Troca de produtos se intensificou neste ano; rede se prepara para abrir lojas do Extra após agosto
Por Adriana Mattos e Raquel Brandão
O brasileiro vem trocando marcas líderes pelas mais baratas nas lojas de atacarejo, um dos últimos canais a sentir os efeitos de crises econômicas – o negócio já opera com preço médio de produtos de 10% a 15% abaixo dos supermercados. “Estamos vendo um ‘trade down’ de 7% a 8%. Se você pegar o mesmo quilo comprado, e atualizar pela inflação, observa a queda”, diz Belmiro Gomes, CEO do Assaí, durante a “Live do Valor” ontem.
Esse movimento de migração para marcas mais acessíveis foi sentido, inicialmente, em 2021, e avançou ao longo deste ano, impactando as vendas “mesmas lojas” do setor (com mais de um ano de funcionamento). Apesar disso, segundo Gomes, o fluxo de clientes se mantém ascendente, reflexo da busca por canais mais baratos. A NielsenIQ identificou alta de 21% nas vendas do atacarejo de janeiro a março, apurou o Valor (em 2021, subiu 15%). Mas não há retração expressiva de volumes hoje, por conta do “trade down”.
De janeiro a março, o Assaí aumentou em 21% as vendas líquidas e em 6,7% as vendas “mesmas lojas”. Para efeito de comparação do ritmo de crescimento, de outubro a dezembro, a alta nas vendas líquidas alcançou 8%, enquanto em “mesmas lojas” houve queda de 3%. O concorrente Atacadão cresceu 18,6% em vendas brutas de janeiro a março, e cerca de 9% nas unidades em operação há mais de um ano.O executivo lembrou ainda que há “pouco efeito prático” nos preços com a guerra entre Rússia e Ucrânica (com exceção de alguns itens que são commodities em alimentos, como trigo e óleo). “Tem parte [da subida] que é fato, mas tem parte que é boato. É preciso cautela para olhar e ver o que é realmente fato que justifique.”
Gomes ainda comentou sobre o principal projeto da companhia no ano, a conversão de 40 lojas do Extra em Assaí em 2022. A empresa comprou 70 hipermercados do GPA por R$ 4 bilhões em 2021, e parte será convertida nos próximos meses. As lojas estão em obras e as aberturas devem se iniciar entre fim de julho e setembro. As inaugurações devem ocorrer de forma mais dispersa pelo país. Em todo o ano, passam a funcionar 50 novos pontos (entre conversões e lojas novas).
Cada obra deve consumir de R$ 35 milhões a R$ 40 milhões, diz ele, em média, abaixo dos R$ 70 milhões necessários para uma loja nova nas mesmas características (metragem, local) do ponto do Extra. Se ficar nesse piso, serão R$ 2,4 bilhões investidos nas obras.
Gomes chama a atenção para uma conta que o mercado tem feito, baseando-se apenas em número de lojas. “São quase meio milhão de m2 de área de vendas [com os 70 Extra]. Essas lojas equivalem a 100, 110 unidades em tamanho de área de venda que nós vínhamos abrindo. Olhar só loja não traduz tudo”.
Ao se considerar, portanto, essa centena de lojas, ela representa quase a metade do total de unidades do Assaí, com 216 pontos. Num cálculo incluindo o banco de terrenos da empresa, número atual de unidades e as lojas do Extra, são 330 pontos comerciais.
Como o volume vendido pela rede Extra, nas regiões onde atuava, acabou sendo absorvido pelos concorrentes desde o fechamento das unidades, anunciado em 2021, o Assaí abrirá os pontos tendo que disputar essa venda. Analistas entendem que esses movimentos pressionam margem, já afetada no fim do ano passado. “Nós acreditamos que parte disso volta para a gente. Nossa estrutura será muito superior a dos concorrentes.”
“Por exemplo, são lojas com 900 vagas de estacionamento [a média no atacarejo é 400]. Óbvio que há um trabalho a ser feito, mas é menos preocupante do que quando se abre uma loja nova orgânica.”
Em algumas dessas lojas devem ser implementadas iniciativas testadas em unidades mais premium, voltadas para as classes A e B – Gomes não informa quantas lojas teriam esses perfil. Em dezembro, o Assaí abriu uma loja com esse formato na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Sobre esse formato, executivos do setor questionam o aumento nos custos de um modelo que nasceu com foco em gastos baixos e repasse disso ao preço.
“Nós temos limites determinados, e não passamos disso. Em 2010, uma loja custava 11% [da receita líquida] e hoje isso está em 9%, mais 0,8 ou 1% de despesas administrativas. Defendemos o modelo com foco em preço, mas entendemos que esse é um cliente com outra expectativa e é preciso adaptar a loja […]. Além disso, são pontos bem localizados, e um bar ou restaurante aceita determinados preços para não ter que fazer grandes deslocamentos para ir até um atacarejo mais distante”.
Sobre as 24 lojas da rede de atacado Makro que estão à venda, como antecipou o Valor dias atrás, elas não devem ser alvo de interesse do Assaí. “A companhia está sempre atenta a qualquer oportunidade que possa ter no mercado, mas nosso objetivo nesse momento é na conversão do Extra”.
Fonte: Valor Econômico