19/11/2015 12:13 –
Na Na Black Friday da crise, a megaliquidação do comércio varejista marcada para o dia 27 deste mês, o brasileiro está cauteloso e mais racional. Pretende gastar menos do que no ano passado e desconfia de grandes porcentuais de descontos. Apesar disso, a intenção de ir às compras da média da população ainda é elevada, na casa de 70%, conforme revelam duas pesquisas feitas por consultorias diferentes.Isso significa que o varejo vai ter de oferecer boas ofertas e descontos reais para conseguir superar neste ano a receita recorde de R$ 1,082 bilhão obtida na semana do evento em 2014.
A crise bateu nas expectativas da população em relação à Black Friday, afirma Valéria Rodrigues, presidente da consultoria Officina Sophia e responsável pela pesquisa feita em parceria com a EC Global. Foram ouvidos no início deste mês mil pessoas no País para saber o que elas esperam da megaliquidação. A enquete aponta que o gasto médio será menor: R$ 760, ante R$ 800 em 2014.
Valéria ressalta que há uma queda nominal de 5% no gasto. Se for considerada a inflação do período, a retração na intenção do desembolso passa de 10%. É um recuo considerável, especialmente no momento em que o varejo faz de tudo para reverter a queda nas vendas acumulada no ano e se livrar dos estoques indesejados.
A Black Friday deste ano será modesta, diz Gisela Pougy, diretora de Operações e Varejo da consultoria GFK. Ela faz essa previsão com base numa pesquisa realizada pela consultoria no início deste mês com 500 consumidores. Na enquete, foi perguntado o que o consumidor faria se tivesse R$ 5 mil para gastar na Black Friday. O resultado foi coerente com períodos de vacas magras. A maioria respondeu que pouparia cerca de R$ 2 mil e destinaria o restante a compras.
Colocamos uma cifra alta exatamente para ver o comportamento do consumidor, diz Gisela, lembrando que se fosse em outra época, de crescimento econômico, provavelmente a fatia destinada à poupança seria bem menor.
Desconto. Além de estar disposto a gastar menos, o brasileiro ficou mais realista em relação ao desconto. Neste ano, menos da metade dos entrevistados (47%) espera obter abatimento de 70% ou mais no preço da mercadoria, aponta a pesquisa da Officina Sophia. No ano passado, 56% dos entrevistados esperavam descontos nessa faixa.
Dois fatores podem estar influenciando a expectativa do consumidor nesse quesito. Um deles é a própria inflação, hoje na casa de 10%, que acaba reduzindo as chances de grandes abatimentos. É que tanto lojistas como fabricantes estão com custos pressionados.
O outro fator é a própria imagem da Black Friday que continua arranhada, apesar de todo o esforço de associações de varejistas e órgãos de defesa do consumidor para fazer com que o evento tenha informações transparentes. Em edições anteriores, muitos lojistas criaram descontos fictícios: aumentaram o preço semanas antes da data da megaliquidação para reduzi-lo no dia do evento. Na época, a Black Friday chegou a ser chamada de Black Fraude.
Valéria observa que 62% dos entrevistados consideram que as promoções em 2014 foram pouco vantajosas. Segundo ela, esse resultado se deve a problemas ocorridos logo nos primeiros anos do evento em 2015 a Black Friday está na sexta edição e também a comparações com descontos da megaliquidação dos Estados Unidos, que de fato são de 70%.
Antecipação. A cada ano, a Black Friday está tirando o brilho das vendas de Natal e dos saldões de janeiro. Em 2015 não deve não ser diferente. De acordo com a consultoria GFK, nos meses de novembro, dezembro e janeiro, a participação da megaliquidação no total das vendas nesses período que era de 29% em 2012, subiu para 31% em 2013 e atingiu 34% no ano passado. Em contrapartida, as fatias do Natal e das liquidações de janeiro nas vendas encolheram.
Pesquisa da Officina Sophia mostra que, neste ano, 69% dos entrevistados afirmaram que pretendem antecipar as compras de Natal para Black Friday. Segundo Valéria, se a intenção se confirmar, esse movimento pode reduzir ainda mais o faturamento do Natal.
Pode ser que ocorra uma antecipação maior este ano das compras de Natal. Mas como o volume de vendas neste ano é muito menor por causa da crise, vai ser difícil crescer na Black Friday, diz Gisela.
Black Friday já começou. Faz mais de um mês que o arquiteto Leonardo Correia, de 25 anos, está acompanhando os preços de um modelo de telefone celular, de um violão e de um videogame que ele pretende comprar na Black Friday. O celular já está uns R$ 100 mais em conta desde que ele iniciou a pesquisa. O preço do violão subiu R$ 150. E do vídeo game, que custava cerca de R$ 1.500, agora sai por R$ 2.200. A oscilação de preço do vídeo game foi a mais absurda, diz o arquiteto. Dos três produtos, ele deve comprar só o celular. O meu quebrou e estou sem faz um mês e meio, conta.
Correia faz parte de um time de consumidores que, escaldados com os descontos fictícios que houve no passado, não querem ser novamente enganados. Pesquisa da Officina Sophia mostra que a Black Friday já começou para a maioria dos entrevistados: 65% deles estão pesquisando preços para ter garantias de que farão bons negócios.
Faz mais ou menos umas três semanas que estou acompanhando os preços, diz o professor Jairo Oliveira, de 27 anos. Na megaliquidação deste ano, ele quer comprar um par de tênis, um controle para o videogame e um presente de Natal para a namorada.
No site da fabricante, o par de tênis sai por R$ 350; na loja custava R$ 240 e agora já está por R$ 200. Acho que vou conseguir comprar na Black Friday gastando entre R$ 180 e R$ 200, prevê. Quanto ao controle para o videogame, Oliveira desistiu. Vou fugir do preço brasileiro e comprar o produto na Black Friday americana, conta.
O professor tem um amigo que embarca para os Estados Unidos na semana que vem e vai comprar o item para ele lá. Oliveira diz que aqui o controle para vídeo game custa entre R$ 350 e R$ 380 nas lojas. Na rua 25 de Março, no centro de São Paulo, pode ser encontrado por R$ 250 e R$ 280. Nos Estados Unidos, meu amigo vai comprar o controle por R$ 150, que é o preço da Black Friday americana. Mesmo com o dólar a R$ 4, é mais negócio comprar lá.
Correia diz que a Black Friday daqui não é nada perto do evento dos Estados Unidos. Oliveira tem a mesma opinião: comparada com a americana, a Black Friday daqui chega a dar dó. Mas ele pondera que o evento no Brasil avançou muito. Melhoramos em relação à Back Friday de 2013 que vendia pelo metade do dobro do preço. Nos EUA, o preço é menor porque há mais concorrência, observa.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo
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