O Walmart vai mudar as suas 120 lojas de supermercados no Brasil nos próximos quatro anos, em um projeto batizado internamente de “reinvention”. O plano envolve investimentos de R$ 500 milhões e o fim das marcas Mercadorama, Nacional e Bompreço. Para substituí-las, uma nova marca será trazida ao país, o Walmart Supermercados, que terá na fachada as cores verde e amarela – baseada no modelo da rede de vizinhança “Walmart Neighborhood Market”, dos Estados Unidos.
É o segundo movimento anunciado pelo grupo em um ano para tentar colocar o negócio em outro patamar no país – o faturamento da subsidiária está praticamente estagnado há três anos. Terceiro maior grupo de varejo alimentar do Brasil, o Walmart anunciou em 2016 um projeto de reformulação de seus 130 hipermercados – na mesma linha do plano para supermercados – com investimentos de R$ 1 bilhão e duração de três anos.
Segundo Bernardo Perloiro, vice-presidente de operações, comercial e marketing do Walmart no país, aquilo que a empresa entrega ao cliente, o que chama de “proposta de valor” não estava “clara, uniforme e nem tão padronizada”. Além disso, há uma preocupação em melhorar a eficiência e produtividade das lojas (a venda por metro quadrado ficou estável em 2016), com reduções de custos.
Para finalizar as 250 reaberturas de hipermercados e supermercados até 2021, serão cerca de 60 reformas ao ano, em média. Para 2018, o plano prevê 50 lojas renovadas, dos dois formatos.
Ao fim desse processo, deve sobrar a metade do total de marcas que o grupo opera hoje no Brasil, contribuindo para uma simplificação das estruturas. Até o momento, são nove: Mercadorama, Nacional, BIG, Bompreço, Hiper Bompreço, Walmart, TodoDia, Maxxi e Sam’s Club. Sobrarão quatro marcas: Walmart, TodoDia, Maxxi e Sam’s Club.
A empresa fechou 2016 com vendas brutas de R$ 29,4 bilhões, 0,4% superior a 2015 – o setor se expandiu 10,4%, segundo a associação dos supermercados.
O projeto envolve os formatos com os quais o grupo tem tido mais dificuldades há anos. Pelo plano para os supermercados, quatro lojas reformadas devem ser reabertas até o fim de 2107. Na próxima semana ocorrerá a primeira inauguração, em Curitiba, de um Mercadorama transformado em Walmart Supermercados. Ainda será reinaugurada outra unidade que hoje tem a bandeira Mercadorama em Curitiba e duas lojas Bompreço em Recife. O investimento médio por loja está na faixa de R$ 4 milhões, um pouco menos da metade do gasto num novo supermercado padrão. Parte dos recursos vem da matriz.
No novo modelo, o consumidor entrará na loja pela área de frutas, legumes e verduras, que será expandida. Esse é o segmento que gera mais tráfego e o principal foco de competição entre supermercados. O espaço para padaria e refeições rápidas também deve crescer. Isso ajuda a ampliar a área de itens com maior margem de lucro.
Além disso, certas atividades foram terceirizadas, como a produção de pão, que será comprado pré-pronto. Isso reduz gastos com equipamentos e pessoal e contribui para ampliar rentabilidade. A empresa não informa índices de margem, mas até ano passado, havia trimestres com alta e outros com queda no lucro operacional.
Os corredores serão um pouco maiores e, em compensação, o restante da loja será reduzido com a retirada de marcas em certas categorias. “Tem que dar escolha ao cliente, mas não faz sentido a redundância. Precisamos ser mais assertivos na escolha do portfólio”, diz Perloiro. “A ideia é ter um projeto mais escalável e rentável”.
No caso dos hipermercados, o plano anunciado há um ano envolvia 130 reformas até o fim de 2019. As bandeiras de BIG e Bompreço, do Sul e Nordeste, estão sendo transformadas em Walmart. Foram três reaberturas em 2016. Outras seis ocorreram entre janeiro e outubro e mais cinco devem estão previstas até início de dezembro. Isso equivale, a 14 unidades, pouco mais de 10% do total.
Questionado sobre o fato de iniciarem outro projeto num momento de avanço lento nos hipermercados, Perloiro diz que o grupo “precisava ter confiança” para continuar com o plano. “Levamos um ano para modificar o que não deu certo e ver a aceitação. O resultado está dois dígitos acima do esperado. Agora temos que ganhar tração.” Perloiro descarta a possibilidade de ter de aumentar o prazo de implementação.
Neste ano, o grupo fechou dez lojas e deve abrir duas no país. No fim de 2015, havia anunciado o fechamento de 60, um dos maiores cortes recentes do grupo. Hoje são 471 pontos e há três anos eram cerca de 540. “[As unidades fechadas] São lojas com performance baixa dentro de uma avaliação constante do portfólio. Temos que ter coragem o suficiente para não empurrar com a barriga quando a decisão tem que ser corajosa”, diz.
Sobre a expectativa de que, concluída essa fase de ajustes, o grupo retome a capacidade de abertura – o rival Carrefour em 12 meses abriu cerca de 70 lojas – Perloiro prefere não falar em prazos para isso. E diz que, nos últimos anos, a empresa tem investido cerca de R$ 1 bilhão no Brasil (em tecnologia, manutenção, reformas). “Talvez em outro momento possamos falar em abrir mais lojas.”
Sobre desempenho neste ano, o executivo diz que a empresa está “moderadamente otimista” com o país, mas ressalta os efeitos negativos da deflação de preços de alimentos. “Penalizou porque foi uma deflação prolongada. Você não vai comprar três quilos de batata porque o preço despencou. Então, o volume não sobe. É muito mais difícil gerenciar deflação do que inflação. Não há muito o que fazer”. O Walmart acredita que essa pressão da deflação diminui um pouco no quarto trimestre. A companhia não divulga mais as vendas trimestrais no Brasil em seu relatório de resultados global.
Perloiro diz ainda que a empresa sentiu uma piora no índice chamado “redução de preços temporária”, que mede ritmo de promoções. “Aumentou muito e não dá para a gente ficar totalmente fora”, diz ele. A empresa tem política de preços mais estável no país, seguindo estratégia mundial, chamada de “preço baixo todo dia”.
Fonte: Valor Econômico