A Chilli Beans está com planos ambiciosos para 2019 e os seguintes, com a perspectiva de passar dos atuais 800 pontos de venda para cerca de 1.200. A aposta será em cima, principalmente, dos óculos de grau, que devem ganhar lojas com design próprio. Segundo Caito Maia, CEO da empresa, é a Chilli Beans indo além do “mundo vermelho”. As novas lojas devem contar com um apelo vintage.
A grife de óculos e relógios também conta com seu novo produto para catapultar a marca, o Chilli MOB Cruise, cruzeiro para o consumidor final que terá sua primeira edição em maio deste ano. Ao portal NOVAREJO, Maia disse que 2018, ano no qual ainda ecoou a recessão econômica, foi o momento de “fazer o feijão com arroz” bem feito, o que, segundo ele, foi conseguido com êxito. Na internet, por exemplo, as vendas aumentaram 40%.
A novidade para este ano pode incluir também a recompra, por Caito Maia, dos quase 30% das ações da Chilli Beans que estavam nas mãos do fundo Gávea. Em 2012, a varejista vendeu parte das ações ao fundo. O CEO da empresa não comentou as negociações, mas diz que tanto seu estado de espírito quanto o da Chilli Beans para 2019 são de “animação”, como costumam ser.
O executivo alertou ainda sobre o que ele chama de demagogia nas campanhas de marketing que tem se proliferado no mercado a favor da diversidade. “As pessoas nem pegavam o currículo de um tatuado, muitas vezes de um homossexual. Infelizmente, isso continua acontecendo até hoje. As coisas não mudaram tanto”, avalia. Confira a entrevista completa:
NOVAREJO: Quais são os planos da Chilli Beans para os próximos anos?
CAITO MAIA: A gente está muito animado porque tivemos um 2018 muito legal, e o motivo principal é que a gente fez a nossa lição de casa. Estamos muito animados para os próximos cinco anos. Acho que, de uma maneira resumida, a gente quer chegar em 1.200 pontos de venda nos próximos cinco anos no Brasil e no exterior. Hoje são 842 e estamos no caminho. O plano é continuar o trabalho sensacional que a gente fez no ano passado, o tal do arroz com feijão bem feito, entendendo o potencial de consumo do brasileiro nesse momento, entendendo o quanto ele pode gastar, o quanto ele pode consumir. E a gente vai lançar uma marca de grau nova para fazer um trabalho lindo no Brasil e, de novo, sacudir o mercado brasileiro.
NV: Os óculos de grau vão ganhar mais espaço nas prateleiras?
CM: Talvez eles ganhem uma nova loja porque a gente sentiu que existe uma demanda tão grande que a gente pode trabalhar isso num espaço e num momento diferentes para o consumidor. A gente acha que tem potencial e é isso que a gente vai explorar neste ano.
NV: Nova loja significa novo design?
CM: Exatamente. Um ambiente novo. Você tem o “mundo vermelho” e agora você vai ter um mundo mais vintage.
NV:A expansão será com foco nos shoppings ou nas lojas de rua?
CM: A minha visão é 360, de exercitar todos os canais, simples assim. A loja de rua tem uma grande oportunidade porque temos apenas 180, é muito pouco ainda. Podemos ter muitas lojas de rua e já aprendemos a ir para a rua. Tem esse caminho muito interessante. Em relação ao shopping, temos outros exercícios, como continuar crescendo com a Chilli Beans e com essa oportunidade desse conceito novo que a gente vai lançar.
NV: O que pensam de novidade para o e-commerce?
CM: Não acredito em hipótese nenhuma que uma marca se sustente só no e-commerce, não acredito nisso. Eu acredito no 360, que eu vou falar com você, como consumidor moderno, em todos os canais. Eu vou te pegar on-line e depois você vai para o off, na minha loja, pegar os óculos, e experimentar da melhor maneira possível. A gente põe bastante esforço, bastante dinheiro e energia no site, que está indo cada vez melhor. No ano passado cresceu 40%, mas é uma mistura de todos os pontos de venda. O on e o off se ajudam e se alimentam.
