10/12/2015
Com renda comprometida, média de gasto com presentes deverá ficar 1,8% menor segundo pesquisa da Fecomércio
O Papai Noel não deve ter muito trabalho carregando os presentes de Natal deste ano, pelo menos no Brasil. A mistura de insegurança econômica, pelo medo de perder o emprego, e o alto nível de endividamento dos catarinenses, reduziu a intenção de consumo das famílias catarinenses. A festividade promete ser de poucos e pequenos presentes.
Segundo levantamento da Fecomércio-SC, o catarinense pretende gastar R$ 419,18 em média, uma queda de 1,8% na comparação com 2014, quando o valor foi de R$ 426,99. Para se ter uma ideia, vamos tomar como base uma família imaginária, os Souza. A Adriana e o Júlio, pais do Arthur, tem juntos uma renda de R$ 3.735, a média salarial do Estado.
Todos os meses, eles têm de pagar R$ 1.210 em uma dívida do cartão de crédito. Parecia uma boa ideia não pagar a fatura toda naqueles três meses em que o Júlio ficou sem emprego. Mas agora o casal sabe que está pagando 368% em juros anuais. E a dívida de meses atrás agora está quase no dobro do valor. A conta custa mais ou menos 30% do que eles recebem todos os meses.
O GRANDE PRESENTE É PAGAR AS DÍVIDAS
Somando o gasto com o aluguel do apartamento, a gasolina, as compras semanais no supermercado, sobra pouco para o presente de Natal. No ano passado, eles pretendiam gastar perto de R$ 430 com todos os presentes. Ao ver os preços nas lojas, decidiram reduzir: nas notas fiscais, o valor final fechou em R$ 378, a média de gasto do catarinense segundo a Fecomércio-SC.
Quem está endividado dá uma grande presente para si e para a família ao quitar o que está devendo. Essa questão financeira é uma das principais causas de separação entre casais explica o especialista em finanças pessoas Jurandir Sell Macedo.
Macedo é doutor em finanças comportamentais, consultor de Finanças Pessoais do Itaú Unibanco e um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Planejadores Financeiros. Mas lembra de uma coisa que não tem tanto a ver com sua área de estudo: o Natal tem um significado de simplicidade em sua origem, não o da distribuição de presentes.
Talvez, uma boa forma de presentear seja o esforço para reunir toda a família na data. Esses Souza da matéria não existem no mundo real. Mas, se existissem, estariam ligando agora para todos os parentes.
Acredito que o comportamento de gastos normal, sem exageros, é o ideal para enfrentar as festas natalinas e enfrentar o primeiro semestre de 2016 com razoável tranquilidade comenta o economista José Álvaro, do escritório de Santa Catarina do Departamento intersindical de estatística e estudos socioeconômicos (Dieese).
Segundo o levantamento da Fecomércio-SC, a maior parte dos entrevistados afirma que a sua situação financeira está pior neste ano do que na comparação com o anterior: 42,6% afirmaram estar com as contas mais complicadas. Em 2014, eram apenas 16,7% os entrevistados na mesma situação.
O Natal deste ano deve ter um gasto médio reduzido, com presentes mais baratos diz Luciano Córdova, economista da Fecomércio-SC.
Fatores para uma festa mais magra
ENDIVIDAMENTO RECORDE ENTRE AS FAMÍLIAS CATARINENSES
Pesquisa realizada pela Fecomércio-SC em novembro mostra que 61,4% das famílias catarinenses estão endividadas. Pelo segundo mês seguido, o número é o maior desde o início das medições por parte da entidade, em 2013. O percentual também deu um salto em relação ao mesmo mês no ano passado, quando estava em 53%.
Há também um problema adicional: 11,3% dos endividados afirmam que não terão condições de pagar o que estão devendo. Na análise da entidade, a questão é complexa, mas ainda está em situação melhor do que em outros Estados porque a perspectiva de emprego e renda se manteve estável em Santa Catarina.
O consumidor nos últimos meses tem preferido pagar dívidas a comprar novas coisas. E a tendência de usar o 13o para pagar contas atrasadas deve ser maior neste ano disse o economista da Fecomércio-SC Luciano Córdova.
DÁ PARA DEIXAR O NATAL MAIS BARATO
Entre as possibilidades para fazer o Natal não pesar no orçamento da família por causa da ceia está pesquisar bem os preços nos supermercados. Levantamento do Procon estadual mostrou que, em uma mesma seleção de produtos, o jantar pode custar de R$ 140 até R$ 218, uma diferença de 55%. O ideal é não comprar tudo logo na primeira vez.
Você não perde o brilho da ceia por fazer uma pesquisa de preço e um bom planejamento diz Elizabete Fernandes, coordenadora do Procon de Santa Catarina, destacando que os preços dos produtos chegava a variar 50%, 75%, 90%, até um máximo de 120%.
Jurandir Sell também tem um dica que pode ser útil. Ele lembra que quem tem alguma habilidade, como cozinhar bem, saber fazer crochê ou outro talento com artesanato, pode elaborar os presentes que vai distribuir, mesmo que seja um cartão bem decorado feito à mão.
COMÉRCIO NÃO ESPERA GRANDE VOLUME DE COMPRAS
O índice de intenção de consumo das famílias (ICF) é outro indicador que aponta para um Natal de poucas vendas no final deste ano. Na comparação com outubro, caiu 4,4%. Se a comparação for com novembro do ano passado, o índice despenca e mostra uma retração de 25,8%.
Como a gente é otimista, sempre espera que não seja tão grave assim. Mas a situação de fato inspira muito cuidado. O comércio vai ter que administrar bem nível de estoques e o mix de produtos para não ficar com muito produto encalhado nas prateleiras destaca o presidente da Fecomércio-SC, Bruno Breithaupt.
Na comparação com o Brasil, os percentuais de Santa Catarina são mais preocupantes do que os do país para o volume de vendas.
O índice de confiança do consumidor, calculado pela FGV, viu a intenção de consumo aumentar entre outubro e novembro, subiu 1,3%, e tem uma queda de 19,3% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Diário Catarinense – SC