Por Maria Luiza Filgueiras |A Shoulder está acelerando investimentos em mar ca, em abertura de lojas e quer construir um portfólio mais amplo de moda – o investimento na Oriba foi só o começo. A companhia começou hoje a mostrar os esforços do maior investimento em branding que fez em seus 43 anos e um reposicionamento de roupa útil para objeto de desejo, o que pode colocar a rede de moda feminina cada vez mais perto do primeiro bilhão em faturamento.
O plano de negócios é reflexo de uma decisão tomada pela família Majtlis há dois anos, quando deixou a mesa de negociação com o Grupo Soma. A opção por continuar seguindo um caminho independente estava diretamente atrelada à visão dos irmãos Beny e Monique Majtlis de que era preciso então colocar o pé no acelerador. Filhos dos fundadores Helio e Rosanne, eles assumiram em definitivo a área administrativa e de estilo nos últimos anos – ainda que estejam no negócio há 20 anos –, o que ajudou a Shoulder a praticamente dobrar o faturamento em cinco anos.
“Foi uma construção de tese. A gente nunca se viu só como uma marca, mas como uma empresa e obviamente o movimento de consolidação abrupto desse mercado obrigou a gente a refletir estrategicamente”, diz Beny, presidente da companhia. “O output disso é que deveríamos construir nosso próprio caminho mesmo, crescendo a Shoulder organicamente, que ainda tem um gap de participação de marca para ganhar, e uma outra avenida é aumentar o portfólio de marcas num caminho associativo.”
A Shoulder projeta fechar o ano com receita de R$ 770 milhões, 30% acima do ano passado. Hoje são 77 lojas em operação e, ao final de dezembro, serão 80 – passando, por exemplo, concorrentes como Le Lis Blanc (do grupo Veste) e Animale (do Soma) em número de unidades. A companhia vende, ainda, em 900 multimarcas no país e tem 20% das vendas oriundas dos canais digitais.
“A história da nossa família se mistura com a história da marca. Esse é um dos momentos de evolução da marca, que veio acompanhando as mudanças da mulher ao longo desses 43 anos, sem ser vítima da moda”, diz Monique, que começou na companhia na área de marketing e foi assumindo a chefia de estilo. Hoje é diretora criativa da Shoulder, conectando o processo de criação das coleções com as demandas e identidade nas lojas. A campanha demandou investimento de R$ 7 milhões, mais que o dobro do que a companhia aloca, em média, por ano.
“No primeiro momento essa roupa urbana era a roupa do trabalho, mas hoje é muito mais fluido esse guarda-roupa, a gente foi se adaptando muito bem, do jeans à alfaiataria. Definimos bem nossos códigos visuais, para ser uma marca diferenciada”, avalia. Isso não significa uma remarcação de preços nas lojas, por exemplo, mas abre espaço para inclusão de itens de maior tíquete nas coleções, com novos tecidos e cortes.
A companhia quer abrir oito lojas próprias por ano, de 2023 a 2026, quando Beny acredita bater R$ 1 bilhão em receita. A Shoulder não revela dados de rentabilidade, mas o sócio e gestor garante que a geração de caixa é suficiente para executar esse planejamento de médio prazo. A empresa também pode usar alavancagem para isso, já que a dívida hoje é próxima de zero. “A gente não tem medo de dívida, sempre tivemos bom relacionamento com os bancos”, diz o presidente da varejista.
Mas a Shoulder também cogita ter sócio no futuro, seja numa transação privada ou numa abertura de capital. “Com a possibilidade de novos negócios, pode fazer sentido trabalhar uma captação. Temos relacionamento ainda superficial mas já existente com mercado de capitais, para mostrar os pontos fortes da Shoulder quando fizer sentido partir para um modelo de sociedade mais complexo”, diz Beny.
O equity também pode ajudar no plano de casa de marcas, trazendo caixa ou como moeda de troca. A companhia não quer desenvolver novas redes, mas comprar participações em operações já existentes – o primeiro movimento foi a fatia minoritária na Oriba, de moda masculina. Hoje a Shoulder tem conversas com outras marcas, mas sem aquisição prevista no curto prazo.
Fonte: Pipeline Valor