O presidente do Grupo Pão de Açúcar (GPA), Ronaldo Iabrudi, disse nesta quinta-feira, em teleconferência com analistas, que a empresa está adotando uma “postura, uma atitude mais defensiva” para adaptar seu negócio à realidade do país, de maneira a criar bases para o crescimento futuro. Iabrudi, no entanto, não detalhou o assunto.
Segundo o executivo, a companhia tem registrado ganhos de participação de mercado em todas as bandeiras e trabalhado com uma alocação mais “criteriosa de investimentos”, com “busca contínua de ganhos de eficiência” e ampliação de sinergias nas áreas em que isso é possível.
Em relação aos investimentos, os gastos em bens de capital (capex) informados pela empresa de abril a junho foram quase 40% menores no comparativo anual, atingindo R$ 293 milhões.
Na avaliação do presidente do grupo, há uma “clara tendência para crescimento nas vendas” das bandeiras da empresa, com ganhos de participação de mercado no Extra, a cadeia de varejo que apresenta mais dificuldades de expansão nos últimos trimestres, e alvo de uma reestruturação. Dados do balanço mostram que, de abril a junho, as vendas líquidas das redes de supermercados e hipermercados Extra caíram 5,5%.
O diretor financeiro do grupo, Christophe Hidalgo, disse que a entrada de um crédito tributário num patamar acima da média no segundo trimestre, assim como a venda de um mix de produtos com maior rentabilidade, beneficiaram margem bruta, que passou de 24% para 25,4% no segundo trimestre, no comparativo anual. Boa parte desse efeito veio da Via Varejo, por causa dos créditos tributários. “Excluindo esses fatores, a margem bruta seria equivalente ao primeiro trimestre”, disse ele.
De abril a junho, empresa fechou 2 mil vagas de trabalho e Hidalgo disse que número chega a 3,7 mil nos últimos 12 meses. Segundo exposição de Hidalgo aos analistas, a relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, da sigla em inglês) do GPA quadruplicou e atingiu 1,7 vez no segundo trimestre.
Belmiro Gomes, responsável pela operação de Assaí, disse que há dez lojas em construção da rede e duas conversões de Extra para Assaí.
Alavancagem
Analistas levantaram questionamentos em relação ao nível de alavancagem do GPA, que cresceu no segundo trimestre, e sobre resultados com a rede Extra, que apresentou queda de 5,5% nas vendas líquidas de abril a junho.
Em relação ao endividamento, a empresa informou que a relação entre dívida líquida e o Ebitda passou de 0,38 vezes em junho de 2015 para 1,71 vezes em junho de 2016. Há efeito da piora no endividamento da Cnova, controlada pelo GPA, nos números.
“O endividamento da Cnova tem se deteriorado e isso não significa que o nível de dívida seja avaliado como excessivo, mesmo porque há um período de juros elevados e isso tem impacto”, disse Christophe Hidalgo, diretor vice-presidente de finanças do GPA. “Nosso nível de alavancagem no fim do primeiro semestre pode ser melhorado aumentando eficiência no ‘working capital’ e no momento o importante é mantermos a capacidade de liquidez e isso temos.”
Houve um aumento de R$ 1,6 bilhão da dívida líquida em relação a junho de 2015 refletindo, principalmente, o crescimento da dívida da Cnova em aproximadamente R$ 1,1 bilhão e pagamentos específicos em supermercados e hipermercados de aproximadamente R$ 400 milhões.
A respeito da rede Extra, a empresa está há mais de um ano em um processo de reestruturação dos negócios, especialmente em hipermercados, mas os dados do segundo trimestre mostram queda de 5,5% nas vendas líquidas, para hipermercados e supermercados. O GPA tem reforçado que tem ocorrido uma melhora nos números do Extra, mas analistas questionaram, então, a razão da queda de 5,5%.
Até o início do ano, a empresa divulgava separadamente as vendas dos hipermercados, mas no último trimestre passou a apresentar as vendas do Extra somando hipermercados e supermercados.
Sobre a queda de 5,5% de abril a junho, Luis Moreno, diretor vice-presidente de negócios da divisão de varejo, disse que nesta taxa está incluído o fechamento de dois hipermercados Extra, a serem convertidos em Assaí, e há cinco supermercados a menos em operação neste ano também, disse ele. Além disso, a queda reflete efeito calendário (a Páscoa em 2015 no segundo trimestre, portanto a base é forte).
Ao se considerar todo o primeiro semestre, portanto, tirando o efeito calendário da Páscoa, as vendas da bandeira Extra também caem, 4,2%. A empresa rebate as informações e diz que, em junho, as vendas líquidas das “mesmas lojas” (em operação há mais de 12 meses) dos hipermercados em alimentos subiu 9,4%.
Moreno admitiu, porém, que empresa não está “satisfeita” com vendas de itens não alimentares, como vestuário. Questionado se a política implementada para recuperar resultados no Extra se assemelha ao “preço baixo todo dia” do Walmart, Moreno negou. O Walmart possui preços baixos mais estáveis por períodos mais longos. Ele disse que não é cópia do rival, e sim um “high and low” (ação focada em promoções), mas com parceria de fornecedores.
O GPA admitiu ainda que pode usar novamente novos créditos fiscais nos próximos trimestres, o que tem efeito positivo nos resultados.