, respectivamente.
Já os postos de gasolina cresceram 33,9% e varejo alimentar, 14,6%. Uma corrida às lojas pelo receio de desabastecimento fez a venda de ambos os segmentos disparar, e certos produtos sumirem das lojas, como garrafas de água.
“Redes pouco afetadas em sua estrutura, como o grupo Zaffari [de supermercados], estão vendendo muito, mas há muitas fábricas e centros de distribuição na região de ‘várzea’ em Porto Alegre e nos entornos, porque o terreno é muito baixo, que estão inundados”, diz um consultor de varejo que mora na cidade.
A Panvel, rede de farmácias gaúcha e uma das maiores do Brasil, tem dois centros de distribuição, e um deles, em Eldorado do Sul, está sem operar há dias por causa de dificuldades de acesso. Trata-se da maior central da rede no país.
O abastecimento da Panvel ao Rio Grande do Sul tem sido feito a partir do centro de armazenagem de São José dos Pinhais (PR), utilizado para abastecer as lojas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Por causa disso, mercadorias que seriam destinadas a esses outros Estados estão sendo enviadas aos municípios gaúchos que precisam de ajuda, apurou o Valor. Perguntada sobre atrasos no envio para as lojas em outros Estados, a rede não comentou e diz que o objetivo agora é ajudar a população.
A Renner informou ontem que 4% das lojas totais do grupo no país estão fechadas temporariamente. Com base nos dados de balanço, isso equivale a um terço das unidades do Rio Grande do Sul, estado sede da rede. A empresa não tem galpões no Estado e diz que o impacto no fornecimento de fornecedores à rede é imaterial.
Ontem, a Movergs, associação da indústria gaúcha de móveis, diz que teme ruptura na produção em 15 a 20 dias e há busca de rotas alternativas para São Paulo, apesar dos prazos de entrega mais longos. E diz que é possível que fábricas já tenham parado a fabricação.
A Multiplan, do setor imobiliário, interrompeu as obras de construção do empreendimento Golden Lake, às margens do rio Guaíba, que transbordou – ontem, estava cinco metros acima do limite.
Em outra varejista, a Quero-Quero, também de capital aberto, 41 lojas foram, de alguma forma, afetadas pelas enchentes, equivalente a 14% do total de pontos no país. “Meu receio não é agora, mas depois, quando a situação econômica das pessoas piorar. Não sabemos o que vai acontecer daqui para frente”, disse ontem à noite Peter Furukawa, CEO da rede. A empresa também tem enviado doações à população.
A empresa de móveis Florense, com cerca de 50 lojas no Brasil e faturamento estimado de R$ 400 milhões ao ano, tem alertado consumidores que as entregas terão atrasos nas cidades do Sul e Sudeste, apurou o Valor. A empresa tem produção na cidade de Flores da Cunha (RS), município com quase todas as ruas alagadas. Procurada, a empresa não se manifestou.
Fonte: Valor Econômico