O ajuste nas contas externas em 2015 foi um dos maiores já registrados nas estatísticas do Banco Central compiladas desde 1947. O déficit em transações correntes caiu de US$ 104,181 bilhões para US$ 58,942 bilhões, queda de 43%. Em proporção do Produto Interno Bruto (PIB) saiu de 4,31% para 3,32%. Ajustes dessa magnitude só foram vistos e momentos históricos de forte reorientação macroeconômica ou graves crises como 1998, 1994 e 1982. A previsão é que o ajuste continue em 2016, mas com menor intensidade. A projeção do próprio BC é de déficit de US$ 41 bilhões, ou 2,69% do PIB.
A valorização do dólar (quase 50%) e a retração da economia explicam a redução de mais de 30% em quase todas as linhas do balanço externo (serviços, viagens e remessas de lucros e dividendos.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, diz que o câmbio é a primeira linha de defesa das contas externas e isso efetivamente ocorreu. “O regime de câmbio flutuante, não tenho dúvida, se portou como primeira linha de defesa.” Outro aspecto fundamental, segundo Maciel, é a composição do passivo externo, que agora é composto por investimentos e não mais por dívidas como nos anos 90. A implicação disso, segundo ele, é que em períodos de conjuntura adversa, como crises externas, a conta de juros não é mais um gargalo que se eleva e implica em um ciclo vicioso.
Hoje, como o passivo é de investimentos, a contraparte são os lucros e dividendos, que é uma rubrica pró-cíclica. Em momentos de bonança o fluxo cresce e não causa adversidade, em momentos adversos, se retrai.
O financiamento do déficit também voltou a ter perfil mais saudável, sendo coberto integralmente pelo Investimento Direto no País (IDP), o que não acontecia desde 2012. O IDP somou US$ 75,075 bilhões no ano passado, ou 3,94% do PIB. O BC previa US$ 66 bilhões. Em 2014, o IDP foi de US$ 96,895 bilhões, ou 4,01% do produto.
A redução do déficit do ano ficou melhor que o previsto pelo BC (US$ 62 bilhões) e pelo mercado (US$ 63 bilhões) resultado dos dados de dezembro, que surpreenderam, com déficit de US$ 2,460 bilhões, ante US$ 11,654 bilhões um ano antes. Aqui a balança comercial explica boa parte do ajuste, com superávit de US$ 6,068 bilhões, em comparação com déficit de US$ 8 milhões um ano antes.
Surpresa positiva também veio com o IDP de dezembro que somou US$ 15,211 bilhões – o próprio BC falava em US$ 6,1 bilhões. Aqui, chama atenção um ingresso de mais de US$ 2 bilhões para o setor elétrico, que pode estar relacionado aos leilões realizados no fim do ano passado. Os dados também captam a série de compras de empresas em diversos setores anunciados no encerramento de 2015. Os números reforçam a avaliação de que o Brasil “está barato” para os investidores internacionais.
No ano, a balança comercial apontou superávit de US$ 17,670 bilhões, revertendo déficit de US$ 6,629 bilhões um ano antes. Para este ano, o BC estima um superávit de US$ 30 bilhões.
Na balança de serviços, o déficit cedeu 23%, para US$ 36,978 bilhões. Aqui, a conta de viagens teve um forte ajuste, com o dólar caro e a menor renda fazendo o gasto do brasileiro no exterior cair 32%, de US$ 25,567 bilhões em 2014 para US$ 17,357 bilhões. Descontando o que os estrangeiros deixaram por aqui, US$ 5,844 bilhões, a rubrica fechou o ano deficitária em US$ 11,513 bilhões, menor déficit desde 2010, após US$ 18,724 bilhões em 2014. Parciais de janeiro, até o dia 22, mostram déficit de US$ 180 milhões.
Menor lucratividade e dólar valorizado resultaram em redução de 33% nas remessas de lucros e dividendos, que fecharam o ano em US$ 20,793 bilhões. Em dezembro, as saídas nessa conta foram de US$ 3,965 bilhões, contra US$ 5,228 bilhões um ano antes. Com outra dinâmica, a conta de juros fechou em US$ 21,913 bilhões, contra US$ 21,340 bilhões em 2014. Para 2016, o BC estima remessas de US$ 20 bilhões e pagamento de juros de US$ 20,9 bilhões.
Os investimentos em carteira, principalmente os voltados à renda fixa, parecem captar a perda do grau de investimento. Os ingressos caíram a US$ 16,296 bilhões em 2015, contra US$ 27,068 bilhões em 2014 e US$ 30,957 bilhões em 2013. Para este ano, o BC estima modestos US$ 6 bilhões, mostrando que juro alto não é a única variável considerada pelo investidor estrangeiro.
Na bolsa, as entradas para compra de ações somaram US$ 6,528 bilhões, menor valor da série iniciada em 2010, depois de US$ 10,872 bilhões em 2014. As parciais de janeiro, até dia 22, mostram saída de US$ 1,094 bilhão da renda fixa e perda de US$ 269 milhões em ações. Para o mês de janeiro de 2016, a projeção do BC é de déficit em conta corrente de US$ 6,7 bilhões, com IDP de US$ 4,6 bilhões. Até o dia 22, o IDP já mostrava entrada de US$ 3,6 bilhões.
Valor Econômico – SP