Por Adriana Mattos – Em processo de reestruturação desde a mudança no comando, em março, a Via, dona da Casas Bahia e da rede Ponto, tem reduzido o quadro de pessoal nas últimas semanas, apurou o Valor. A ideia é enxugar a estrutura de maneira que isso faça parte de um movimento mais organizado de geração de economias e redução de despesas.
Segundo uma fonte, nesta semana foram dispensadas cerca de 100 pessoas na área administrativa. O enxugamento, ainda em implementação, tem envolvido diferentes departamentos, hierarquias (inclusive médio escalão) e negócios. A intenção é ganhar produtividade e eficiência, dentro de um quadro mais enxuto.
A varejista tem números relativamente estáveis de pessoal nos últimos anos, mas ficou mais “pesada” após avançar no marketplace e em serviços. O grupo fechou o ano de 2022 com 46 mil funcionários, segundo formulário de referência na B3 – eram 45,9 mil em 2021. Dois anos antes, em 2019, quando os atuais controladores assumiram o negócio, a operação somava pouco mais de 41 mil.
Segundo informações que circulam no mercado desde junho, ao fim desse processo, a redução pode atingir entre 10% e 15% do quadro, a depender do departamento, dentro de uma lógica também de redução de hierarquias e priorização de projetos. Já foi feita também, em junho, uma redução de pessoal no banco digital da rede, o banQi, que passa por ajustes. Sobre o assunto, a Via preferiu não se manifestar.
Em abril, o Valor noticiou detalhes da estratégia a ser implementada pelo grupo com a mudança da direção – saiu Roberto Fulcherberguer e entrou Renato Franklin, ex-CEO da Movida, para liderar a Via (Casas Bahia e Ponto). O executivo Orivaldo Padilha, vice-presidente de finanças, trazido por Fulcherberguer em 2019, também deixou a rede em junho para a entrada de Elcio Mitsuhiro Ito (ex- Iochpe-Maxion).
A nova gestão tenta fazer o grupo voltar a crescer naquilo que ela acredita que faz melhor do que os concorrentes – como financiamento em carnês e logística. Tenta implementar mudanças na alocação de capital dentro da companhia, voltando foco para essas e outras áreas, disse uma fonte ao Valor na época. E estuda formas de fazer uso mais racional de investimentos em marketing.
A nova gestão ainda terá que reconquistar a confiança de parte dos investidores, dizem alguns gestores – a Via mostrou certos indicadores abaixo do esperado.
O Valor apurou que bancos de investimento têm levado para a Via a ideia de avançar numa oferta subsequente de ações (“follow-on”), aproveitando uma possível “janela” que pode se abrir no segundo semestre, mas não há decisão nesse sentido.
Na avaliação de uma pessoa a par do assunto, é muito mais um desejo dos bancos voltarem a colocar operações na rua, do que um plano organizado dentro da varejista agora. A Via ainda perde valor de mercado no ano (14% de queda) e uma oferta levaria à diluição dos sócios.
A renegociação das dívidas mais pesadas com bancos em 2023 evoluiu no primeiro semestre, ainda na gestão antiga, envolvendo cerca de R$ 850 milhões, mas há vencimentos ao longo de 2024 (de R$ 1,5 bilhão). Isso vem gerando expectativa entre investidores de algum movimento de nova captação de recursos, no país ou no exterior, ou de uma oferta de ações.
A companhia anunciou em junho a captação de R$ 1,11 bilhão com uma emissão de debêntures, que entrou nesse plano de troca de dívidas. O valor foi para pagamento de Cédulas de Crédito Bancários (CCB) com vencimentos no segundo e terceiro trimestres, e para um resgate antecipado integral de notas comerciais, também com vencimento no segundo trimestre.
Outras empresas vêm sendo sondadas pelos bancos com essa mesma narrativa, de entrarem numa “janela” no segundo semestre, considerando que passaram meses sem fechar transações e tentam retomar esse tipo de negócio.
Fonte: Valor Econômico