Por Fernanda Guimarães e Monica Scaramuzzo | A Lojas Marisa deu início a conversas para buscar financiamento por meio de um instrumento de dívida híbrida, que poderia ser conversível em ações, apurou o Valor com três fontes próximas à operação. A varejista tem como objetivo ganhar fôlego financeiro para seus vencimentos de curto prazo em meio a um processo de reestruturação da companhia.
Neste momento, o foco da rede de moda é “consertar sua estrutura de capital”, segundo uma das pessoas familiarizadas com o tema e que falou na condição de anonimato. O financiamento por dívida conversível em ação, contudo, não é a única saída colocada na mesa.
Outros caminhos poderão ser um financiamento de mezanino — levantamento de dívida que não precisa necessariamente ser convertida em equity ou somente uma parte em ações — e até mesmo injeção de capital por parte da família. “Toda essa discussão ainda é inicial”, disse essa fonte, que preferiu falar sob condição de anonimato. Outra fonte disse que a família deu sinais positivos de que, se necessário, poderia capitalizar a empresa.
A gestora Apollo teria sido sondada por interlocutores da rede para o processo. Fontes próximas à gestora afirmam, no entanto, que a operação de varejo não faz parte do ‘core’ do fundo.
No início de fevereiro, a rede de moda feminina tornou público seu processo de reestruturação financeira e operacional, diante de pressão de vencimentos de dívidas este ano. A empresa contratou o banco BR Partners e a consultoria Galeazzi, que estão assessorando a companhia. Outra mudança no esforço para reerguer a rede foi a mudança do comando, com a chegada do executivo João Pinheiro Nogueira Batista, que tem em sua bagagem farta experiência em reestruturação de empresas.
Na quinta-feira, dia 4, os assessores da companhia deverão se reunir com os acionistas.
Pesou sobre a empresa, que já buscava uma reestruturação financeira nos últimos meses, os efeitos da crise de crédito provocada pela descoberta do rombo contábil da Americanas, evento corporativo que colocou na berlinda, em massa, o setor de varejo, que viu a torneira de crédito se restringir. De acordo com outra fonte, o endividamento com os bancos está equacionado. “As conversas vão focar nos fornecedores”, afirmou, sem detalhar.
No final da semana passada, a Marisa anunciou uma injeção de capital de R$ 90 milhões em sua financeira M Pagamentos por meio de debêntures subscritas integralmente por seus acionistas controladores, a família Goldfarb, para enquadrar a marca ao capital mínimo exigido pelo Banco Central (BC).
Antes, a companhia tinha vendido um pacote de crédito tributário para o fundo Quadra, por R$ 100 milhões, diante de um valor de face de R$ 380 milhões. No ano passado a Marisa encerrou com um prejuízo líquido de R$ 391 milhões, ante uma perda de R$ 93 milhões em 2021. A dívida bruta ao fim do ano passado estava em R$ 874,6 milhões, sendo vencimentos de R$ 180,4 milhões no curto prazo.
Outra medida já anunciada no sentido de ajustar a operação foi o plano de fechar até 90 lojas físicas, ou seja, 30% do contingente da rede.
Procurados, Marisa e BR Partners não comentam. Nenhum porta-voz oficial da Apollo foi encontrado para se manifestar sobre o assunto até o fechamento desta edição.
Fonte: Valor Econômico