Você entra no mercado, e o dono já sabe o que te oferecer, afinal você é um cliente antigo. Essa relação de fidelidade em breve vai ser ditada por um algoritmo repleto de dados sobre os nossos desejos e necessidades.
Isso significa que se você compra sempre comida de gato não verá nenhum produto para cães na seção de suprimentos para animais de estimação; petiscos tentadores não serão exibidos para uma pessoa que estiver de dieta; e alguém com alergias alimentares será alertado sobre cada item que contenha o ingrediente indutor de reação.
“Nós conhecemos você. Você confia na gente. Esta pode ser uma relação de mão dupla”, disse à Bloomberg Clodagh Moriarty, diretora digital da Sainsbury, um supermercado britânico que já aderiu à tecnologia.
Claro, isso tem um custo. As empresas saberão tudo sobre a sua vida: seus gostos, sua saúde, seus hábitos, quantas pessoas tem na sua família e mais um pouco. Uma quantidade cada vez maior de informações é acumulada cada vez que você passa pelo caixa. E já sabemos bem o que acontece quando essa riqueza de dados cai na mão de certas pessoas.
Mas, tirando esse “mero detalhe”, as vantagens práticas são muitas.
A intenção dos varejistas ao usar algoritmos é personalizar ao máximo a experiência de compra. Programas de fidelidade de supermercados existem há muito tempo, mas, com a ajuda de sofisticadas análises de dados, eles estão se tornando uma linha direta para a mente dos clientes.
Na Inglaterra, a rede de supermercado virtual Ocado usa a tecnologia de aprendizagem de máquina para te conhecer tão bem a ponto de saber preencher antecipadamente um carrinho com todos os itens que você provavelmente compraria.
“Em vez do mercadinho local, que tem essa inteligência e esse conhecimento, são algoritmos e aprendizagem de máquina”, disse o diretor de tecnologia da Ocado, Paul Clarke.
Mas, além dos mantimentos, a Ocado fornece uma grande quantidade de dados de clientes para as empresas em sua plataforma. Essas empresas poderão ver não apenas o que seus consumidores compraram, mas também o que eles selecionaram e não compraram, a ordem em que os itens foram adicionados ao carrinho e quanto tempo a compra demorou.
Os consumidores que estiverem preocupados com isso, podem solicitar uma cópia de todos os dados pessoais que um varejista tem sobre eles. Podem também dar ou vender esses dados para outra empresa. Pela nova lei europeia de dados, as companhias têm a obrigação de fornecer os dados pessoais aos clientes –vale para a União Europeia, mas clientes de outros lugares do mundo também podem solicitá-los.
A inteligência artificial e o aprendizado de máquina também invadem o estoque. A Ocado, por exemplo, opera armazéns com exércitos de robôs, assim como já fazem empresas como a Amazon.
Já a Kroger, maior rede de supermercados dos EUA, testa “prateleiras digitais” que mostram anúncios (que podem até ser trailers de filmes) e alteram preços automaticamente, além de terem sensores que monitoram os produtos e ajudam o público a passar mais rápido pelos corredores –quem usa o aplicativo da rede é guiado para encontrar os itens de sua lista de compras e a prateleira digital mostra um ícone personalizado abaixo do produto escolhido quando você chega até ele.
No teto, há dispositivos que processam dados e monitoram itens que faltam. Sensores alertam funcionários se a temperatura das geladeiras esquentar.
As prateleiras inteligentes acendem e ajudam funcionários a recolher itens encomendados pelo serviço online que permite ao consumidor receber as compras no estacionamento da loja. Segundo as empresas, esse sistema reduz pela metade o tempo gasto para processar uma encomenda.
Assim como a britânica, a rede americana pretende ajustar produtos e anúncios a preferências dos usuários, como alimentos sem glúten, se tiver permissão.
O software de inteligência artificial, da Microsoft, prevê idade e sexo do consumidor, ajudando empresas como Procter & Gamble, PepsiCo e Kraft Heinz a adaptar anúncios a perfis específicos.
A empresa espera lançar o sistema baseado em nuvem desenvolvido com a Microsoft em todas as suas 2.780 lojas, e também planeja vender a tecnologia para outras varejistas, criando uma nova fonte de receita, com margem de lucro maior do que a obtida na venda de alimentos, algo em torno de US$ 400 milhões adicionais em lucro operacional até o fim de 2020.
Sim, dados são preciosos.
Fonte: UOL