Por Daniela Braun – Na primeira manifestação pública desde que passou a ser o principal alvo de críticas de grandes varejistas brasileiras, a plataforma digital chinesa Shein diz que vai aderir às novas regras aduaneiras a partir de agosto.
Ao aderir, a Shein terá isenção do imposto de importação de 60% para compras on-line de até US$ 50. Para isso, precisa seguir regras de “compliance” do programa Remessa Conforme, como transparência e ações éticas no ato da venda e do envio.
Na estratégia de ter mais etiquetas locais do que “made in China”, a Shein conta atualmente com 164 fábricas parceiras no Brasil, sendo 114 em produção (algumas desde janeiro), informou o presidente do conselho da Shein para América Latina, Marcelo Claure, ao Valor. Até 2026, a empresa espera nacionalizar 85% das vendas no Brasil.
Claure discorda da percepção, de cadeias locais, lideradas pelo IDV, o principal instituto do varejo brasileiro, de que a isenção tributária seja uma vantagem desleal para as plataformas estrangeiras como Shein, Shopee e AliExpress. “Para as varejistas [brasileiras], a vantagem competitiva da Shein é imposto, mas isso é completamente equivocado, pois o diferencial é o modelo de negócio”, disse o executivo, referindo-se ao sistema de produção sob demanda. “Temos somente 2% de inventário”.
A Shein acelera a produção dos lotes com alto giro, que realmente “caem” no gosto do consumidor, e em poucas horas, distribui toneladas de coleções de marca própria, em envios com frete baixo, muitas vezes subsidiado. Para as redes brasileiras, o modelo permite a entrada de produtos que não pagam imposto corretamente no país. A Shein diz que segue as normas locais de todos os países onde opera.
O executivo diz que a empresa está “investindo tempo e recursos” para aderir ao Remessa Conforme logo na estreia, prevista para 1º de agosto. “É ótimo que o governo acelere tudo isso”, disse.
A empresa que adere ao “Conforme” no chamado “canal verde”, terá o desembaraço automático da mercadoria pela Receita Federal, tendo repassado informações prévias sobre a remessa. E se uma empresa não faz o envio de dados antecipados (dois dias antes da entrada do lote no país) ou frauda informações, sai do programa.
Em abril, ao anunciar um investimento de R$ 750 milhões no país, incluindo parcerias com 2 mil fábricas locais até 2026, o executivo conta que pediu ao ministro da Fazenda Fernando Haddad a criação de um grupo de trabalho para uniformizar as regras dos varejistas on-line. “Pedi ao ministro regras claras para todo mundo”, disse.
Outro grupo, o das varejistas brasileiras, se reúne nos próximos dias com Haddad para retomar a proposta de taxar as importações de até US$ 50. Segundo apurou o Valor, o varejo tem analisado taxas entre 35% e 45%.
Na ponta do lápis, Claure afirma que o custo de produção no Brasil não será alto. “Queremos estar mais perto do consumidor fabricando no país”, argumenta. O Brasil é o terceiro país a ter produção local para a Shein, depois da China e da Turquia.
Nacionalizar 85% da produção em três anos não é o grande desafio da Shein no Brasil, tendo em vista que grandes varejistas de moda também trabalham com uma média de 80% de produtos nacionais, avalia Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail.
“A empresa precisa enfrentar alta carga tributária, custos com transporte e se manter competitiva em linhas de produção como malhas sintéticas e estamparia, que não são o forte do Brasil”, observa o consultor e conselheiro de empresas de varejo. “É muito difícil replicar com fornecedores brasileiros a velocidade e o preço do que estão fazendo na China”.
Um dos parceiros locais de manufatura é a Coteminas, que enfrenta dificuldades financeiras. Na quinta-feira (13), a companhia anunciou 721 demissões na unidade de Blumenau (SC).
Claure negou rumores sobre eventuais favorecimentos da Shein à Coteminas, empresa comandada por Josué Gomes, presidente da Fiesp. “Quero ajudar a Coteminas, entregando mais pedidos para que ela fabrique muito. Não há nada mais do que isso”, frisou o presidente da Shein para a América Latina.
Criada em 2008, em Nanquim, na China, pelo empresário Chris Xu, a companhia foi batizada inicialmente de ZZKKO, com foco na venda de vestidos de noiva, a preços populares. Depois ganhou o nome She Inside (“ela por dentro da moda”, em tradução livre), para reforçar a proposta de inclusão do público feminino na moda, de forma acessível. A Shein venda para 165 países, tem escritórios em 19 e contrata 11 mil pessoas no mundo, sendo 240 no Brasil.
Em novembro, começou a abrir lojas físicas temporárias (pop-up stores) em capitais brasileiras. No sábado (15), a Shein deve abrir uma loja temporária em Belo Horizonte (MG), com 11.500 peças, sendo 4 mil fabricadas no Brasil. (Colaborou Adriana Mattos).
Fonte: Valor Econômico