Varejistas e governo estão em conversas para criar, entre os dias 6 e 15 setembro, uma nova data promocional para os setores de comércio e serviços, chamada “Semana do Brasil”. O Valor apurou que, para dar fôlego à data, está em discussão a proposta para reduzir ou isentar eletrônicos e eletrodomésticos vendidos durante o período da cobrança do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
A ideia partiu do governo, dentro da estratégia de criar ações que gerem vendas e movimentem a economia, que ainda avança lentamente. Seria uma espécie de nova “Black Friday”, mas numa menor proporção, considerando o período curto para planejamento. A atual “Black Friday”, no fim de novembro, será mantida.
A proposta ganhou força após o avanço do projeto de liberação parcial dos recursos do FGTS, que começa em setembro. O governo estima que devem ser liberados R$ 42 bilhões em recursos do fundo em dois anos.
A princípio, o mote da iniciativa, que deve nortear as campanhas das empresas envolvidas, será “Brasil em Verde e Amarelo”. Um vídeo, elaborado pelo governo, enviado à lideranças do varejo, diz que setembro é a “cara do Brasil” e que as empresas poderão criar “produtos temáticos” com intenção de “valorizar o que é nosso”.
Segundo fontes a par das conversas, a primeira reunião sobre o novo evento promocional ocorreu na quinta-feira passada, no IDV, o instituto do varejo, em São Paulo, com presença de Fábio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), ligada à Presidência da República, e que tem liderado a discussão. Ali, a questão sobre mudanças na cobrança dos impostos foi mencionada pelas redes.
O governo se comprometeu a avaliar a viabilidade com a área econômica, sem maiores garantias, apurou o Valor. As redes repassariam a alteração aos preços.
Quando o IPI caiu no país, em 2009, os preços de eletrodomésticos nas lojas diminuíram entre 3% e 10%. No caso do ICMS, uma mudança exigiria negociação com os Estados, onde ocorre a cobrança.
Estiveram no encontro, além da Secom, empresários como Flavio Rocha (Riachuelo), Meyer Nigri (Tecnisa), Roberto Fulcherberguer (Via Varejo), Marcelo Silva (IDV e Magazine Luiza). O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, acompanhou o fim da reunião de forma remota. Agências e veículos de comunicação também mandaram representantes, para discutir a criação e veiculação de campanhas em programas na TV aberta.
Além do varejo, para tentar dar à ação um peso maior, o governo quer estender a data ao setor de turismo, hotelaria, concessionárias e fabricantes de automóveis, bancos, entre outros. Uma nova reunião está prevista para esta quinta-feira, e a ideia é contar com a participação da associação das revendas de automóveis (Fenabrave), dos bancos (Febraban) e dos shoppings (Abrasce). O plano é ter edições anuais da “Semana do Brasil”.
No mercado, a questão central está em criar um evento “do zero”, em 40 dias. “O tempo é muito curto. Avisamos que não será um negócio com o mesmo ‘barulho’ da ‘Black Friday’, que já tem anos. Mas o varejo deixou claro que apoia a ideia. Setembro é um mês fraco para o setor”, diz um executivo. O mês tem o menor ritmo de crescimento do segundo semestre, segundo dados do IBGE. A fonte ressalta ainda que apesar do apoio, o projeto ainda está sendo discutido e precisaria avançar logo para sair do papel.
Varejistas ouvidos acreditam que a ação não deve esvaziar a “Black Friday”, mas pode não ser lucrativa. A intenção é criar promoções que não concorram com a data de novembro. E também que não se concentrem apenas em descontos, mas em “benefícios ” ao cliente, diz uma fonte. “Pode ser algo na linha, ‘pague um e leve dois’ para não ficar com foco no desconto, que é o forte da Black Friday”.
O comércio deve desovar na data parte do estoque que já carrega do primeiro semestre, período com demanda ainda fraca, mas teria que fechar novas compras de produtos da indústria. Neste mercado, há cronograma de compra e venda definidos com meses de antecedência.
“Para setembro, será mais uma compra pontual, de emergência, para reforçar o estoque. E não acreditamos que vamos ‘fazer’ muito dinheiro com isso. A própria Black Friday levou anos para dar algum lucro”, diz um varejista de eletrônicos. “Quem entrar nessa agora, será pensando em ganhar algo lá na frente, caso a data de setembro se consolide.”
Fonte: Valor Econômico