30/10/2015 às 05h00
Por Domingos Zaparolli | Para o Valor, de São Paulo
As franquias brasileiras vão entrar em uma nova e mais abrangente fase de expansão internacional. A aposta é de André Friedheim, diretor internacional da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Três são os fatores que justificam a aposta. A conjuntura do país, que favorece busca de alternativas no exterior, agora com um câmbio mais favorável. O amadurecimento do franchising nacional, que aprendeu com boas e más experiências recentes no exterior. E uma nova estratégia de apoio a internacionalização que está sendo desenvolvida em conjunto pela ABF e a Apex Brasil.
A ação conjunta prevê criar uma espécie de incubadora de franquias no exterior. A primeira será em Miami, nos Estados Unidos. A ideia é montar um escritório conjunto, nesse caso em um espaço já existente da Apex, no qual um grupo de franquias compartilhe as despesas iniciais, da secretária e contador a advogado e consultor. “É uma base, que permite ao empresário estruturar seu negócio, conhecer o mercado e definir estratégia e parceiros sem um grande desembolso”, diz Friedheim.
A ideia é reunir dez franquias em uma primeira experiência. “Ainda nem apresentamos formalmente a proposta na ABF e já temos mais de 35 interessados.”
A ABF e a Apex trabalham em conjunto há uma década, estimulando a internacionalização de franquias brasileiras por meio de participação em feiras, rodadas de contatos internacionais com potenciais parceiros e disponibilização de pesquisas mercadológicas.
Esse trabalho, segundo Friedheim, teve um papel fundamental na internacionalização da maioria das franquias brasileiras. Hoje são 106 marcas presentes em 53 países, sendo 96 com unidades franqueadas e 10 apenas por meio de exportações. “Nossa expectativa é que esse número chegue a 200 em cinco anos”, diz o executivo.
A primeira onda de internacionalização ocorreu nos anos 1990, mas nem todas experiências foram bem-sucedidas. Dois exemplos emblemáticos foram o da rede Amor aos Pedaços, na Flórida (EUA), e do Habib’s, que tinha um plano de 150 lojas no México, abriu seis, que fecharam depois de cinco anos.
“As redes se aventuram sem conhecer o mercado e os hábitos de consumo local”, diz Friedheim.
Mas também houve casos de sucesso, como o da Localiza, que iniciou sua internacionalização em 1992, quando o Brasil enfrentava uma crise política e econômica que culminou com o processo de impeachment do presidente Collor. “A presença no exterior evita a dependência excessiva de um único mercado. Sempre existe um país que está indo bem e nos permite crescer”, diz Bruno Andrade, diretor de franchising da rede.
É a situação atual, diz o executivo. A expansão dos negócios no exterior, É a situação atual, diz o executivo. A expansão dos negócios no exterior, principalmente na Colômbia, Argentina e Chile, foi de 23% em 2014 e no Brasil, de 9,7%. “Em 2015 a diferença deve ser maior.”
O franchising, diz Andrade, permite uma presença internacional sem que a empresa tenha que fazer grandes desembolsos com ativos no exterior. No caso da Localiza, todas as agências no exterior são franqueadas.
Em 2014, a companhia obteve um faturamento de R$ 3,9 bilhões. O principal negócio, a locação de veículos, é feita por uma rede de 552 agências que somam uma frota de 117,7 mil veículos. As agências franqueadas são 242, sendo 67 em sete países da América do Sul. A estratégia de expansão internacional é cautelosa. Andrade diz que a Localiza busca parceiros locais em cada país no qual opera. “Empresários que conhecem o mercado e as regras sob as quais atua. Nossa participação é oferecer o know-how do negócio”, diz.
A internacionalização da rede de depilação Depyl Action é recente e, como diz sua proprietária, a empresária Danyelle Van Straten, surgiu da oportunidade.
Há sete anos, uma cliente brasileira foi morar na Venezuela. Descobriu que não havia nenhuma clínica de depilação com tecnologia igual da rede brasileira. A Depyl Action tem um sistema com base em uma cera depilatória de desenvolvimento próprio. Por outro lado, percebeu que havia uma grande demanda reprimida. Hoje essa ex-cliente opera duas unidades da rede, uma em Maturín e outra em Lechería.
Danyelle diz que operar na Venezuela foi uma verdadeira graduação em internacionalização. Ele teve que aprender a lidar com uma grande burocracia para registrar a cera depilatória no país, aprender como abrir empresas e ainda enfrentar as dificuldades em atuar em um país que exerce um rígido controle sobre o câmbio e a remessa de divisas para o exterior.
“Hoje estamos preparados para atuar em qualquer país”, diz.
A Depyl Action possui uma rede de 94 lojas, das quais 91 franqueadas. No momento, finaliza um plano de expansão internacional, que deve contemplar num primeiro momento países das Américas. A meta não é pequena. Em uma década, a Depyl Action planeja se tornar referência mundial em depilação.
Valor Econômico – SP