Depois de oito quedas seguidas, o Índice de Confiança da Indústria (ICI), da Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu de 66 para 67,5 pontos entre setembro e outubro, alta de 2,3%. O aumento da confiança neste mês atingiu dez dos 14 principais segmentos acompanhados pela sondagem. Apesar da alta, o nível do indicador é ainda o segundo menor da série histórica iniciada em 1995 e está bem abaixo da média dos últimos cinco anos, de 96,2 pontos. Na comparação com o mesmo período do ano passado a queda ainda é forte, de 18,1%.
Além disso, o indicador da Situação Futura dos Negócios, que mede a confiança da indústria para os próximos seis meses, chegou a mínima histórica, de 65,5. “Há a sensação de que, por enquanto, não dava para piorar muito mais. Mas ninguém sabe como estará a situação política no ano que vem ou como a economia vai reagir ao ajuste”, diz o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Ibre/FGV, Aloisio Campelo Junior.
Nos cálculos do economista, a queda da produção da indústria de transformação deve ficar entre 8,5% e 9% neste ano. Esse recuo, no entanto, vem desacelerando e deve chegar perto de zero no último trimestre, podendo até haver um simbólico aumento na produção. Mas estará longe de reverter o quadro de boa parte do ano.
A situação difícil se reflete em diversos indicadores do setor, entre eles os estoques. A proporção de empresas com mais produtos do que o necessário saltou de 22% para 24,5% no último mês. No setor de duráveis, chegou a 62% – para o Ibre, o ideal seria algo em torno de 30%. As empresas de bens de capital, por sua vez, estão com estoques elevados em 56,1% dos casos. O Ibre também calcula o ideal como 30%. Para Campelo, “isso tem a ver com as contínuas frustrações de crescimento, a piora de cenários. A incerteza política, a sensação de que tudo pode acontecer, o nível de utilização da capacidade da indústria baixo, tudo isso influencia.”
Por outro lado, a indústria já começa a sentir os efeitos positivos do real desvalorizado, tanto dentro do Brasil quanto no exterior. O Nível de Demanda Externa está em 82,9 pontos, em uma escala que vai de zero a 200. Mesmo assim, o número é considerado positivo. “Em termos relativos está muito acima dos demais indicadores da sondagem”, diz Campelo.
O nível de demanda interna chegou a 55,7 em outubro, o mais baixo da série histórica. Mas Campelo crê que ele esteja se estabilizando, principalmente por causa da substituição das importações. “Com a retração do consumo das famílias, se não fosse a substituição de importações, esse número teria caído ainda mais”, afirma. “Se o dólar ficar estável na casa dos quatro reais no ano que vem, vamos perceber isso com mais clareza isso”, conclui.
Valor Econômico – SP