NV: Pensam em expandir para marketplaces?
CM: Não. Nós não vendemos commodities. Eu não vendo soja; eu vendo uma história bonita para contar. Eu preciso ter um lugar para contar minha história porque as outras marcas só vendem óculos escuros, então são meio que commodities. No nosso caso, não.
NV: Quais são os planos da Chilli Beans para expansão internacional?
CM: A gente está hoje com quase cem lojas fora do Brasil. A ideia é pegar essas lojas que já existem e colocar mais adubo. Vou te dar um exemplo: a gente tem, por exemplo, 23 ou 24 lojas na Colômbia. A gente quer fortalecer a empresa nesse mercado e fazer crescer mais ainda. No Oriente Médio, a gente tem loja no Kuwait e vai agora abrir várias outras com o mesmo franqueado no Oriente Médio. A ideia é fortalecer as nossas master franquias fora do Brasil.
NV: Como a Chilli Beans tem melhorado a experiência do cliente dentro da loja e para além dela?
CM: A gente traz uma experiência diferente desde sempre. O consumidor, quando não conhece e entra na Chilli Beans, percebe que é uma experiência muito diferente, pelo fato de ele ter os óculos todos à sua disposição sem precisar pedir para o vendedor; você pode brincar como se estivesse em casa… Dez modelos novos toda semana. Os vendedores têm uma personalidade diferente, na verdade uma personalidade deles, de serem quem quiserem. A gente respeita muito isso aqui dentro, essa diversidade. Tudo isso é muito importante.
NV: Como a Chilli Beans tem trabalhado essa pauta da diversidade?
CM: Primeiramente, eu agradeço por você ter perguntado sobre diversidade. Aqui, a gente nunca julgou aparência ou religião, mas se o ser humano quer crescer como profissional. Foi assim que a gente criou um bando de malucos apaixonados que tatua a marca na pele. E é muito louco porque o que se fala hoje a gente já faz há 21 anos. As pessoas nem pegavam o currículo de um tatuado, muitas vezes de um homossexual. Infelizmente, isso continua acontecendo até hoje. As coisas não mudaram tanto e na minha opinião existe uma demagogia por aí. A realidade é que o mundo não mudou tanto. Mas a gente exercita isso. A gente comemora e celebra a diversidade. A gente tem muito orgulho e não é uma coisa artificial, é uma coisa do coração, é verdadeira. Ninguém falou para a gente fazer. Eu costumo falar que sou daltônico, não costumo ver cor. A única coisa que pega para mim é o olhar. De resto, eu respeito o ser humano do jeito que ele é.
NV: Ainda sobre experiência, qual é a ideia de incluir consumidores no navio da Chilli Beans, que antes era reservado para a convenção da marca?
CM: Tem muita convenção chata no mercado, em que os caras são obrigados a ir, os franqueados escutando um monte de gente falando e mostrando planilha. Contratei o diretor artístico do Cirque du Soleil e ele me ajudou a mudar de convenção para um negócio chamado superdose, que virou um show. Aí a gente foi para o navio, que virou uma experiência muito interessante. E, agora, resumindo, virou um produto, que é para o consumidor final. Este ano serão os 25 melhores DJs do País e alguns americanos, além da Iza, do Marcelo D2 e da Maria Gadú. O Paulo Borges, do São Paulo Fashion Week, está fazendo toda a parte de moda. Assim virou o maior coletivo da América do Sul em alto-mar. Quando se fala “coletivo” é muito mais do que tudo isso. Esse coletivo engloba a liberdade de expressão, a música, a moda, a arte. Tudo em três dias dentro de um navio. Virou um produto que está totalmente lotado, já vendeu tudo dois meses antes, graças a Deus, e a gente está muito contente e com frio na barriga porque daqui a pouco vamos entrar no navio.
Fonte: Novarejo