A expressiva queda nas consultas de financiamento feitas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sinalizam que o banco poderá até ter mais recursos para emprestar, como já informou o governo, mas pairam dúvidas sobre qual será a demanda por eles. As consultas – que funcionam como um termômetro do interesse dos empresários por novos projetos e investimentos – tiveram em 2015 o mais forte recuo desde 1996, de 47%, na média, para R$ 124,6 bilhões.
O tombo foi puxado pelos segmento de comércio e serviços, no qual as consultas despencaram 65%, e pelo setor de infraestrutura, que mostrou recuo de 55%. No caso da indústria, as consultas caíram 20% entre 2014 e 2015, para R$ 38,4 bilhões.
A recessão pela qual passa a economia brasileira pesou, mas foram, sobretudo, os efeitos colaterais da Operação Lava-Jato e da crise na Petrobras que paralisaram o setor de infraestrutura, que tiveram forte influência no processo de desaceleração da busca por crédito. As aplicações em infraestrutura são muito relevantes para a taxa de investimento do país, que deve sofrer abalo significativo em 2015 e 2016. As consultas do segmento caíram para R$ 47,8 bilhões, o recuo mais forte em 19 anos.
Ontem, o banco também anunciou que os desembolsos recuaram 28% entre 2014 e 2015, para R$ 135,9 bilhões. Essa queda – que é significativa, mas mais branda na comparação com a das consultas -, ainda reflete projetos que foram iniciados antes da crise na economia atingir contornos mais agudos, em meados do ano passado. Isso porque entre o primeiro passo de pedido de financiamento até a liberação do crédito há um espaço de cerca de oito meses, segundo informou o superintendente de Planejamento do banco, Claudio Leal.
Na prática, reconheceu Leal, a Operação Lava-Jato e o cenário negativo na Petrobras levaram a uma ‘freada’ no interesse por investir de construtoras e fornecedores da petroleira, o que acabou por afetar os pedidos de consulta ao BNDES relacionados aos campos da infraestrutura e da indústria, respectivamente os de maior peso na composição dos empréstimos do banco.
Ao ser questionado sobre a demanda por crédito neste ano, Leal preferiu não dizer se os desembolsos para 2016 ficarão acima ou abaixo do ano passado. O executivo acrescentou ainda que a composição de recursos do banco para 2016 ainda está em processo de discussão.
Fatores como o fim do Programa de Sustentação de Investimento (PSI) – criado em 2009 para socorrer as empresas durante a crise econômica global, e que mostrou recuo de 56% entre 2014 e 2015, para R$ 33,25 bilhões- e o menor acesso a aportes do Tesouro Nacional serão levados em consideração.
“[O funding] vai se dar em novas bases, do ponto de vista do banco. Toda a calibragem e todas as condições de apoio que o banco venha a ter não vão mais ter taxas de PSI e nem aportes de Tesouro”, disse Leal.
O executivo reconhece que o quadro negativo das consultas sinaliza continuidade de trajetória pouco favorável para a taxa de investimento na economia neste começo de ano. Os mais recentes resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, indicador de investimentos) despencou 15% no terceiro trimestre, frente a igual trimestre do ano anterior – a maior queda da série histórica do indicador.
“A primeira visão que temos em 2016 é que o ano ainda carrega a incerteza de 2015″, diz Leal. Não poderia ser diferente. Por outro lado, o banco está aguardando e observando ativamente a sinalizações possíveis de retomada de investimento.”
Para Leal, a meta da instituição este ano é localizar segmentos-chave que possam impulsionar os investimentos na economia em 2016, como os de apoio à exportação e segmentos de infraestrutura, como mobilidade urbana, iluminação pública e leilões de energia.
Segundo o superintendente, isso não significa que o BNDES deixará de considerar o andamento da conjuntura em suas decisões de alocação de crédito. “Temos que jogar, ao mesmo tempo, na defesa e no ataque. ”
Valor Econômico – SP